quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL) celebra 20 anos e distinguiu personalidades da comunidade

José Coimbra de Matos, Mili tasch-Fernandes e Sónia Tomás, da CCPL
O 20° aniversário da CCPL foi festejado com pompa e circunstância numa gala, na passada sexta-feira, durante a qual a Confederação distinguiu uma dezena de personalidades da comunidade portuguesa do Luxemburgo.

"Foram necessários quase três décadas para reagrupar dezenas de associações em torno deste projecto comum que é a CCPL. Volvidos 20 anos, as pontes que construímos têm que continuar a existir, com o reforço financeiro e o reconhecimento legítimo que se impõem e que nos são devidos".

Foi o repto lançado pelo presidente da Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL), José António Coimbra de Matos, na gala dos 20 anos da Confederação, perante uma assistência de quase 200 pessoas reunidas no Centro Cultural de Hollerich, na passada sexta-feira.

O secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, o cônsul de Portugal, José Carvalho Rosa, o deputado da Emigração Paulo Pisco (PS), e Christiane Martin, directora do OLAI (Gabinete Luxemburguês de Acolhimento e Integração), em representação da ministra da Integração, escutaram com atenção os recados políticos.

RECADOS POLÍTICOS 

"Nestes 20 anos propusemos, debatemos, agimos, aprendemos. Atingimos a maturidade e está na hora de sermos reconhecidos. O futuro da CCPL passa pela profissionalização do seu funcionamento, e isso só é possível com mais ajuda financeira. Somos a única confederação deste género no Luxemburgo a associar tantas associações [ entre 60 a 80, n.d.R. ], e a trabalhar só com voluntários. Mas a nossa sede continua a ser um espaço de apenas 40m2, pagos a peso de ouro, tudo isto porque as autoridades luxemburguesas recusam dar-nos o reconhecimento devido", lamentou Coimbra de Matos.

Mas o dirigente associativo pediu igualmente um reconhecimento da parte do Estado português. "Temos que ser tratados em pé de igualdade com os dez milhões de portugueses que estão em Portugal".

O deputado Paulo Pisco lembrou que elogiou a CCPL junto do presidente do Parlamento luxemburguês, Laurent Mosar, quando este visitou Lisboa (em Janeiro de 2010), e que o trabalho da CCPL deveria ser reconhecida pelo Estado luxemburguês. "Hoje reitero aqui essa posição. A CCPL é o cimento agregador da comunidade. O reconhecimento e apoio devem vir não só da parte das autoridades luxemburgesas, como das portuguesas, e da própria comunidade", vincou.

O deputado pela Emigração Carlos Gonçalves (PSD), apesar de ausente, enviou uma mensagem, na qual recordou a sua participação no primeiro congresso da Confederação, e como acompanhou os trabalhos e o crescimento da CCPL, e o trabalho que esta tem feito pela comunidade.

Christiane Martin lançou um desafio à CCPL. Face à chegada de novos portugueses ao Grão-Ducado nos últimos anos, o OLAI propõe lançar um projecto com a Confederação, para informar os portugueses que querem imigrar para o Luxemburgo sobre as realidades do país e as exigências linguísticas do mercado do trabalho. Para José Cesário, "os portugueses no estrangeiro são os nossos melhores embaixadores". E aproveitou para falar no "recentramento da diplomacia portuguesa, na qual as associações das comunidades vão passar a desempenhar um papel central" (ver caixa).

Para Coimbra de Matos, esta gala e a atribuição dos Prémios Personalidade a individualidades que se destacaram em prol da comunidade lusa, pretendem veicular uma imagem prestigiante não só da CCPL, mas sobretudo da comunidade. "Somos pedreiros e mulheres de limpeza, e temos muito orgulho nisso. Mas hoje a comunidade é também muito mais do que isso", lançou.

E OS VENCEDORES SÃO... 

