O problema actual, nas sociedades de bem-estar europeias e ocidentais, é sempre o mesmo: o envelhecimento progressivo da população vem criar desafios novos à forma de organização das nossas sociedades e, por haver cada vez menos trabalhadores a descontar para cada vez mais pessoas fora do mercado de trabalho, o sistema pode tornar-se insustentável e colapsar. Por via das suas especificidades, ou seja, sendo uma pequena economia muito aberta ao exterior e que importa muita mão-de-obra (tanto residente como de proximidade, como os transfronteiriços), o Luxemburgo tem resistido relativamente melhor que os seus vizinhos ao efeito de envelhecimento da sua população activa: em 2007, o Grão-Ducado tinha uma percentagem de trabalhadores acima dos 50 anos de apenas 18,9 %, enquanto que a Alemanha apresentava 26,4 %, a França 23,4 % e a Bélgica 21 %. Mas há outra forma de ler estes números: ao mesmo tempo, a percentagem de trabalhadores jovens (de 15 a 29 anos) é de 19,6 % no Grão-Ducado, a mais baixa dos quatro países referidos. Ou seja, o futuro pode ser mais complicado, até porque o Luxemburgo pôde tradicionalmente compensar essa relativa falta de jovens através do recurso à mão-de-obra residente na Grande Região (e a trabalhadores portugueses, não mencionados especificamente no estudo), mas essa fonte pode "secar" no futuro próximo.
O estudo, apresentado pelo CEPS, procurou descrever o desafio colocado aos países europeus pelo envelhecimento da população e as medidas tomadas por estes para o aproveitar. As medidas, delineadas pela primeira vez em 1999 aquando da "Estratégia de Lisboa", dividem-se em quatro tipos: "defensivas" (por exemplo, encorajando os trabalhadores a reformarem-se mais tarde), "activas" (aprendizagem ao longo da vida, flexibilização dos horários de trabalho), retorno ao mercado de trabalho para os mais idosos, e sensibilização da sociedade para a percepção da idade no mundo do trabalho. O Luxemburgo, embora tendo procurado tímidas políticas públicas que se enquadravam em cada um destes tipos, continua longe do objectivo europeu de empregar pelo menos 50 % dos trabalhadores mais idosos (55-64 anos): os 34,1 % actuais representam a percentagem mais baixa da antiga UE a 15, e é apenas superior a quatro dos novos Estados-Membros (Portugal, perto do topo da tabela, tem 51 % destes trabalhadores ainda empregados, na Suécia eles são 70 %).
Os autores apresentam como hipótese para esta má performance do Grão-Ducado um alheamento das empresas privadas quanto à problemática do envelhecimento que, no entanto, representa para elas uma real ameaça a longo prazo.
Um inquérito aos 10 maiores empregadores, realizado em 2004, mostra que efectivamente as oportunidades de formação contínua e a gestão do envelhecimento da força de trabalho da empresa estão longe das preocupações maiores das organizações. É possível que desde 2004 este alheamento se tenha alterado, mas parece claro que são necessárias mais e melhores políticas públicas e privadas para fazer face a um dos maiores desafios com que se depara a "sociedade do bem-estar".
Hugo Guedes
Foto: Arquivo LW
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