O ex-secretário de Estado das Comunidades e social-democrata José Cesário afirmou hoje que a dimensão da nova emigração portuguesa atingiu níveis “impressionantes”, principalmente na Europa e em África.
“Há muito mais [emigração]. É um movimento impressionante. Não tem discrição”, disse à Lusa Cesário, que na qualidade de ex-deputado e Coordenador do Secretariado das Comunidades Portuguesas do PSD tem visitado as comunidades portuguesas no estrangeiro.
“Esse fluxo é mais evidente de alguns anos a esta parte, em 4-5 anos agudizou-se bastante. As estatísticas do desemprego em Portugal não correspondem à realidade, porque escondem este mundo de gente que foge e se afasta”, adiantou Cesário, que estará nos próximos dias de visita a comunidades nos Estados Unidos e Canadá.
Fora da Europa, Angola é também “caso muito evidente” da chegada de novos emigrantes, enquanto nos Estados Unidos o fenómeno é mais esbatido, dado que a permanência legal é mais difícil para trabalhadores estrangeiros.
A emigração de “quadros qualificados e com formação académica” é a maior dos últimos anos, mas atinge “pessoas de todos os níveis”.
“Temos gente a emigrar com 50 anos, pessoas que ficaram desempregadas, adquiriram bens, recorreram a crédito e não deixaram de ter condições para os suportar”, afirma.
Do seu contacto com os emigrantes de gerações anteriores, o ex-secretário de Estado relata “muita preocupação” com a situação de crise económica no país, e mesmo “alguma vergonha com o que se está a passar lá”, mas dizem que “estão interessadas em ajudar”.
“Estas pessoas que saíram de Portugal há alguns anos têm uma cultura diferente de muitos que lá ficaram. Uma cultura de poupança que desapareceu, estavam habituados a olhar para Portugal como um país com dificuldades, mas equilibrado. E hoje vêm com desespero esse sentimento a desaparecer”.
O manifesto eleitoral do PSD para a área das comunidades portuguesas, recentemente apresentado, traça como prioridades a captação das poupanças e investimentos dos emigrantes, voto misto, combinando os métodos por correspondência e presencial, e consulados “de nova geração”.
Outra “bandeira” é o alargamento da nacionalidade portuguesa até aos netos, por efeito de vontade, que “responde à necessidade de captar esses jovens que não podem ser portugueses por os pais não terem pedido nacionalidade”, afirma.
Para Cesário, é preciso melhorar a “rede” de apoio à nova emigração, não só ao nível dos consulados, mas também das associações locais.
“Já existiram no passado essas redes, agora é preciso ressuscitá-las. E não pode ser só o Estado, tem de se envolver as instituições [das comunidades], um trabalho em rede”, adianta.
De Newark, Nova Jérsia, onde chegou quinta-feira à noite, Cesário segue hoje para Providence, Rhode Island.
Vai participar ainda na festa do clube português de Hudson, arredores de Boston, e em Montreal, Canadá, no aniversário do jornal Voz de Portugal, um dos mais antigos da imprensa das comunidades.
A visita, afirma, é feita na condição de deputado e a nível partidário, mas “não em pré-campanha”,
“Nunca fiz campanha eleitoral enquanto fui eleito por este círculo. Faço contacto com as pessoas ao longo do ano. As campanhas aqui fora não fazem sentido, fruto do fator distância, de não encontrarmos eleitores concentrados”, afirma.
Cesário lidera as listas do PSD pelo Círculo de Fora da Europa, onde estão ainda Carlos Páscoa Gonçalves e Maria João Ávila e Gonçalo Nuno dos Santos.
Foto: Manuel Dias
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