As “qualidades morais” da personagem de banda desenhada Tintin, de Hergé, são “atuais, importantes e necessárias”, apesar de Tintin ter sido criado no início do século XX, considerou na segunda-feira Yves Février, representante do Museu Hergé.
Em Guimarães, a propósito da antestreia em Portugal do filme “As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne”, ao abrigo da Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012, Yves Février descreveu o autor de Tintin como um trabalhador incansável.
“O Hergé era um escravo. Durante anos trabalhou sem parar e em 1929 criou este herói, Tintin, no qual trabalhou o resto da vida”, disse.
As Aventuras de Tintin, adiantou, começaram a ser publicadas num jornal semanalmente em 1929 e após um ano destas publicações foi editado o primeiro álbum, “Tintin no país dos Sovietes”.
Yves Février descreveu Tintin como “um bom menino, ao estilo dos escuteiros”.
Em declarações à Agência Lusa, o representante do Museu Hergé, afirmou que “os valores defendidos por Tintin” têm “lugar” no século XXI.
“Este herói representa valores morais que não só são atuais como são importantes e necessários nos dias de hoje”, afirmou, explicando que “valores como os que estão na base destas histórias são intemporais”.
No entanto, admitiu Février, que se a questão da atualidade dos valores de Tintin lhe fosse colocada quando era adolescente nos anos 70 diria: “Não. São antiquados e fora de moda”.
Para Yves Février, a “grande inteligência” de Steven Spielberg foi “precisamente” ter-se apercebido da “atualidade da moral que está na base das aventuras do Tintin”, pois, “para além da técnica de filmagem, o grande valor deste filme é a mensagem".
Este estudioso da obra de Hergé considerou ainda que a “mais valia” dos desenhos do autor de Tintin e Milou “é a noção de movimento que transmite cada vinheta da banda desenhada”.
Essa “mestria”, admitiu Février à Agência Lusa, “esbate-se na passagem das Aventuras de Tintin do papel para a tela de cinema, pois em cinema é fácil dar a noção de movimento, difícil é fazê-lo no papel”.
Sobre a vida de Hergé, Yves Février abordou ainda a “catalogação” do artista como “colaboracionista nazi” durante a ocupação alemã na Bélgica.
“É injusto dizer que o Hergé colaborou com Hitler. É preciso analisar a história da Bélgica. O rei decidiu ficar na Bélgica nesse período e ele fez o mesmo. Mas o facto de ter continuado a trabalhar num jornal favorável ao regime foi algo que o atormentou nos anos seguintes”, explicou.
Filmado, com recuso à tecnologia ‘motion capture’, “As Aventuras de Tintin” conta com o ator Jamie Bell no papel de Tintin e com Daniel Craig no papel do ‘vilão’.
O filme “As Aventuras de Tintin: O Segredo do Licorne” estreia dia 25 no resto do país e é a mais recente película de Steven Spielberg e Peter Jackson.
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