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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Eleições comunais: O "cinzentismo" da política luxemburguesa


Quem olha para o mapa com os resultados das últimas eleições autárquicas no Luxemburgo vê enormes manchas cinzentas. Ao contrário de Portugal, onde o mapa político se divide entre o PS e o PSD, com algumas câmaras do CDS-PP e do PCP, no Luxemburgo há 72 comunas onde é impossível dizer que partido ganhou as eleições. São as autarquias com menos de três mil habitantes, as mais pequenas e com menos peso eleitoral. Ali, segundo a lei luxemburguesa, os candidatos são eleitos por maioria relativa, sem apresentação de listas partidárias. O que não quer dizer que os candidatos sejam necessariamente independentes.

O burgomestre de Beckerich, por exemplo, Camille Gira, é um destacado deputado dos Verdes. Boevange-sur-Attert e Ermsdorf têm à frente do Executivo camarário dois cristãos-sociais (CSV), Anny Quintus-Thillen e André Kirschten, e a autarquia de Colmar-Berg é governado por um burgomestre socialista (LSAP), Fernand Diederich, para só referir alguns casos. Mas por causa do sistema eleitoral, que nas localidades mais pequenas não permite a apresentação de listas partidárias, nenhum partido reclama a vitória. "É impossível dizer quantos burgomestres são do CSV nessas localidades. Alguns são membros do partido, mas depois nas eleições apresentam-se ao eleitorado como independentes", explica ao CONTACTO Marco Goetz, responsável de comunicação do CSV. Resultado: em 72 autarquias das 116 que formam o Luxemburgo, nenhum partido canta vitória.

SOCIALISTAS CONTROLAM MAIORIA DAS CÂMARAS 

É só nas autarquias com mais de três mil habitantes, onde vigora o sistema de voto proporcional, que os partidos se batem às claras. Aí os socialistas, que no Governo estão em minoria, ultrapassam os cristãos-sociais.

Em 2005, nas últimas eleições autárquicas, o LSAP conquistou 165 mandatos e obteve 34,74 % dos votos, enquanto o CSV se ficou pelos 151 eleitos e 31,79 % dos votos. Os socialistas lideram no sul do país, onde a siderurgia e as minas levaram a uma grande concentração de operários a partir do séc. XIX.

No cantão de Esch-sur-Alzette, os socialistas só não venceram as eleições em três das 12 autarquias que têm mais de três mil habitantes. As excepções que confirmam a regra são Differdange, bastião do DP, Pétange, que tem à frente Pierre Mellina do CSV, e Frisange, onde governa a coligação de independentes "Är Equipe", igualmente conotada com os cristãos-sociais.

Os socialistas conquistaram as câmaras nas restantes dez autarquias daquele cantão, incluindo na jóia da coroa, Esch-sur-Alzette. Esch tem a mesma burgomestre há onze anos, a também deputada Lydia Mutsch, que governa em coligação com os Verdes. E se é verdade que o "Déi Gréng" quase não aparece no mapa político do Luxemburgo que apresentamos nesta edição, na prática os Verdes têm mais peso eleitoral do que parece.

O "Déi Gréng" só obteve 8,63 % dos votos nas últimas eleições, mas os 41 mandatos conquistados abriram-lhe as portas das duas maiores cidades do país. Enquanto em Esch-sur-Alzette governam com o LSAP, na capital dividem o poder com o DP.

Com menos peso na política nacional desde a derrota nas legislativas de 2004 (antes governava em coligação com o CSV), o Partido Democrata continua a defender o seu bastião no poder local. Está à frente do Executivo camarário da capital desde 1982, e ganhou as últimas eleições comunais também em Bertrange, Differdange, Junglinster, Grevenmacher, Mondorf, Mersch e Steinsel. No total, tem oito das 44 autarquias com mais de três mil habitantes, o que faz dele o terceiro maior partido nas eleições comunais.

Aos pequenos partidos só resta a oposição. O "Déi Lénk", conotado com o Bloco de Esquerda em Portugal, perdeu cinco mandatos nas últimas eleições, tendo apenas conseguido eleger um conselheiro em 2005. O ADR perdeu sete em 2005: elegeu cinco conselheiros (em Esch-sur-Alzette, Mondercange, Winckrange, Sanem e na capital), mas perdeu um com a dissidência de Aly Jaerling, e não foi além dos 1,05 % a nível nacional.

O partido comunista luxemburguês não conseguiu eleger nenhum conselheiro nas últimas eleições. Os melhores resultados do KPL foram em Rumelange, no sul do país, onde os comunistas conquistaram 6,2 % dos votos e ficaram a menos de 3 % da eleição, e em Esch e Differdange, com 4 % dos votos.

As listas independentes (assinaladas no mapa a amarelo) conquistaram 12 mandatos nas últimas eleições. São listas sem designação partidária, formadas por elementos independentes mas também por membros dos partidos. Em Kopstal, por exemplo, a lista "Är Equipe" ("A Nossa Equipa"), que ganhou as últimas eleições, é formada por uma coligação de socialistas e verdes e liderada por um burgomestre socialista. Em Frisange, a coligação "Är Equipe", actualmente no poder, é conotada com o CSV. Em Lorentzweiler, a lista "Är Leit” ("A Nossa Gente”), formada por socialistas e independentes, é liderada por um burgomestre socialista, Jos Roller.

Texto: P.T.A. 
Infografia: Sabina Palanca

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