"Sinto uma tristeza infinita ao constatar que, no momento em que a América queria fazer alguma coisa pelo mundo, os dirigentes europeus não estão lá. Estamos a falhar uma oportunidade formidável", afirmou Villepin em entrevista à agência Lusa, à margem do Estoril Film Festival onde deu uma aula sobre André Malraux e a política cultural.
Villepin era primeiro-ministro no momento da invasão norte-americana do Iraque e manifestou-se claramente contra a opção da administração Bush. Reconhece que muita coisa mudou desde então.
"A visão do mundo dos americanos e da administração americana de Obama mudou profundamente. A administração Bush considerava que a força era a única resposta à desordem do mundo e Barack Obama é muito mais respeitador dos povos e das diferentes identidades", afirmou.
Ainda assim, Villepin considera que "a política americana continua, como a política ocidental, a enganar-se no Afeganistão: "Não obteremos a paz no Afeganistão enquanto considerarmos que devemos obtê-la através de uma presença armada. Não haverá nova política no Afeganistão enquanto não começarmos a definir um calendário de retirada das tropas ocidentais."
"Barack é um homem da mão estendida, fá-lo no Iraque e no Irão, gostaria de fazê-lo no Médio Oriente mas infelizmente é muito difícil", acrescentou.
E é por isso que "é muito importante que a Europa não falhe este encontro com a História. Onde estão os estados europeus capazes de ajudar a América a fazer a paz no Médio Oriente, a criar um Estado Palestiniano? Onde estão os europeus capazes de ajudar os Estados Unidos a conseguir uma solução para o Irão?"
"A Europa tem falta de imaginação, de coragem e de vontade de desempenhar um papel no palco internacional. A grande ausência na cena mundial é a ausência da Europa."
Sobre o papel da França e de Portugal, Villepin sublinhou que os dois países "têm em comum uma ambição universalista". "Temos consciência dos nossos deveres em relação à África, conhecêmo-la. Por trás dos problemas teóricos, sabemos que há rostos de homens, mulheres, crianças, sabemos o que está em causa, em África, na América Latina, na Ásia."
"Sofremos de egoísmo e sobretudo de falta de ambição. A Europa, que é historicamente um continente de cultura, devia ser também um continente de dever. Em tempo de crise, temos tendência a encolher-nos, a fechar-nos sobre nós mesmos, a imaginar que a prioridade é a satisfação dos nossos problemas. O que é verdade na vida pessoal também o é na vida colectiva: quanto mais nos preocupamos com os problemas dos outros mais rapidamente resolvemos os nossos problemas."
Foto:Arquivo LW
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