Marco Godinho e José Cesário
ARTES - O artista plástico Marco Godinho. "Estou a receber este prémio em família. Digo isto, porque desde sempre a comunidade portuguesa reconheceu o meu trabalho. Este prémio é também importante porque decidi trabalhar nesta área sem sair completamente do Luxemburgo [ Marco vive entre Nancy e o Luxemburgo, n.d.R. ]. A aventura dos meus pais, como de outros portugueses, foi imigrar. A minha aventura foi esta, tentar viver da minha arte. Espero que este prémio e este reconhecimento inspirem outros jovens a seguirem as artes".

Rogério Oliveira e Paulo Pisco
ASSOCIATIVISMO - Rogério Oliveira, pela Associação Cultural e Humantiária da Bairrada no Luxemburgo (ACHBL). "Este prémio significa o cumular de um trabalho meritório de 15 anos. Sem falsas modéstias, penso que merecemos este prémio pelo trabalho que fazemos. Em 15 anos, já atribuímos 270 mil euros a instituições de solidariedade social em Portugal, a pessoas deficientes ou necessitadas."

COMUNICAÇÃO SOCIAL - Jornal Correio. Para a chefe de Redacção do quinzenário, Alexandra Araújo, "este prémio reconhece o trabalho que, não só o Correio, mas que toda a comunicação social portuguesa faz no Luxemburgo".

DESPORTO - Aníbal Coimbra. "Agradeço à CCPL e à comunidade terem acompanhado e reconhecerem o meu percurso", disse Aníbal Coimbra, campeão da Europa e do Mundo em powerlifting. O seu próximo objectivo, confiou ao CONTACTO, é o record do Mundo, actualmente nos 1.035 kg, "Estou a sete quilos do record mundial e quero atingi-lo o mais depressa possível".

Fernando Vieira e uma colaboradora
DIVULGAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA - Associação de Pais de Ettelbruck (APE). "Há já 27 anos que trabalhamos em prol da língua portuguesa. Não andamos à procura de prémios, o trabalho está a olhos vistos. Já estivemos direccionados para o ensino, mas agora apostamos mais na formação. Temos também muito orgulho na nossa biblioteca, que tem cerca de três mil livros", disse Fernando Vieira, presidente da APE.

Paula Gomes e Octávia Alves
SOLIDARIEDADE SOCIAL - Défi-Job. "É a primeira vez que o nosso trabalho é reconhecido pela comunidade portuguesa. Precisamos muito dos portugueses para podermos reinserir profissionalmente os presos", apelou Paula Gomes, responsável do projecto Défi-Job, que funciona na prisão de Givenich e que trabalha pela resinserção socioprofissional dos detidos, e entre os quais se encontram muitos portugueses. Durante a gala, e depois de lançar o apelo à comunidade portuguesa, Paula Gomes foi abordada por Carlos Bernardino, outro dos laureados dessa noite (na categoria "Empresarial"), e que, como director do grupo Happy Snacks (Pizza Hut-Luxemburgo), transmitiu à responsável a vontade de trabalhar com a Défi-Job. Para Carlos Bernardino trata-se do "dever cívico, moral e empresarial" da empresa. A Happy Snacks vai abrir as portas aos detidos, "desde que o perfil deles seja compatível com as nossas exigências e necessidades", explicou. Um encontro que foi possível graças à gala da CCPL.

Carlos Bernardino
EMPRESARIAL - Carlos Bernardino. O director da Happy Snacks, explicou que a empresa que dirige leva muito a sério a sua responsabilidade social, e evocou outro dos projectos do grupo. "Segundo o Statec, uma pessoa em cada sete passa fome no Luxemburgo. Fomos sensíveis a isso e lançámos uma campanha com o Banco Alimentar do Luxemburgo. Em três semanas angariámos mais de 15 mil euros. O dinheiro é directamente entregue na Provençal [ grossista e distribuidor alimentar, n.d.R. ], que fornece o Banco Alimentar com géneros alimentícios, depois distribuidos a associações que os levam às pessoas necessitadas." E no seio da empresa onde está há 40 anos, Carlos Bernardino explica que a filosofia é a mesma. "O sucesso de uma empresa passa por três vertentes: a satisfação dos clientes, a motivação dos empregados, para poderem defender os interesses do patrão, e por último, o patrão tem que ganhar dinheiro para continuar a investir. Uma das formas que temos para motivar os nossos trabalhadores é dividir 1,2 % da caixa pelos nossos empregados. Não é 1,2 % dos lucros, mas da caixa. Todos os meses, os gerentes de cada um dos nossos restaurantes dividem o dinheiro pelo pessoal, segundo vários critérios, como o trabalho, a pontualidade, a aplicação e a motivação".

POLÍTICA - Félix Braz. "A CCPL é um órgão apartidário e considero por isso sensível ter atribuído um prémio nesta categoria. Mas foi uma boa ideia, importante e útil, e envia um sinal positivo para que a comunidade se envolva mais politicamente. A Cátia Gonçalves [ concorrente nesta categoria, n.d.R. ] é um exemplo para todos e tem tudo para fazer muito nesta área.

Joaquim e Nélia da Costa Ferreira
PROFISSÕES LIBERAIS - Dra. Nélia da Costa Ferreira. "Quero partilhar este prémio com a minha família, com o meu irmão, com os meus pais e com os que me acompanharam e ajudaram na minha escolaridade e na minha carreira. Na escola, como muitos portugueses, tive dificuldades com o alemão, mas houve um casal luxemburguês, os Reuter, já ambos falecidos, que me ajudaram muito. Este prémio também é para eles", disse emocionada a médica, ao lado do irmão, o arquitecto Joaquim da Costa Ferreira, contra quem concorria nesta categoria.

PRÉMIO ESPECIAL DO JÚRI - Padre Belmiro Narino e Antero Monteiro. O júri entendeu ainda atribuir um prémio especial ex-aequo ao padre Belmiro Narino, chefe da Missão Católica Portuguesa do Luxemburgo (e editorialista do CONTACTO), e ao escritor Antero Monteiro.

O padre Belmiro, que não pôde estar presente, deixou uma mensagem, que foi lida à assistência. Citando Sérgio Buarque de Holanda, disse estar convicto que "os portugueses preferem o discreto uso das virtudes à sua exaltação grandíloqua". Sobre a atribuição de prémios, lembrou Camões: "Melhor é merecê-los sem os ter, que possuí-los sem os merecer". Disse ainda preferir os que seguem "o juízo da 'razom', o caminho da discrição (...), o verdadeiro siso, aos que andam em feitos de cavalaria", referindo-se ao "Leal Conselheiro" do rei D. Duarte. "São estes os valores que tenho procurado incutir nos que me ouvem ou lêem".

Antero Monteiro, Gina Montez e Paula Gomes
O escritor Antero Monteiro foi distinguido com o mesmo prémio pela ajuda financeira que envia para obras de caridade com os lucros da venda dos seus livros. Em 10 anos, entregou 165 mil euros e 20 cadeiras de rodas a deficientes. "Não estava à espera deste prémio, fiquei sem palavras. A humildade é a chave do sucesso, e embora eu seja um fraco narrador, gosto de me exprimir pela escrita. Considero que recebo medalhas da comunidade cada vez que esta compra os meus livros", disse.

No final, a organização da gala fez ainda questão de homenagear o presidente da CCPL, Coimbra de Matos, no cargo há dez anos, e a presidente do júri e membro da direcção há longos anos, Mili Tasch-Fernandes. O fecho da grande gala deu-se com o presidente, encorajado pela direcção da CCPL, a tomar fôlego suficiente para soprar as velas do bolo de aniversário. O mesmo fôlego de que a CCPL testemunhou nessa noite dispor para continuar a lutar em prol da comunidade portuguesa do Luxemburgo.

Alexandre Gaspar W. 
Fotos: José Cravo Fernandes

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