A Rede Social conta a história, ou uma possível história, das origens do Facebook. Mas há outro sítio internet com origens romanceadas e um impacto social tremendo conseguido em apenas seis anos: o YouTube supostamente começou quando dois amigos de São Francisco fizeram um jantar em casa de um deles e queriam mostrar a um céptico terceiro amigo vídeos dessa festa. O resto é conhecido de nós todos que somos utilizadores, ainda que casuais, da internet: é difícil passar um dia sem dar de caras com pelo menos um vídeo alojado nos servidores da empresa da Califórnia – uma das mais lucrativas do mundo, e provavelmente também uma das mais poderosas. Um nome que será dentro de poucas décadas mais conhecido que a Coca-Cola ou os Beatles. Certo? Errado.
Os futurologistas (atenção: isto é profissão com muito futuro) que têm a audácia de se debruçar sobre como vai ser o panorama das tecnologias de informação daqui a 30 anos são unânimes em afirmá-lo: as maiores empresas tecnológicas dessa altura ainda nem sequer nasceram hoje, tal é o dinamismo do mercado. Tal aprendeu a Netscape, que em 1997 detinha com o seu Navigator 80 % do mercado mundial de browsers e cinco anos depois tinha virtualmente desaparecido... As actuais dominadoras têm poucas probabilidades de manter o seu estatuto de quase-monopólio por mais de alguns anos; por outras palavras, quase ninguém aposta que nomes como Google, Apple, Facebook ou Twitter tenham a relevância de que gozam agora nestes seus "15 minutos" de fama. O YouTube, então, está à bica para cair de maduro: com o seu visual datadíssimo, as suas regras por vezes arbitrárias (como suspender utilizadores sem aviso ou não os deixar recuperar a sua conta), a baixa qualidade – tanto técnica como conceptual – da esmagadora maioria dos seus vídeos e as batalhas legais em que se tem visto envolvida, a "velha senhora" dos vídeos pela internet pode já ter passado o seu apogeu. Até porque basta uma pequena pesquisa para descobrir concorrentes mais pequenos que são bem melhores a alojar vídeos: desde o Vimeo privilegiado por Obama até ao excelente Exposure Room, o meu favorito.
O próprio YouTube decidiu esta semana dar uma enorme machadada no seu interesse ao criar um sistema que elimina as contas dos utilizadores ao terceiro vídeo que eles coloquem em linha que "infrinja direitos de autor". Isto é: quase todos, com jeitinho. Desde imagens de futebol a videoclips de música, de sátiras a filmes ou vedetas até à utilização de uma música romântica como fundo para o filme do casamento, são poucos os que não cabem nessa categoria. E os que até o fazem (exemplos aleatórios retirados da página inicial do sítio: "Assaltando a geladeira" ou "Renove o seu guarda-roupa") podem divertir uma ou outra vez, mas não são a base para um fenómeno social. Sejamos mais claros: ninguém vai voltar ao sítio só para ver material deste estilo, nem os jornais e blogues vão embeber estes vídeos nas suas próprias páginas.
A ideia de base para este tipo de medidas é sempre a mesma: a suposta "luta anti-pirataria". A ganância das multinacionais dos "conteúdos artísticos" (eufemismo para quem prospera com a criatividade alheia) ainda não lhes permitiu ver para além da nuvem: a popularidade é o que interessa, o dinheiro só vem depois. A repressão online, essa, só vai apressar o início do fim.
Hugo Guedes
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