sábado, 17 de julho de 2010

Luxemburgo não faz o suficiente para lidar com o envelhecimento da mão-de-obra

Um estudo sobre o envelhecimento da população activa do Grão-Ducado afirma que, se bem que a situação ainda não é tão preocupante como noutros parceiros europeus, o país não está suficientemente preparado para lidar com trabalhadores de uma idade mais avançada. As linhas de acção europeias de reforma do mercado de trabalho são aqui menos seguidas por um variado número de factores; a competitividade do país e a sustentabilidade dos sistemas de segurança social podem estar, a longo e mesmo médio prazo, em risco.

O problema actual, nas sociedades de bem-estar europeias e ocidentais, é sempre o mesmo: o envelhecimento progressivo da população vem criar desafios novos à forma de organização das nossas sociedades e, por haver cada vez menos trabalhadores a descontar para cada vez mais pessoas fora do mercado de trabalho, o sistema pode tornar-se insustentável e colapsar. Por via das suas especificidades, ou seja, sendo uma pequena economia muito aberta ao exterior e que importa muita mão-de-obra (tanto residente como de proximidade, como os transfronteiriços), o Luxemburgo tem resistido relativamente melhor que os seus vizinhos ao efeito de envelhecimento da sua população activa: em 2007, o Grão-Ducado tinha uma percentagem de trabalhadores acima dos 50 anos de apenas 18,9 %, enquanto que a Alemanha apresentava 26,4 %, a França 23,4 % e a Bélgica 21 %. Mas há outra forma de ler estes números: ao mesmo tempo, a percentagem de trabalhadores jovens (de 15 a 29 anos) é de 19,6 % no Grão-Ducado, a mais baixa dos quatro países referidos. Ou seja, o futuro pode ser mais complicado, até porque o Luxemburgo pôde tradicionalmente compensar essa relativa falta de jovens através do recurso à mão-de-obra residente na Grande Região (e a trabalhadores portugueses, não mencionados especificamente no estudo), mas essa fonte pode "secar" no futuro próximo.

O estudo, apresentado pelo CEPS, procurou descrever o desafio colocado aos países europeus pelo envelhecimento da população e as medidas tomadas por estes para o aproveitar. As medidas, delineadas pela primeira vez em 1999 aquando da "Estratégia de Lisboa", dividem-se em quatro tipos: "defensivas" (por exemplo, encorajando os trabalhadores a reformarem-se mais tarde), "activas" (aprendizagem ao longo da vida, flexibilização dos horários de trabalho), retorno ao mercado de trabalho para os mais idosos, e sensibilização da sociedade para a percepção da idade no mundo do trabalho. O Luxemburgo, embora tendo procurado tímidas políticas públicas que se enquadravam em cada um destes tipos, continua longe do objectivo europeu de empregar pelo menos 50 % dos trabalhadores mais idosos (55-64 anos): os 34,1 % actuais representam a percentagem mais baixa da antiga UE a 15, e é apenas superior a quatro dos novos Estados-Membros (Portugal, perto do topo da tabela, tem 51 % destes trabalhadores ainda empregados, na Suécia eles são 70 %).

Os autores apresentam como hipótese para esta má performance do Grão-Ducado um alheamento das empresas privadas quanto à problemática do envelhecimento que, no entanto, representa para elas uma real ameaça a longo prazo.

Um inquérito aos 10 maiores empregadores, realizado em 2004, mostra que efectivamente as oportunidades de formação contínua e a gestão do envelhecimento da força de trabalho da empresa estão longe das preocupações maiores das organizações. É possível que desde 2004 este alheamento se tenha alterado, mas parece claro que são necessárias mais e melhores políticas públicas e privadas para fazer face a um dos maiores desafios com que se depara a "sociedade do bem-estar".

Hugo Guedes
Foto: Arquivo LW

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