quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

EXCLUSIVO CONTACTO: Rádio Amizade fechou, após 19 anos no ar


A Rádio Amizade foi para o ar pela última vez no sábado, 31 de Dezembro. A emitir desde Novembro de 1992, a direccção da rádio portuguesa decidiu cessar a actividade devido a constrangimentos orçamentais, falta de pessoal e ao cansaço dos membros da direcção.

"Decidimos fechar a rádio há cerca de seis meses. Perguntávamo-nos se a rádio ainda fazia falta à comunidade portuguesa e infelizmente chegámos à conclusão que não, que não faz falta", diz Frederic Correia, director de antena da Rádio Amizade desde 1993, sobre a decisão de encerrar a estação.

A Rádio Amizade foi para o ar pela última vez no sábado, 31 de Dezembro, e emitiu entre as 7h e as 9h e as 17h e as 20h, desde os estúdios para onde se mudou há cerca de dois anos em Schifflange. A falta de pessoal, os constrangimentos orçamentais e o cansaço dos membros da direcção levaram à tomada de decisão.

Num comunicado oficial, a direcção afirma que "os mais jovens não estão motivados para assumir a direcção de uma associação como a rádio, e a actual [direcção] também considera que os motivos iniciais estão de certo modo ultrapassados pela evolução" dos media.

A rádio emitiu a sua primeira emissão em 29 de Novembro de 1992, um domingo, desde os seus primeiros estúdios, situados no Centro Cultural Português, na rue des Boers, em Esch/Alzette. Em 1997 mudou-se para a rue du Canal, e em 2003 para a rue de l'Eau, sempre em Esch. Há cerca de dois anos, devido a dificuldades financeiras em pagar o aluguer em Esch, mudou-se para Schifflange, num prédio onde partilhou a renda com a Radio Gudd Laun (RGL). Fundada por Armindo Pereira, Manuel da Cunha e Manuel Soares, a Rádio Amizade partilhava inicialmente a emissão na frequência 106 FM (chamada a "Frequência Entente") com outras três rádios: RGL, Radio Schifflange e Radio Classique de Bergem. Começou por ter três horas diárias, mas desde 1997 emitia durante 54 horas semanais.

"Se olharmos de fora, nunca fomos uma rádio portuguesa, emitíamos umas horas em português. A diferença em relação a outras rádios com a emissão partilhada é que sempre tivemos instalações próprias", conta o director de antena da Rádio Amizade, que começou naquela emissora aos 15 anos e hoje tem 33.

Dos tempos de ouro da Rádio Amizade, que para Frederic Correia foram "os primeiros dois, três anos", em que a estação "chegou a ter 25 colaboradores", a Rádio Amizade foi perdendo terreno: "Em 1994 ou 1995, se a memória não me falha, a RTP Internacional começou a chegar a cada vez mais portugueses e sentimos um pequeno impacto. Depois veio a transmissão por satélite, também havia a Rádio Latina [ que começou a emitir a 5 de Outubro de 1992, n.d.R. ], e aí sim, sentimos a concorrência", recorda Frederic Correia.

"Atingimos um grande nível de saturação. Comuniquei ao Armindo [ n.d.R.: Armindo Pereira, presidente da rádio ] que apresentava a minha demissão em Dezembro de 2011 e pedi-lhe para decidir se a rádio continuava activa", conta o director de antena. "Éramos 20, depois 18 e por aí fora, até que um dia me apercebi que isto estava complicado porque me vi sozinho.”

"Sendo uma associação sem fins lucrativos [asbl], o plafond financeiro imposto por lei por este estatuto também nunca chegou para que a rádio pudesse ter meios financeiros suficientes para se desenvolver, investir em mais material técnico e locutores", desabafa um dos membros da direcção.

"Havia ouvintes que traziam croissants"


Quando lhe perguntamos quais foram os tempos aúreos da Rádio Amizade, Frederic Correia não hesita em responder que "foram os dois, três primeiros anos".

Nos pergaminhos da Amizade fica o registo que foi a primeira rádio portuguesa do Luxemburgo a emitir em streaming e online os seus programas a partir de 2003, com direito a inauguração na presença do então cônsul português Miguel Faria de Carvalho. Foi igualmente a fundadora, com o Rancho Províncias de Portugal, das famosas Marchas de São João, em 1993, que ainda hoje têm lugar anualmente em Esch, e às quais acorrem milhares de pessoas. A rádio chegou igualmente a organizar um torneio de futebol, o FootAmizade, entre 2000 e 2006, e excursões aos quatro cantos da Europa, projectos que foram sempre muito acarinhados pelos ouvintes.

"Sei de histórias como a de animadores que faziam emissões durante o dia e pediam aos ouvintes para levarem croissants e as pessoas faziam-no!", conta Frederic Correia entre gargalhadas.

"Obviamente que isso agora não existe. Hoje em dia nem que se ofereça um automóvel, as pessoas fazem o mesmo! Na altura havia um grande envolvimento", tanto dos locutores como dos ouvintes, conclui o director de antena da Rádio Amizade.

Um envolvimento que se foi degradando com o passar dos anos. Sozinhos, a manter a rádio a trabalhar, ficaram Frederic e Armindo Pereira. "O Armindo reformou-se há uns 5, 6 anos e começou a ter mais tempo para a rádio. Éramos só nós os dois a olhar para as máquinas", recorda.

"Hoje talvez arranjasse animadores para a rádio mas seriam sempre pessoas para quem a rádio se faz se não tiverem que lavar o cabelo!", remata Frederic Correia, entre um sorriso irónico e uma gargalhada.

Texto e foto: Irina Ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário