40°aniversário do CONTACTO

Entre o passado e o futuro

José Luís Correia
Neste ano jubilar em que o CONTACTO celebra 40 anos de existência, o nosso jornal – o vosso – encontra-se mais do que nunca num patamar decisivo entre o passado e o futuro. Os sinais dos tempos indicam que a imprensa tradicional tem os dias contados. Enquanto tal. Mas, se como acredito, a imprensa não está num declínio inelutável, mas antes a passar por uma longa fase de transformação, que passa primeiro por aceitar que a mudança é inevitável e até desejável, então o futuro passa, sem falsas modéstias, pela multiplicação de jornais como o CONTACTO.

Onde o nosso jornal soube ser visionário desde a sua criação – e isso deve-se sobretudo ao que os seus fundadores e dinamizadores fizeram dele ao longo destes 40 anos – foi na conjugação indispensável entre proximidade e rigor, aos quais aliou depois qualidade e gratuitidade, quando este último termo nem estava ainda na moda. Quando ainda nem se sonhava em imprensa gratuita no Grão-Ducado e a sua simples menção era repudiada, já o CONTACTO se assumia como tablóide e gratuito. Mas tão somente no "formato", porque o espírito e a linha editorial continuavam a ser de inspiração cristã e o jornalismo consciencioso e profissional.

Apesar de a equipa redacional dos anos 70 e 80 não ser constituída por profissionais, esta cuidou sempre, atenta, em ser rigorosa e isenta nas notícias apuradas e publicadas. Valores pelos quais também nós, os que humildemente continuamos a obra desses pioneiros, nos regemos.

Simultaneamente, quando muitas publicações nas últimas décadas foram perdendo o seu público, sem entenderem porquê, ao mesmo tempo que continuavam a insistir em charolas elitistas e autistas, o CONTACTO, ontem como hoje, preocupou-se sempre em seguir e ir ao encontro dos seus leitores. Não só dos almejos da comunidade portuguesa e lusófona, como dos problemas e desafios que esta enfrenta. E assim criou a proximidade. Soube tornar-se popular sem cair no popularucho, abordando todo o tipo de assuntos, dos mais espinhosos e tabus, que se esforçou por destrinçar e explicar, aos mais ligeiros, da política à economia, da cultura ao desporto, da vida associativa à intercomunitária. Lutamos pela integração e contra a assimilação preconizada por outros.

O resultado foi ganharmos a confiança e a fidelidade dos leitores, que aumentam de ano para ano a olhos vistos, como o bem demonstram as sondagens. Sabemos também que isso não se deve apenas ao nosso trabalho, mas a uma real necessidade dos que aqui vivem em procurarem conhecer cada vez melhor o país de acolhimento.

Mas não somos infalíveis, "errare humanum est", por isso almejamos a sabedoria de conseguir corrigir os erros a tempo. E para isso queremos contar com a compreensão e a colaboração dos que nos lêem.

Próximos dos leitores e da comunidade, emanando desta, fomos e queremos continuar a ser também o seu espelho mais fiel, caleidoscópio rico em diversidade, mas não anamorfizado.

Pretendemos igualmente ser protagonistas, uma mais-valia na reflexão da actualidade que nos rodeia e um valor intelectual acrescentado para a comunidade. É nessa perspectiva, por exemplo, que lançámos a rubrica quinzenal "Por outros caminhos... Encontros com a História", assinada por António de Vasconcelos Nogueira, e que pretende abordar as relações históricas existentes há séculos entre o Luxemburgo e Portugal, mas também historiar a imigração lusa para o Grão-Ducado, que começou há quase meio século, mas que ainda permanece, infelizmente, relativamente desconhecida.

Outras iniciativas seguir-se-ão no decurso do ano, inseridas no âmbito do nosso aniversário.

Nos últimos anos demos também o passo tecnológico, e de uma simples presença na net passámos a actores da blogosfera. E até aprendemos a "twittar".

Por todas estas razões, a que acrescem o empenho e o trabalho esmerado que a Redacção leva a cabo diariamente – assistida preciosamente pelos nossos correspondentes, as equipas técnicas e outros serviços do grupo saint-paul, bem como da nossa direcção, todos sem os quais este jornal não seria possível –, acredito que apesar de um nascimento modesto, um futuro que esteve algumas vezes em perigo, podemos ser merecedores da herança valiosa que nos deixaram Carlos de Pina e Lucien Huss. E continuar a trabalhar para que os seus sonhos, que são afinal os de toda uma comunidade, possam ir muito mais longe.


José Luís Correia
Chefe de Redacção do CONTACTO
20 de Janeiro de 2010


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Líder de audiências

Sondagem TNS-Ilres

Jornal CONTACTO
continua líder entre portugueses


O jornal CONTACTO (grupo saint-paul luxembourg) continua a ser o meio de comunicação preferido entre os portugueses e a população lusófona, segundo a última sondagem de TNS/ILRES Plurimédia, realizada pelos três principais editores do país (saint-paul, Editpress e IP-RTL).

Com uma taxa de penetração de 56,4 %, o mais antigo semanário em português no Luxemburgo é mesmo mais lido que o l'Essentiel, o jornal gratuito distribuído nas ruas, e que reúne a preferência de 49,5 % dos portugueses.

Em terceiro lugar na tabela dos favoritos dos portugueses vem a RTPi, com 31,8 %, seguido do canal francês TF1, com 31,5 %. A Rádio Latina (grupo saint-paul) é quinto, com 29,1 %.

O CONTACTO é também líder entre os semanários de informação a nível nacional. Com 11 % de taxa de penetração entre a população global, o CONTACTO é o semanário mais lido no país, à frente do Jeudi, que se fica pelos 7,1 %.

Na tabela dos títulos com periodicidade semanal (segmento que inclui, além de jornais, também revistas), o CONTACTO só é ultrapassado pelas revistas Télécran (31,5 %), também editada pelo grupo saint-paul, e Revue (21,5 %), classificando-se ainda assim em terceiro lugar entre os títulos informativos mais lidos semanalmente a nível nacional.
Sondagem publicada em Julho de 2009
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O CONTACTO em 40 datas

Os primeiros anos

1969: A associação luso-luxemburguesa Amizades Portugal-Luxemburgo (APL) fundada nesse ano publica em periodicidade irregular uma folha policopiada com notícias breves, denominada "Voz do Imigrante". As APL compreendem a necessidade de um verdadeiro jornal para a "colónia portuguesa", como escreviam então, que começava a crescer massivamente nesses finais dos anos 60.

Carlos de Pina
(Arq.: Heroína de Pina)
Janeiro 1970 : Fundação do jornal CONTACTO pelas APL, sob o impulso de Lucien Huss e Carlos de Pina. O jornal é mensal, tem quatro páginas policopiadas, é redigido no Luxemburgo, mas impresso em Portugal e reenviado para o Grão-DucadoDepois disso, alguns voluntários das APL, prontos a perder uns serões, em horário pós-laboral, escrevem à mão as moradas dos assinantes, colocam uma cinta nominativa no jornal para este ser enviado por correio (ver foto infra na página seguinte).

Fevereiro 1970: Na realidade, a primeira edição do CONTACTO só foi distribuída a partir de 19 de Fevereiro no Luxemburgo. "O jornal sofreu atraso devido a uma avaria na máquina de impressão em Portugal", lê-se no n°2. O primeiro número é enviado a 1.500 assinantes.

Lucien  Huss
(Arq.: Heroína de Pina)
Março 1970: Apresentação, no dia 7, do CONTACTO à imprensa luxemburguesa (lê-se na edição de Abril), na Maison de Cassal, (5, rue Large, na capital) perante jornalistas do Luxemburger Wort, Journal, La Meuse-Luxembourg, Républicain Lorrain, Tageblatt e RTL-Télé. A notícia saiu no Wort a 12 de Março (pág. 14 do LW). O CONTACTO noticia ainda nesse número a fundação da UADP-União Amigável dos Portugueses de Differdange.

Abril 1970: Um dos primeiros anunciantes do jornal é o Banco Português do Atlântico e mais tarde as lojas Sternberg, onde trabalhava Carlos de Pina. A Redacção fica situada no n°7, av. de la Gare, na capital.

Dezembro 1970: Primeira verdadeira reportagem do CONTACTO (pág.2): "As condições em que os portugueses vivem". Desde o inicio, o jornal mostra preocupação pelos problemas que afectam os portugueses no Luxemburgo, como a falta de condições nos alojamentos precários em que os trabalhadores portugueses vivem.

Abril/Maio 1971: Reportagem (na pág. 2) sobre os "passadores que levam sete mil escudos" a quem quer sair de Portugal "a salto". Lê-se como estes, em condições desumanas, trazem grupos de 20 pessoas, sem querer saber dos muitos que ficam pelo caminho. No seu “Noticiário português”, na página 5 da edição de Maio, o jornal anuncia o 1° torneio anual de futebol entre equipas portuguesas do Grão-Ducado.

Setembro 1971: O CONTACTO anuncia a chegada do padre Manuel Fernandes, que vai colaborar com o jornal durante cinco anos.

Fevereiro 1972: O CONTACTO faz manchete com o lançamento do programa "Despertar" na rádio RTL. São apenas 15 minutos, entre as 8h15 e as 8h30, aos domingos, mas é uma emissão que vai massivamente ser escutada pelos primeiros emigrantes no país. É uma iniciativa do Serviço Social do Governo luxemburguês, apresentado pela assistente social Maria Baptista Viegas e pelo professor Agostinho de Moura (ambos vindos de Portugal).

Abril 1972 : Criação da associação "Os Muselenses", em Remich, o que atesta que a comunidade esteve desde o início bem dispersa pelo país.

Outubro 1972: O Luxemburger Wort publica um anúncio no CONTACTO a questionar os leitores do jornal português se desejavam encontrar mais artigos em francês ou mesmo na sua língua no Wort.

Dezembro 1972: O CONTACTO refere (pág. 3) que em Novembro, um operário português, Arménio Rodrigues, a companhia "Schriver", recebeu um relógio de ouro por 10 anos de trabalho no seio da empresa, o que remete para bem antes de 1965 a chegada dos primeiros portugueses ao Luxemburgo. O CONTACTO muda-se do 3, rue du Fort Bourbon para o 29, rue Michel Welter, na capital, junto da Caritas. O jornal noticia a criação do Sport Dudelange e Benfica.

Março 1973: O CONTACTO começa a ser impresso na Gráfica de Gouveia, depois de ter sido impresso durante algum tempo na Gráfica da Casa dos Rapazes, em Viana do Castelo. É noticiado a criação da associação "União" em Weimerskirch.

Novembro 1973: Citando o Républicain Lorrain, o CONTACTO informa que há 20 mil portugueses no Grão-Ducado. Noticia ainda a criação da União Juventude Portuguesa de Esch (UJP).

Maio 1974: O jornal fala da Revolução dos Cravos e reivindica para os portugueses do Luxemburgo o direito de poderem votar nas primeiras eleições legislativas livres em Portugal.

Setembro 1975: É fundada a primeira associação cabo-verdiana do Luxemburgo (presidente: José da Luz; secretário: Armando Brito), a 31 de Agosto, no n°14, rue de la Gare, em Ettelbruck, noticia o CONTACTO (pág. 3).

Maio 1976: O Padre Manuel Fernandes deixa o Luxemburgo e a colaboração com o CONTACTO para regressar a Portugal.

Março 1977: Começa a ser publicado “O Trabalhador” (duas páginas), rubrica do sindicato LCGB. É nessas páginas que os portugueses vão ler pela primeira vez sobre o Comité de Conjuntura, a economia luxemburguesa, o Ofício de Conciliação e a Tripartida, entre outros assuntos. Inicialmente, a rubrica vinha nas páginas 3 e 4 do jornal. A partir de 1987, passa para a última página do jornal. A rubrica existiu até 2003 e foi essencialmente assegurada por João Ricacho, mas chegou a ter artigos assinados por Robert Weber, Joé Spier, Patrick Zanier e Marc Spautz.

Julho/Setembro 1977 : Notícia sobre as balizas do campo de futebol dos Lusitanos de Larochette que foram dinamitadas (25 de Junho) por um grupo de luxemburgueses para impedir os portugueses de treinarem naquele terreno. Na pág. 6 lê-se que o embaixador de Portugal no Luxemburgo, Carlos Empis Wemans, toma posse (ficará até 1982). Notícia ainda sobre o embaixador de Cabo Verde em Lisboa, Corsino Fortes, que visita o Luxemburgo a 15 de Julho.

Junho/Setembro 1978: Publicação da primeira necrologia com foto; antes, o obituário não passava de algumas breves linhas. Artigo (pág. 2) sobre a abertura do Centro Cultural de Esch, na rue des Boers. Aparecem as primeiras crónicas assinadas BN, do padre Belmiro Narino. Criação da FAPL (pág. 2) a 14 de Julho, com 14 equipas inscritas para o campeonato 1978/79.

Março 1979: É a primeira vez que o jornal aborda directamente a política luxemburguesa para falar das eleições legislativas de Junho, que viriam a ser ganhas pelo partido cristão-social (CSV) de Pierre Werner, após quatro anos socialistas (Gaston Thorn).

Reunião, cerca de 1970, das Amizades Portugal-Luxemburgo (APL) com (partindo da esquerda, sentados): Eduardo, Mirandolina Fernandes (Mili Tasch-Fernandes), Vítor Oliveira, Leonor e Lucien Huss; (de pé): José Martins de Carvalho (vice-presidente das APL). Muitos dos membros das APL contribuiam à redacção do jornal      (Foto: Arquivo Heroína de Pina)
Maio 1980: O CONTACTO escreve sobre a visita que o primeiro-ministro Francisco Sá-Carneiro (eleito em Janeiro) fez ao Luxemburgo (viria a falecer a 4 de Dezembro, numa acidente de aviação, em Camarate).

Março/Maio 1981: O jornal interroga-se nas suas páginas sobre a importância/dificuldade/necessidade de os alunos no Luxemburgo aprenderem três línguas em simultâneo. Notícia sobre a fundação de "Os Bairradinos" (pág. 5). A Redacção muda-se para o n°25, rue Léon Metz, em Esch/Alzette.


Agosto 1981: Primeira edição do Festival da Emigração (pág. 2) que teve lugar na place Guillaume, na capital, a 27 de Junho.

Janeiro/Fevereiro 1982: Notícia sobre a criação dos Escuteiros de Santo Afonso (pág. 5). Regresso a Portugal, a 20 de Janeiro, da colaboradora do jornal Fernanda Fernandes Figueiredo (FFF, ver entrevista na pág. XI)

1984: Primeira aparição de Jean-Claude Juncker nas páginas do CONTACTO, na edição de Abril (pág. 3). O jovem político tinha na altura 29 anos e era secretário de Estado do Trabalho e da Segurança Social. Em Outubro, o jornal começa a escrever sobre o regresso massivo de portugueses à pátria, movimento que se iniciou assim que foi aceite adesão de Portugal à CEE (1986).

1986: A 24 de Fevereiro morre Carlos de Pina, co-fundador do jornal com Lucien Huss.

A RETOMA PELO GRUPO SAINT-PAUL EM 1987

Maio 1987: A pedido das APL, que já não conseguiam assegurar as despesas de publicação e difusão (cerca de um milhar e meio de assinantes que pagava uma assinatura simbólica de 200 francos/ano), o jornal passa sob a alçada da Imprimerie Saint-Paul (hoje grupo saint-paul luxembourg), que embora mantendo a regularidade mensal da publicação, moderniza o grafismo e o logotipo. A Redacção passa para as instalações do Luxemburger Wort, em Gasperich, nos arredores da capital, onde ainda hoje se situa. O jornal passa a dispor de um redactor a meio-tempo (várias pessoas sucedem-se no lugar durante nove anos) e de alguns colaboradores free-lance, que asseguram uma média de 16 a 24 páginas mensais.

Dezembro 1996: É contratado o primeiro jornalista a tempo inteiro (José Luís Correia).

DE QUINZENÁRIO A SEMANÁRIO

Janeiro 1997: O jornal começa a ser publicado quinzenalmente. A tiragem aumenta para os 15 mil exemplares e chega a quase todos os lares portugueses do Grão-Ducado.

1998: Morte de Lucien Huss, co-fundador do CONTACTO.

Março 1999: O CONTACTO passa a semanário, ganha um novo grafismo e a equipa é reforçada: além de José Luís Correia, há uma segunda jornalista, Paula Ferreira, uma secretária, Manuela Geraldes, e Natália Morais assegura o Serviço de Correcções. Gaston Roderes é nomeado chefe de Redacção, sucedendo assim a Emile Rossler, que era responsável do jornal junto da direcção do grupo saint-paul desde 1987.

2000: O CONTACTO tem 30 anos (Janeiro). A 10 de Junho, o secretário de Estado das Comunidades distingue o nosso jornal com a placa de Mérito das Comunidades Portuguesas "pelo seu trabalho para a boa integração da comunidade portuguesa no Luxemburgo".

Agosto 2002: Partida de Gaston Roderes para a reforma. Marc Willière e Armand Thill (jornalistas do Wort) são nomeados encarregados da direcção junto do jornal. José Luís Correia passa a responsável da Redacção. A tiragem ultrapassa os 20 mil exemplares.

2004: Com uma tiragem média de 22 mil exemplares, o jornalista Romain Hilgert considera-o "um dos primeiros jornais do país", no livro que publica nesse ano dedicado à história da imprensa no Luxemburgo: "Les journaux au Luxembourg, 1704-2004" (Ed. Service Information et Presse, Imprimerie Centrale, Dezembro 2004 - pág. 230).

Os voluntários das APL não escreviam só artigos, também participavam à distribuição do jornal. As maquetas do CONTACTO eram enviadas para a impressão em Portugal e o jornal regressava já "composto" ao Luxemburgo. Alguns membros das APL passavam serões a escrever à mão as moradas dos assinantes (cerca de 1.500, no início dos anos 70)  em cintas nominativas para colcoar em torno do jornal para que este pudesse ser enviado por correio. Na foto (cerca de 1970): Manuel Maduro, José Martins de Carvalho (vice-presidente das APL) e Mirandolina Fernandes (Mili Tasch-Fernandes)   (Foto: Arquivo Heroína de Pina)
2005: O grupo saint-paul atravessa um período de crise financeira e o CONTACTO, que já tinha uma média semanal de 32 páginas, vê as suas páginas regressarem a 16. A Redacção, que chegou a contar seis elementos, é reduzida a dois jornalistas. No entanto, o CONTACTO passa a ter presença na internet em www.contacto.lu , onde é possível aos internautas tornarem-se assinantes.

2006: Ultrapassado o período de crise no grupo saint-paul e também graças à nova vaga de imigração portuguesa que se faz sentir no Luxemburgo, a empresa volta a investir no CONTACTO e a Redacção vê-se reforçada com Paula Telo Alves e Pedro Selas (este último regressa à equipa de que já fizera parte entre 2001 e 2004). Aos poucos, a paginação alarga-se da média de 16 para as 24 páginas.

2007: José Luís Correia é nomeado chefe de Redacção. Nuno Costa integra a equipa de Redacção. A tiragem ronda os 23 mil exemplares/semana.

2008: Com a contratação de Domingos Martins, a Redacção volta a ser composta por seis elementos. Com o constante aumento do volume publicitário, também a paginação cresce e oscila agora entre as 24 e as 32 páginas. O jornal começa a dedicar mais tempo e páginas a reportagens de fundo e de investigação, dossiês temáticos, além de seguir todas as vertentes da actualidade luxemburguesa e as notícias da comunidade lusófona do Grão-Ducado.

Maio 2009: O CONTACTO reforça a sua posição na internet. A par do site oficial ( www.contacto.lu ), a Redacção abre o seu blogue em http://semanariocontacto.blogspot.com/, bem como um serviço de notícias curtas e rápidas no Twitter (http://twitter.com/JornalContacto). A tiragem média ronda os 25 mil exemplares por semana.

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Evolução da tiragem

1970: c. 1.500 (mensário)
1975: c. 2500 (dos quais 500 são distribuídos em Portugal)
1979: c. 2.500
1984: c. 1.000
1987: c. 1.500
1997: c. 5.000 (quinzenário)
1999: c. 15.000 (semanário)
2004: c. 22.000
2008: c. 23.000
2010: c. 25.000
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Estimado Contacto, velho amigo de há 40 anos,


Mili Tasch-Fernandes
(Foto: Anouk Antony)
Como os tempos mudaram, como tu cresceste, como eu envelheci...

Das folhinhas finas e modestas que eras, há quatro décadas, tornaste-te um marco incontornável da paisagem da comunicação social da nossa Comunidade.

Quantas cintas de papel, com os endereços dos teus sócios, eu colei para que todos os teus leitores te recebessem, fresquinho, na caixa de correio... Ah "os velhos combatentes" daqueles primórdios da comunidade portuguesa que se radicou neste país! Tempos que não foram fáceis para ninguém, tempos em que nada havia, tempos em que tudo estava por realizar. Tempos em que o Casino Sindical de Bonnevoie era o ponto de encontro para festas e reuniões, que tu ias noticiando nas tuas modestas colunas. Tempos em que os artigos se escreviam à máquina, com aquele barulhinho tão genuinamente identificável.

Restam, contigo, as recordações dum punhado de gente que tanto trabalhou para desbravar o terreno árido que aqui viemos encontrar e o caminho percorrido juntos para que a nossa comunidade seja hoje o que ela é.

E tu, jornalinho de então, elo de contacto entre todos os que aqui se encontram fora da terra-mãe, tens sido um herói. Sim, sim, claro, mesmo com os teus defeitos... és o farol que tem vindo a iluminar a paisagem cultural desta nossa finisterra. Para cá viemos e, muitos de nós, por cá hão-de de ficar.

O que foi um sonho associativo de dois amigos que bem conheci e com quem trabalhei no mundo associativo, o Carlos Pina e o senhor Lucien Huss, tornou-se uma realidade de profissionais. Ninguém poderia prever o que tu te tornarias – um jornal "a sério", com uma redacção "comme il faut", com verdadeiros jornalistas, e com intelectuais a escrever nas tuas páginas. Um jornal com ambições que mesmo não podendo competir verdadeiramente com os outros órgãos de comunicação social luxemburgueses, ganhou meritoriamente o lugar que hoje ocupas neste panorama luxemburguês. Estás de parabéns amigo! Alguém que bem te conhece, porque participa na tua impressão, dizia-me que era extraordinário ver como o "jornal dos portugueses" alcançou uma tiragem tão importante – sobretudo comparando com os outros jornais da casa a que pertences. Calcula como eu fiquei emocionada ao ouvir semelhante observação! Tu cresceste, porque a nossa comunidade aumentou exponencialmente e porque, para nós todos, a tua existência continua a ser imprescindível. Tens sabido não só levantar questões delicadas e trazê-las à luz dos projectores, para o bem e para a defesa da comunidade portuguesa, como tens igualmente vindo a desenvolver um papel pedagógico e formativo para que o saber esteja ao alcance de todos os que cultivam o gosto pela informação e pelo conhecimento ao longo da vida. As tuas rubricas são variadas e para todos os gostos e, embora uma parte do teu leitorado seja assíduo leitor de outros jornais locais ou portugueses, tu és, tal como nos velhos tempos, o arauto da vida dos portugueses no Luxemburgo. Quando penso, que a um dado momento, os teus dias estiveram contados!

Quarenta anos é a idade madura, a altura em que se faz um balanço à vida. Pois bem, se me permites, caro amigo, podes ter a certeza que a tua existência tem-nos deixado um pouco menos órfãos do nosso país. Por isso mesmo, não esqueças: o que foi realizado até agora, tem de continuar a crescer. Sei bem que há crise, e que não é fácil aumentar o teu conteúdo porque tal facto se traduz imperativamente em implicações financeiras. Mas, olha, o que sempre me fez falta, foi encontrar um cantinho para os mais jovens (talvez recordações da minha infância e da minha adolescência e dos jornais que os meus pais liam e onde eu encontrava sempre leituras e passatempos...). Talvez por isso mesmo, tenha ficado com o prazer de querer levar às crianças o gosto pela leitura. Já assim, e nessa mesma ordem de ideias, e porque é um dos aspectos importantes neste teu leitorado, porquê não criar uma rubrica sobre a língua portuguesa, com dicas gramaticais e jogos para que muitos dos teus leitores possam continuar a manter vivo o nosso idioma? Nesta altura em que nos deparamos com a reforma ortográfica seria algo de muito interessante...

Pois bem, tenho-te acompanhado e partilhado muitas coisas contigo ao longo destas quatro décadas. Resta-me a certeza que outras quatro te esperam – o caminho mais penoso está feito. Só desejo que as novas gerações de portugueses e de luso-descendentes continuem a ser-te fiéis e a prosseguir a obra feita até agora. Quarenta anos de existência que fazem parte da história da nossa vida de emigrantes – uma presença que, espero, servirá de tema de estudo sociológico às gerações futuras.

A tua desde sempre fiel amiga e leitora,
Mili Tasch-Fernandes

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Le ministre qui a été rédacteur de CONTACTO éloge le parcours du journal

«Un bon miroir de l’immigration portugaise»

François Biltgen
(Foto: Guy Jallay)
Voilá quarante ans que le CONTACTO existe au Luxembourg. C’était le premier journal en langue portugaise au Luxembourg, qui connaissait à l’époque surtout des publications en allemand, voire en français. Les initiateurs du CONTACTO, membres des "Amizades Portugal-Luxemburgo/Amitiés Portugal-Luxembourg (APL)", étaient donc de véritables pionniers. En effet l’immigration portugaise au Luxembourg était encore jeune. Aussi le CONTACTO était-il à l’époque plutôt un produit artisanal, confectionné avec les moyens du bord par des amateurs engagés. Tirons le chapeau devant leur courage!

Aujourd’hui le CONTACTO, repris par l’imprimerie Saint-Paul depuis plus de vingt ans, est devenu un journal professionnel, qui a ses lecteurs fidèles et qui peut se targuer d’être un journal de qualité. A l’époque de sa fondation, le CONTACTO n’était pas connu du public luxembourgeois. Ou presque. En effet j’avais moi-même la chance, âgé à l’époque de onze ans, de tomber sur le CONTACTO parmi les journaux lus à la maison. En effet en 1970, mon père, instituteur aux écoles primaires d’Esch-sur-Alzette, était devenu un des premiers instituteurs volontaires pour reprendre une classe dite d’accueil réservée aux enfants d’immigrants portugais. C’est ainsi qu’il a appris le portugais, dans des cours du soir, et moi avec lui dans la foulée. Je peux donc me targuer d’avoir déjà feuilleté le CONTACTO à ses origines. Par la suite, dans les années quatre-vingt et quatre-vingt-dix quand j’entamais ma carrière politique, c’était devenu un devoir pour moi de contribuer moi-même à la rédaction de ce journal, à la demande du secrétaire général des Amitiés Portugal-Luxembourg, Lucien Huss, fondateur du journal. Ainsi je rédigeais régulièrement, en français cependant, des articles de fond sur la législation ou la politique au Luxembourg. Devenu moi-même président des Amitiés Portugal-Luxembourg, j’ai contribué à professionnaliser le CONTACTO, ce qui lui a fait le plus grand bien et j’ai continué à écrire des contributions. Depuis que je siège au Gouvernement, je ne suis plus collaborateur du journal, mais je suis toujours fier de répondre aux sollicitations d’interviews qui me viennent de la part de la rédaction du CONTACTO.

Quarante ans après sa fondation, le Contacto est un bon miroir de l’immigration portugaise au Luxembourg et je suis heureux que ce sont les APL qui sont en train d’en écrire l’histoire. En effet le CONTACTO reflète à merveille l’évolution de l’immigration et des soucis des immigrés portugais au Luxembourg. Le CONTACTO a beaucoup de mérites au service des immigrés portugais, des résidents portugais et voire même plus de tous les résidents au Luxembourg qui parlent ou comprennent le portugais et qui s’intéressent aux réflexions et aux soucis des résidents portugais ou luxembourgeois, d’origine ou à attaches lusophones. Le CONTACTO a bien mérité du pays.

François Biltgen
Ministre de la Justice
et des Communications,
Président d’honneur des APL

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Nicolas Schmit , Ministre du Travail, de l’Emploi et de l’Immigration

«CONTACTO est aujourd’hui l'un des premiers journaux du pays»

Nicolas Schmit
L’acquis de connaissances sur l’actualité de notre pays est un élément essentiel dans le cadre des amitiés luso-luxembourgeoises. Le lancement du magazine CONTACTO en 1970 au sein des Amizades Portugal-Luxemburgo et sous l'impulsion de MM. Lucien Huss et Carlos de Pina a constitué un premier pas très prometteur vers le renforcement de nos rapports mutuels. Voilà donc quarante ans déjà que CONTACTO a réussi à contribuer à cette aspiration en facilitant l’accès aux informations sur le Luxembourg pour nos concitoyens portugais et en favorisant le rapprochement entre la culture portugaise et la culture luxembourgeoise. Le magazine a pu évoluer, grâce à une vigueur appuyée et persévérante, pour devenir un protagoniste assidu dans le panorama des médias luxembourgeois.

C’est avec un plaisir toujours renouvelé que le public découvre les différentes éditions de CONTACTO et je suis particulièrement ravi de pouvoir saisir l’opportunité de vous inviter à découvrir cette publication qui est aujourd’hui l'un des premiers journaux du pays avec 24.000 tirages par semaine. En effet, ce magazine couvre des domaines très variés témoignant de la compétence de toute l’équipe de CONTACTO.

C’est de ce fait, qu’il me tient particulièrement à coeur de remercier chaleureusement les responsables pour l’excellent travail qu’ils ont accompli pendant ces 40 dernières années. C’est grâce à leurs efforts que, d’année en année, nos concitoyens lusophones disposent d’une opportunité unique pour se familiariser avec de multiples aspects de leur pays de résidence et que le public peut apprécier l’information dans sa langue maternelle. Il reste à souhaiter qu’à l’avenir encore plus de personnes, toutes générations confondues profiteront de cette occasion exceptionnelle que leur offre le magazine CONTACTO pour faciliter leur intégration.

En effet l’intégration suppose une bonne connaissance des réalités politiques, économiques, sociales et culturelles du pays où l’on vit et travaille. CONTACTO contribue ainsi à créer ces liens indispensables entre l’importante communauté portugaise et leur pays d’adoption.

En encourageant la collaboration entre le Luxembourg et le Portugal et en favorisant les rencontres entre les citoyens luxembourgeois et portugais, CONTACTO rend un service considérable à la cohésion sociale. Nous souhaitons au magazine qu’il continue sur sa lancée. Les relations entre le Portugal et le Luxembourg ont en effet une importance particulière pour le Ministre du Travail, de l’Emploi et de l’Immigration.

Nicolas Schmit
Ministre du Travail, de l’Emploi
et de l’Immigration

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Le témoignage du député "lusodescendant" Felix Braz

«Voir loin et voir juste»

Felix Braz
(Foto: Marc Wilwert)
Mes premiers contacts avec CONTACTO? A vrai dire, je ne m’en souviens pas avec certitude mais étant enfant et accompagnant mes parents au sein de la communauté portugaise du Grand-Duché je découvrais CONTACTO sur une table, un canapé, dans une salle d’attente... Je n’en saisissais pas l’ambition mais il avait une place à la fois irrégulière et récurrente dans mon petit monde.

Nous avons à peu de chose près le même âge, CONTACTO et moi, ce qui veut dire que vous vous êtes intéressés à la res publica (ndlr: la chose publique) bien avant moi - bien avant presque toutes et tous d’ailleurs...

CONTACTO s’est intéressé aux questions de l’immigration et de l’intégration - portugaise, mais pas seulement - et aux questions du Grand-Duché vues par et pour les migrants à une époque où cette initiative surprenait et étonnait. Les autres médias lusophones écrits et parlés, tout comme les associations-clé qui constituent aujourd’hui autant de piliers du débat multiculturel luxembourgeois, n’ont vu le jour que bien des années plus tard. CONTACTO avait vu loin et CONTACTO avait vu juste. C’est suffisamment méritoire pour le souligner!

Au Luxembourg, comme dans d’autres pays, la presse et les partis politiques ont des liens parfois étroits. Pourtant, même si CONTACTO ne renie pas sa famille philosophique, il ne fait pas de doute que lui reprocher d’être partisan serait une erreur. J’ai eu la possibilité, au fil des ans, d’apprécier le dévouement, l’honnêteté intellectuelle et le professionnalisme des journalistes de Contacto. Je les trouve exemplaires et j’aime les lire.

Un jour, je n’aurai plus de responsabilité politique. Ce jour là, en tant que citoyen, j’espère pouvoir encore compter sur CONTACTO pour m’informer. Pas sur tout, mais surtout très bien!

Avec mes meilleurs vœux et mon amitié.

Felix Braz
Député "Déi Gréng" (Les Verts); Échevin à Esch-sur-Alzette

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Entrevista com Léon Zeches

"O CONTACTO tem cumprido
a sua missão de forma exemplar"

A importância de os imigrantes conservarem as suas raízes e identidade foi sempre uma das preocupações de Léon Zeches        (Foto: Serge Waldbillig)
Léon Zeches, ex-administrador delegado e director das publicações do grupo saint-paul luxembourg, reformou-se no início deste ano, numa altura em que o CONTACTO celebra o seu 40° aniversário.

Acompanhou o crescimento do jornal desde que o semanário se instalou definitivamente na saint-paul, em 1987, e não esconde o orgulho de de ter ajudado a transformar o CONTACTO no líder dos semanários de informação a nível nacional.

Léon Zeches passa em revista os momentos mais importantes da história do CONTACTO. Uma história que acaba por se confundir com própria história da imigração portuguesa no Luxemburgo.

CONTACTO: A sua partida para a reforma coincide como o 40° aniversário do CONTACTO. Que balanço faz das quarto décadas do jornal?

Léon Zeches: Um balanço muito positivo. O jornal nasceu por necessidade de ajudar os imigrantes portugueses e também devido ao crescimento sociológico e mediático que teve lugar no Luxemburgo a partir dos anos 70. Como casa de imprensa, achámos que devíamos acompanhar esse fenómeno. A nossa preocupação foi também a de facilitar aos imigrantes, em geral, e de uma forma mais visível aos portugueses – de longe a maior comunidade residente no país – melhores condições de vida no Luxemburgo defendendo o princípio de que aqueles que vieram procurar uma vida melhor, por várias razões, preservassem a sua cultura e identidade. Fazer sentir aos políticos que era importante defender estas ideias foi sempre uma das minhas preocupações nos muitos editoriais que escrevi no Luxemburger Wort, ao longo dos anos.

O CONTACTO foi determinante nesse aspecto porque era um dos principais meios de informação a que os imigrantes tinham acesso. Com o decorrer dos anos, o crescimento da comunidade foi acompanhado, em paralelo, pelo jornal que tem desempenhado ao longos destes quarenta anos um papel fundamental, colocando-se ao serviço da comunidade lusófona das mais diversas formas, estreitando laços cada vez mais fortes e significativos.

CONTACTO: No início dos anos 70, o Luxemburger Wort começou também a publicar alguns artigos em português. Que significado teve essa medida?


L.Z.: O Wort teve sempre uma grande penetração nos lares luxemburgueses de todo o país. No início dos anos 70, a primeira tentativa de chegar aos portugueses foi através das páginas da Voix du Luxembourg, na época integradas no Wort, mas a experiência foi negativa porque a esmagadora maioria dos imigrantes portugueses não lia em francês. Então, pensámos que a melhor solução era publicar textos em português, no Wort, essencialmente dedicados à classe trabalhadora, contendo todas as informações necessárias para os ajudar a ultrapassar os problemas inerentes a quem chega a um país de acolhimento.

CONTACTO: Foi uma decisão natural o grupo saint-paul ter comprado o CONTACTO à Associação Amitiés Portugal-Luxembourg?


L.Z.: Foi sobretudo uma missão, que o grupo achou por bem levar a cabo, a favor da comunidade portuguesa, o que acabou por relançar o jornal de forma mais determinada. Lembro-me das prolongadas discussões que o monsenhor Schiltz, o abade Heiderscheid e eu mesmo, tivemos sobre essa questão. Apesar de sabermos que economicamente não teríamos lucros, a decisão foi positiva e ainda bem que a tomámos. A ligação do jornal ao LCGB também foi importante na medida em que os trabalhadores o recebiam gratuitamente por intermédio do sindicato. Entretanto, a comunidade portuguesa cresceu bastante e, paralelamente, o jornal também, facto que hoje registo com grande satisfação.

CONTACTO: Pensa que o CONTANTO tem sido um veículo importante na aproximação e integração da comunidade lusófona no país, favorecendo ao mesmo tempo as relações inter-comunitárias?


L.Z.: Sim, aliás essa sempre foi uma das principais prioridades do jornal. O CONTACTO tem-se colocado, sempre, ao serviço da comunidade lusófona e cumprido a sua missão de forma exemplar. Tem sido, e continua a ser, um elo de ligação importante na comunicação entre as comunidades no Luxemburgo. Volto a sublinhar aquilo que para mim foi sempre uma grande preocupação como homem e chefe de redacção: a importância de os não-luxemburgueses conservarem absolutamente as suas raízes e identidade. Nesse aspecto, o CONTACTO tem também desempenhado a sua missão de forma irrepreensível.

CONTACTO: Há dez anos havia quem anunciasse o fim do jornal, mas este tem vindo a reforçar cada vez mais a sua imagem. Com a nova vaga de imigração desde 2003, a existência do CONTACTO justifica-se mais que nunca. Como vê o futuro do jornal?


L.Z.: Um futuro que promete. É importante dizer que o jornal reforçou a sua imagem, de forma inequívoca, graças à sua cada vez mais competente e polivalente equipa de jornalistas. Posso afirmá-lo porque estive sempre atento à evolução e às metamorfoses que o jornal foi sofrendo ao longo da já sua significativa existência. O prestígio que o CONTACTO hoje tem, no seio da imprensa luxemburguesa é um dado adquirido e uma verdade indesmentível. O CONTACTO, além de ser o meio de comunicação preferido entre os portugueses e entre a população lusófona, é também líder dos semanários de informação a nível nacional. Com 11 % de taxa de penetração entre a população global, o CONTACTO é o semanário mais lido no país, à frente do Jeudi, que se fica pelos 7,1 %.


CONTACTO: O que pensa sobre as buscas efectuadas à redacção do jornal? Na sua opinião existe liberdade de imprensa no Luxemburgo, ou as empresas detentoras dos jornais estão condicionadas pelo poder político e económico ?


L.Z. Quanto à primeira questão, foi uma situação bastante desagradável, infundada, que nunca deveria ter acontecido e com a qual não posso, obviamente, estar de acordo. Sobre a segunda pergunta, entendo que não há liberdade de imprensa no seu "estado puro". É extremamente complicado falar de liberdade e de todas as suas vertentes. A liberdade nos países com regimes ditatoriais não existe porque os jornais pertencem ao Estado.

Nos países considerados democráticos ela existe e é um direito consagrado na constituição. No entanto, em certos casos, como por exemplo na publicidade, da qual a generalidade dos media é dependente, a liberdade de imprensa, por vezes, não é tão clara. Sobre a influência do poder político, entendo que não somos dependentes. No entanto, por vezes, acontece que a política e a imprensa se misturam. Existe incompatibilidade deontológica se um jornalista for, por exemplo, deputado, apesar de alguns jornais e jornalistas poderem ser conotados com um determinado partido político, o que acontece muitas vezes. Mas esse facto não pode nem deve retirar a objectividade quando um jornalista exerce a sua profissão, apesar de as tendências políticas que alguns possam, por paradoxal que pareça, serem consideradas também um sinal de liberdade de imprensa

Á. Cruz

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"O CONTACTO nasceu na cabeça
do meu marido, ele era um sonhador!"

Retrato de Carlos de Pina, fundador do CONTACTO e visionário. 
Entrevista com Heroína de Pina.

Há homens assim. O futuro encarregar-se-á de os apelidar de visionários. Na altura, o que os moveu foi a convicção de poder transformar sonhos e ideais em projectos concretos. Arregaçam mangas e lançam obra, simplesmente porque não existe e porque faz falta. E porque acreditam. Carlos de Pina foi um desses homens, foi um dos fundadores do CONTACTO, mas também da associação Amizades Portugal-Luxemburgo (APL) e de muitos outros projectos que criaram raízes neste país. Falámos com a sua viúva, Heroína de Pina, que além de companheira de uma vida, partilhou com ele sonhos e viu nascer projectos que fazem hoje parte da história da imigração portuguesa no Grão-Ducado. Projectos como o CONTACTO. Quisemos conhecer melhor aquele que foi um dos principais mentores e impulsionadores do nosso jornal.

Carlos Alberto Ferreira de Pina nasceu em 1927 em Cascais. Foi chefe de escritório numa empresa em Lisboa. É aí que conhece Heroína de Pina, natural de Almada, onde nasceu em 1936. Casam em 1959 e vão morar para a Cova da Piedade. Cinco anos depois emigram.

"Vim para o Luxemburgo no Inverno de 1964, já com duas meninas, uma com um ano e meio, a outra com três (outras duas nasceriam cá). O meu marido tinha vindo nesse Verão. Não havia muitos portugueses cá e quando se ouvia falar português era uma admiração enorme", recorda Heroína.

Quando chegou ao Luxemburgo, Carlos de Pina "não pôde trabalhar na sua profissão", porque não dominava a língua do país. Encontrou assim um primeiro emprego como electricista. "O pai dele tinha uma empresa de instalações eléctricas em Portugal, e ele gostava e percebia de electricidade. Mas como não estava habituado àqueles trabalhos, pouco depois de começar a trabalhar, caiu numa obra, partiu um braço e nunca mais ficou bom do punho, o que o impossibilitou de continuar nessa profissão. Foi trabalhar como fiel de armazém para os ‘Grands Magasins Sternberg’ (n.d.R. : famosa cadeia de lojas que existia então no Luxemburgo), onde trabalhou até ir para a Maison Sociale", conta Heroína.

"Mas assim que aqui chegou, o meu marido começou logo a organizar coisas para os portugueses. Conseguiu mobilizar gente para organizar a primeira festa do 10 de Junho, em 1965. Foi celebrada uma missa na Catedral e depois fez-se um almoço e um convívio no Casino de Bonnevoie", conta. Segundo Heroína, participaram nesse Dia de Portugal cerca de 200 portugueses, cerca de metade dos que havia no Luxemburgo na altura, estima por alto.

Em Portugal, C. Pina era membro da Acção Católica. "Quando chegámos ao Luxemburgo não havia Consulado de Portugal, apenas um cônsul-honorário, o José Mendes Costa", lembra. C. Pina dirige-se assim às autoridades luxemburgueses quando precisa de organizar alguma iniciativa. Conhece Marcel Barnich, encarregado do Serviço Social para a Mão-de-Obra Estrangeira, que o põe em contacto com Lucien Huss, da Acção dos Homens Católicos do Luxemburgo.

Heroína recorda a amizade que unia o seu marido a Lucien Huss. "O senhor Huss foi um grande amigo dos portugueses, foi um dos fundadores mais activos das APL, fundador do CONTACTO e aquele que mais tempo escreveu para o jornal, até o grupo saint-paul o retomar, em 1987". Com o apoio de Lucien Huss, C. Pina pode finalmente lançar o projecto de uma associação portuguesa, a primeira do Luxemburgo.

"Nos anos 60, não se podia formar uma associação sem que dois terços dos fundadores fossem luxemburgueses". É assim que, nos estatutos (de Fevereiro de 1969) ao lado dos nomes de Pina e de Huss surgem os nomes de Manuel Pereira (padre português destacado no Luxemburgo), Marcel Glesener, Gustave Glodt e Charles Kraus.

"Mas a inspiração para criar as APL, bem como o CONTACTO, nasceu na cabeça do meu marido. Ele era um sonhador. Quando as APL foram criadas, ele já tinha um organigrama todo preparado para que um dia existissem secções da associação em todo o Luxemburgo. Ele defendia que os delegados de cada secção deviam formar uma força tão grande que podiam reivindicar os direitos dos emigrantes a nível nacional. Na altura, os emigrantes tinham muito poucos direitos e ele queria mudar isso. Na altura não havia nada, faltava fazer tudo", resume Heroína.

"Depois de se criar a associação, em 1969, e o jornal, em 1970, foram também as APL que criaram o primeiro rancho português do Luxemburgo em Março de 1971. A primeira ou uma das primeiras actuações foi aliás aquando da peregrinação de Wiltz, em Maio desse ano. O rancho chamava-se "Flores de Portugal". O passo seguinte foi criar o primeiro clube de futebol”.

CASA SOCIAL: PROJECTO PERCURSOR PARA ACOLHER OS PORTUGUESES

Outro dos projectos que C. Pina ajudou a criar e que Heroína fez questão de nos falar foi a "Maison Sociale" que o marido dirigiu nos anos 70. Depois de falar mais uma vez a Barnich sobre os trabalhadores portugueses que eram mandados vir para o Grão-Ducado por empresas, mas que aqui chegavam e tinham que viver em quartos, a sete ou oito, o responsável do Serviço Social é sensível aos seus argumentos. Em 1970, o Governo luxemburguês subvenciona o projecto-piloto de uma casa social, em conjunto com duas das principais empresas que mandavam vir mão-de-obra de Portugal, a Soludec e a Constructions Diederich-Colas (ou CDC ). "O Estado comprou um antigo hotel, onde os portugueses recém-chegados podiam comer refeições quentes, receber assistência social e até podiam ter um quarto durante um certo tempo até encontrarem ou terem possibilidades de pagarem alojamento próprio. Como a ideia tinha sido dele, o sr. Barnich convidou o meu marido para dirigir a casa, o que ele fez até 1977, ano em que se reformou devido a problemas cardíacos".

Heroína conta-nos quanto era difícil para os portugueses encontrar quem lhes arrendasse um apartamento. "O facto de muitos homens, por vezes sete ou oito, viverem em quartos sobrelotados, onde não podiam ter condições de higiene mínimas, lançou o preconceito de que os portugueses não eram asseados. Muitos luxemburgueses não lhes queriam arrendar casa. Cheguei a acompanhar portugueses a agências para que lhes alugassem casa. Cheguei a perguntar em algumas reuniões com autoridades luxemburguesas porque razão os portugueses podiam construir as casas dos luxemburgueses, as mulheres portuguesas limpavam-nas, mas para lá morarem não serviam... Era uma grande injustiça", lamenta. Mas, depois destes anos todos, Heroína hoje dá o desconto e diz que na altura "os luxemburgueses ainda não conheciam os portugueses". "A comunidade hoje é mais respeitada e isso deve-se aos próprios portugueses. E a própria evolução da comunidade ao longo de mais de 40 anos, com portugueses hoje activos nos mais diversos sectores, incluindo nas instituições europeias, também ajudou a mudar essa ideia do início", diz.

A NECESSIDADE DE "CONTACTO"

Heroína faz questão de dizer que não foi uma das fundadoras do jornal, "mas através do meu marido estive sempre ligada ao jornal de uma forma ou de outra".

"Quando as APL nasceram, o meu marido defendeu que a associação precisava de um boletim, para que a informação circulasse entre os membros. Apareceu a ‘Voz do Imigrante’ que saiu de forma irregular em 1969. Os textos eram escritos à máquina, reuniam-se informações, pequenas notícias, a Missão Católica luxemburguesa policopiava as folhas e o boletim era distribuído nos sítios públicos, à saída das missas, nas festas portuguesas e chegava assim às mãos dos emigrantes. Mas depressa o meu marido viu a necessidade de criar um verdadeiro jornal".

Heroína de Pina abriu-nos os seus arquivos e os seus álbuns de fotografias para nos falar como o seu marido foi um dos fundadores do CONTACTO      (Foto: JLC)
Heroína situa-nos naquele tempo. "No fim dos anos 60 não havia televisão portuguesa no Luxemburgo, nem jornais. Portugal era muito longe e as notícias não chegavam com a facilidade com que chegam hoje. Não havia voos do Luxemburgo para Portugal como há hoje, viajava-se de comboio, depois de autocarro, poucos eram os que tinham carro próprio. E havia assim a necessidade de informar os portugueses sobre o país que tinham deixado, mas também sobre o seu novo país de residência. Os portugueses ficavam assim a saber onde dirigir-se, onde contactar outros compatriotas, ficavam a conhecer os seus direitos, como funcionavam as leis e as administrações luxemburguesas".

E porque não se manteve o nome do boletim? "Já existia um jornal chamado ‘A Voz do Imigrante’ noutra comunidade ou com um nome parecido. Tentámos encontrar outro. A palavra "contacto” parecia a mais adequada, porque era isso que o jornal pretendia: pôr em contacto os portugueses e Portugal, os portugueses daqui entre eles, pois já se encontravam bastante dispersos pelo país, mas também os portugueses e a sociedade luxemburguesa.”


É assim que o CONTACTO nasce em Janeiro de 1970. Heroína lembra-se do marido a colar os artigos que ele e outros tinham escrito. "Ele ‘arrumava’ os artigos numa grande folha, compunha as páginas do jornal, uma a uma, na altura eram entre quatro e oito páginas, assinalava quais os artigos que levavam foto, juntava as fotografias aos artigos e enviava tudo por correio para Portugal, para ser impresso. Algumas semanas depois, chegavam os jornais, já impressos. Era depois preciso mobilizar alguns voluntários das APL para ajudarem a escrever à mão a morada dos assinantes numa cinta a colocar em cada jornal para o poder enviar por correio."

Heroína conta que outra das "missões" do marido era recrutar pessoas para redigir artigos, porque ele "via-se aflito" para escrever tudo. "Ele até escrevia textos com iniciais diferentes para parecer que eram mais pessoas a escrever o jornal. Umas vezes assinava C.P. (Carlos de Pina), outras A.F. (Alberto Ferreira), ou ainda C.A. (Carlos Alberto) ou F.P. (Ferreira de Pina)", ri-se Heroína.

O jornal era distribuído entre os membros das APL, a quota anual incluía uma assinatura ao jornal. O jornal não era vendido para fora e o número de assinantes foi assim durante longos anos o mesmo número dos sócios das APL. Nos últimos anos em que as APL editaram o CONTACTO (até 1987), as despesas com a impressão feita em Portugal, os custos de envio do e para o Luxemburgo, e o próprio conteúdo redaccional passaram a não poder mais ser suportados por alguns já poucos resistentes que mantinham ainda activo o jornal, como L. Huss, já em idade avançada (viria a falecer em 1998), porque C. Pina tinha entretanto adoecido e já não podia ajudar.

"Desde o início, o meu marido sempre lutou para que o CONTACTO fosse um jornal reconhecido e integrado na sociedade luxemburguesa. Imprimir o jornal em Portugal sempre o incomodou, não só porque era difícil difícil e moroso – e eram frequentes os atrasos, ou por causa da tipografia ou dos correios –, mas porque o que ele queria era que tanto as APL como o jornal fossem reconhecidos pelas autoridades grã-ducais. Ele dizia que só assim teriam peso e voz junto das autoridades."

"E foi o sr. Huss a ir bater à porta do [Luxemburger] Wort para lhes pedir que o grupo saint-paul retomasse o jornal. A ideia inicial era incluir umas páginas em português no Wort”, conta Heroína.

Na verdade, o Wort tinha até já experimentado publicar algumas breves em português no final dos anos 70, o que mostra que os editores de Gasperich estavam atentos ao aparecimento de jornais na comunidade lusa, como o CONTACTO (ou outros como "A Nossa Voz", que a União-Centro Cooperativo editou durante 20 anos). Com a retoma pelo grupo saint-paul, o CONTACTO recebia o reconhecimento do mais antigo e conceituado jornal do país e via-se integrado numa verdadeira casa de imprensa luxemburguesa, causas pelas quais Carlos de Pina sempre lutou.

"Ele faleceu sem ver o seu sonho realizado, mas realizou-se pouco tempo depois", diz em jeito de consolo Heroína. Carlos de Pina faleceu em 1986 e o CONTACTO passou a estar sob a alçada do Wort em Maio de 1987. "Hoje, o CONTACTO é tratado como um órgão de imprensa igual aos outros jornais luxemburgueses e isso também enaltece o valor da comunidade portuguesa", considera Heroína.

MOSTRAR O VALOR DOS PORTUGUESES

Ainda antes dos nos despedirmos, Heroína lembra-se também de nos falar de um outra grande acção conjunta das APL e do CONTACTO: o lançamento, entre 1970 e 1974, de um "Grande Concurso de Trabalhos Práticos e Manuais", que tinha centenas de participantes e alcançou uma enorme popularidade entre a comunidade na altura. Mais uma vez a iniciativa partiu de C. Pina. "O meu marido queria mostrar aos luxemburgueses que os portugueses não sabiam só ser pedreiros e mulheres de limpeza, que tinham habilidades artísticas", conta Heroína. Os concorrentes participavam com trabalhos em madeira, ferro, barro, e até em renda e crochet. As obras eram depois mostradas numa grande exposição, em que toda a comunidade afluía. Os prémios eram dados pelas APL ou eram oferecidos por algumas autarquias portuguesas. "O meu marido escrevia para as câmaras em Portugal, das zonas de onde eram oriundos os emigrantes e pedia para estas participarem com prémios para os seus conterrâneos. Havia prémios como galhardetes ou lembranças, mas para os primeiros prémios chegámos a oferecer viagens a Portugal".

José Luís Correia
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Paul Lenert: 40e anniversaire de CONTACTO

Favoriser l’intégration
de la communauté portugaise

Paul Lenert
CONTACTO est né en janvier 1970, au moment de l’envol de l’immigration portugaise au Luxembourg, en tant que feuille de liaison pour ces travailleurs expatriés. Au début des années 1970 le syndicat LCGB se rend rapidement compte des difficultés de compréhension et de communication rencontrées par les immigrés de cette partie de la péninsule ibérique, pour la plupart des ouvriers. Une alliée est rapidement trouvée dans l’association "Les Amitiés Portugal-Luxembourg" et les deux groupements décident de créer une publication, en quelque sorte un guide pratique qui permettrait aux Portugais de se familiariser avec les us et coutumes et de se retrouver dans le dédale administratif de leur pays d’accueil. Ainsi, CONTACTO est né de la volonté de créer un vecteur d’intégration pour les immigrés lusophones.

Notre maison d’édition décide de reprendre en mains le mensuel à un moment où l’avenir de celui-ci est compromis. Les responsables de l’imprimerie saint-paul de l’époque avaient réalisé l’importance de CONTACTO pour la communauté lusophone et, conformément à leur mission journalistique, ils ont entrepris d’en faire une publication de qualité, à l’instar du quotidien "Luxemburger Wort", qui est publié par le même éditeur. Le succès du journal auprès des lecteurs et la fidélité de ceux-ci ont rapidement confirmé les choix faits à l’époque. C’est ainsi que la publication est passée d’un rythme mensuel à un rythme bimensuel avant de s’établir comme hebdomadaire. Le succès aidant, les publicitaires ont également commencé à s’intéresser à la publication et à y insérer de la publicité. Dans le cas de CONTACTO c’est surtout l’attachement des lecteurs qui est la meilleure récompense pour l’engagement de l’éditeur aussi bien que des journalistes, plus que la réalisation de visées lucratives.

A côté de CONTACTO, la station de radio "RadioLatina" poursuit la même mission. Nullement en concurrence, ces deux médias se complètent harmonieusement et continuent d’œuvrer dans le sens des aspirations des fondateurs de CONTACTO: favoriser l’intégration de la communauté portugaise et travailler en faveur d’une meilleure compréhension entre les communautés.

En 1970, la population totale du Luxembourg s’élève à 340.000 habitants, dont 5.800 ressortissants portugais. 40 ans plus tard le Luxembourg compte 493.000 résidents et est devenu de plus en plus cosmopolite. Nos amis portugais représentent à l’heure actuelle la plus grande communauté étrangère au Grand-Duché avec 80.000 ressortissants. Même si les défis linguistiques ont évolué entretemps, la raison d’être et la mission de CONTACTO restent toujours d’actualité. De ce fait nous avons toutes les raisons d’être confiants pour l’avenir de CONTACTO et nous sommes certains qu’il puisse continuer sur sa lancée.

Je saisis l’occasion de cet anniversaire pour remercier mes collègues de la rédaction de leur dévouement et de leur engagement et j’exprime également ma gratitude à tous les correspondants pour leur enthousiasme et leur fidélité. Sans eux un tel journal ne serait que difficilement réalisable.

Finalement, CONTACTO n’aurait pas réussi à se maintenir pendant 40 ans sans le soutien et la fidélité de ses lecteurs et de ses annonceurs. Qu’ils en soient également chaleureusement remerciés à cette occasion.


Paul Lenert
directeur général, directeur des rédactions de saint-paul luxembourg

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40 anos de jornalistas e repórteres

Responsáveis e chefes da Redacção: Carlos de Pina (1970-1977/86), Lucien Huss (1970-1987), Emile Rossle r (1987-1998), Gaston Roderes (1999-2002), Marc Willière e Armand Thill (2002-2007) e José Luís Correia (desde 1996; redactor responsável até 2007 e depois chefe de Redacção).

Equipas de Redacção: Fernanda Fernandes Figueiredo (1971-1981), padre Belmiro Narino (desde 1978), Fernando Cardoso (1987-1990), Manuela Geraldes (1989-1994 e 1999-2003), Maria Dulce C. Gonçalves, Joana Barragan (1994-1996), Isabel Silva (1999-2002), Paula Ferreira (1999-2005), Natália Morais (1999-2004), Álvaro Cruz (desde 1999), Pedro Selas (2001-2004 e desde 2006), Paula Telo Alves (desde 2006) Nuno Costa (desde 2007) e Domingos Martins (desde 2008).

Correspondentes e Colaboradores entre 1970 e 2010: José Martins de Carvalho , Charles Kraus, Mirandolina Fernandes (hoje Mili-Tasch Fernandes), padre Manuel Fernandes, Manuel Maduro, Carlos Bernardino, Jaime B.C. Baião, padre Mario Consonni, François Biltgen, António Sacras, Gândara Filho, Amílcar M. Monteiro, José Paulo Vaz, Maria José Amaral de Almeida, Vasco Callixto, Pedro, Manoel de Melo, Carlos Fonseca de Melo, Arlindo Branquinho F. Pascoal, Manuel Dias, padre Hugo Fent, Lotty Collet, E. Muhlen, Valério de Matteis, Anabela Valente, Elisabete Gonçalves, A. Dias, Avelino Gomes, Luís Santos, João Meira, Elisabete Soares, Paula Gomes, Luís Barreira, Margarida Gouveia, Manuel Silva (mars), Georges Schmit, Licínio Moreira, Isabel Schweig-Matos, António Rocha da Costa, António Moreira, Elisabeth Cardoso Guy Reger, Jordão, Olga Cardoso Jordão, Paulo Bastos, João Paulo Farrajota, Nico Hoffman, Henri Dunkel, Robert Weber, João Ricacho, Joé Spier, Patrick Zanier, Marc Spautz, Joey Mendonça, A. Salvador, Carlos Isidoro, José Loures, M. Pereira de Matos, Manuel Chora, Marcelino Borges de Macedo, Rui Serro, Paulo Figueiras, João Caniço, Raúl Reis, Cristina de Sá, Carlos Roso, Mário Costa, Fernando Pinto, José Dias Campinho, Sílvio Carvalho, Delfina Beirão, Júlio Silva, Armando Lagoas da Silva, Marie-Jeanne dos Santos, Pedro Rodrigues, Célia Cambraia, Luís Miguel Antunes, Franck Colotte, padre José Narino Figueira, padre Delfim Pires, Philippe Schlesser, Mariana Wathelet, Radu Vasile, Mário da Silva Moura, J.C. d'Almeida, Gualter Veríssimo, Jorge Guerreiro, Ana Maria Albuquerque, Eunice Simão, Sandra Parracho Soares, Pedro Pim (Pimpão Coelho), Patrícia Luz, Natalino Barbosa, Siamara Sequeira, padre Pierre Henckes, Adelino Alves, Manuel B. da Costa, Bruno Guerra, Rui Dias Costa, Luís Macedo Pereira, Fátima Nunes, Carlos Vicente, Fernando Almeida, António Matias, Pedro Sebastião, Ricardo Fajardo, Ruy Azevedo, Ruí Teixeira Neves, Dan Roder, Filipa Lopes, Paula de Lemos, Luís Mascarenhas Gaivão, Jorge Carvalho Arroteia, Hugo Almeida, Domingos Pereira, Clara Guedes, Joaquim Faustino Ângelo, Joaquim Monteiro, Nuno Nascimento Coimbra, Cristina Gonçalves, Luiz Varela, Alexandra Martins, Alcides Costa, Liliana Miranda Eires, Paulo Lobo, Jorge Rodrigues, Suzana Lopes Cascão, Maria José Freitas, João da Luz, Victor Cunha, Sérgio Ferreira Borges, Pedro Castilho, Amanda Temístocles, Cristina Casimiro, Mário Pinto, Carlos de Jesus, Sérgio Lontro, Ricardo Silva, Susana Mota, Luís Pedro Crespo, Vera Alves, Cristina Francês Lopes, José Bento, Sandrina Simões, Joana Ferreira Barros, João Represas, Laura Haanpaa, André Soares, Pedro Venâncio, Irina Ferreira, Maria Januário, Mafalda Lapa, Jenilson Vaz, João Paulo Tomás, Hugo Guedes, Carla Fernandes, Teresa Pignatelli, Sandra Resende, Carla do Carmo, Victor "sug(r)cane" Ferreira, Alexandre Torres, Nelson Azevedo, Carlos Almeida, Maria José Almeida, Marlene Soares, Sandra Mendes, Ana Lívia, Francisco d'Oliveira, Jessica Nunes Lobo, Flávia Diniz, Aneli Silva, Artur Novais, Paulo de Sousa, Hugo Reis, Cristina Campos, Carlos Fernandes Duarte, Joaquim Pedreira, Dulce Ramos, José Amaral, Sabrina Sousa, Ricardo Rodrigues Silva, Andreia Marques Pereira, Cristóvão Marinheiro e António de Vasconcelos Nogueira.

...entre muitos outros, que não foram esquecidos, e que de forma directa ou indirecta contribuiram para que o CONTACTIO chegasse e continue a chegar às mãos dos leitores: não só os membros das APL que durante 17 anos redigiram e ajudaram a preparar o jornal, como a direcção e as equipas técnicas do grupo saint-paul, desde os serviços de fotocomposição, paginação, fotografia, reprografia, rotativas, anúncios, publicidade, arquivos, até aos serviços de marketing e expedição.

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Dez anos a fazer o CONTACTO, Fernanda Fernandes Figueiredo recorda

"Nós no CONTACTO sabíamos tudo"


Fernanda Figueiredo
Chegou ao Luxemburgo em 1964. Casada, dois filhos e um diploma em costura do antigo 5° ano da escola industrial. Francês? Pouco ou nada falava quando aqui chegou. Esteve 18 anos no Luxemburgo. Foi costureira de profissão e nas horas vagas fazia o CONTACTO. Durante dez anos deu aos conterrâneos do Grão-Ducado as notícias que interessavam à comunidade portuguesa.

"No atelier toda a gente falava numa língua que desconhecia, mas ela nada ouvia, absorta e distante, pensando nos seus estranhos projectos (...). Já sete e dez, disse para consigo, como o tempo passa. E sempre caminhando, atravessou-lhe a mente a casa, a família e todos os problemas repetidos dia-a-dia. O filho lamentando-se, por não saber fazer os deveres da escola. Como lhos ensinar, se não percebia uma palavra de alemão? E como reconfortá-lo, quando ele se vinha queixar dos colegas que lhe batiam e não brincavam com ele porque os pais lho proibiam? Fazia-lhe pena o garoto, que se tornara tímido, revoltado e cheio de complexos. Deitava-se tarde. Fazer o jantar, preparar a marmita para o marido levar para o trabalho, lavar a louça, e dar uma arrumação e limpeza aqui e ali, quando findava estava exausta. O filho já dormia e, com o televisor ligado, o marido ressonava deitado no divã da sala, sem mesmo ter despido a roupa do trabalho, tão cansado estava". O relato faz parte de um texto publicado no CONTACTO na década de 70 e compi lado no livro "Antes que a noite caia”, de Fernanda Figueiredo Fernandes (FFF, como assinava todos os escritos no jornal). Está feito na terceira pessoa, mas não é difícil adivinhar de quem trata afinal esta história.

"É minha. Sou eu. Tudo isso é verdade. Trabalhei num atelier de costura onde éramos 12 a trabalhar em arranjos. Foi o meu primeiro emprego no Luxemburgo. Elas não me aceitavam. Falavam todas em luxemburguês e eu que tinha feito um curso de francês, em Portugal, à pressa, antes de partir, não percebia nada daquela língua", conta ao CONTACTO FFF.

"Era a minha vida, como era a de quase todas as mulheres emigrantes portugueses no Grão-Ducado. E a história do miúdo? É também a do meu filho. Até lhe partiram os óculos na escola, durante o recreio. Era o único aluno português na escola de Strassen, onde morávamos. Fui falar com o professor e a resposta que ele me deu foi que 'se defenda’. Os meus filhos, um tinha onze e o outro seis anos, quando emigrámos. Começaram os dois na mesma classe, no primeiro ano da escola luxemburguesa. O mais velho acabaria por estudar na Bélgica. Licenciou-se em Engenharia Electrónica e já se reformou como engenheiro electrónico da NATO. Tem agora 56 anos e está aqui em Portugal, ao pé de mim. O outro, o mais novo, foi durante muitos anos empregado da Villeroy & Boch. Despediu-se há pouco tempo. Tem 51 anos e ainda aí está, mora em Esch-sur-Alzette".

Os filhos casaram-se no Luxemburgo com mulheres portuguesas. Tiveram filhos que "estão ai", mas ambos se divorciaram. "O mais velho tem uma filha que é educadora de infância, tem agora 28 anos. " O meu filho mais novo tem uma história mais complicada: casou-se, teve duas meninas gémeas, também com 28 anos – uma é enfermeira a outra é advogada – divorciou-se, depois casou com uma luxemburguesa, de quem tem um filho de dez anos, divorciou-se outra vez e agora vive com uma mulher marroquina, aí em Esch".

E o seu marido? "O meu ex-marido! Nós voltámos para Portugal porque ele caiu de uma caterpillar e reformaram-no logo. Ele trabalhava nas obras, a abrir estradas. Quando chegámos a Portugal também nos divorciámos.

O PADRE QUE AGORA JÁ NÃO É PADRE

Chegada em 1964 ao Luxemburgo de comboio com os dois filhos – o marido já cá estava –, a aventura de escrever no CONTACTO chegaria seis anos mais tarde, em 1971. "Um dia o Sr. Carlos Pina, que tinha fundado o jornal, chegou ao pé de mim e pediu-me para substituir um senhor no jornal que ia, ou já tinha, agora não me recordo, regressado a Portugal. Eu tinha feito o 5° ano e sabia escrever bem em português. Entretanto já dominava o francês e podia fazer o trabalho que ele queria".

O primeiro jornal a sair das mãos de FFF foi em Fevereiro de 1971. A primeira página é hoje aqui reproduzida. Dá conta do luto da comunidade portuguesa por causa de um acidente na estrada que matou dez imigrantes, que regressavam de um período de férias em Portugal.

O texto começa assim: "Nos dias 28 e 29 de Janeiro uma notícia difundida pela rádio e imprensa semeou a tristeza entre os emigrantes portugueses no Luxemburgo – com relevo para Esch/Alzette – e também podemos dizê-lo entre os luxemburgueses: um terrível acidente de estrada fizera dez vítimas... dez emigrantes portugueses".

Depois, no segundo parágrafo, encontra-se a notícia: "Uma carrinha ao serviço do Sr. Basílio Alves, trazendo de regresso de férias vários portugueses domiciliados em Esch, colidiu com um camião cisterna, na região de Bordéus, já bem conhecido como o túmulo dos portugueses. O choque provocou uma terrível explosão e a carrinha depressa foi pasto das chamas. O resultado foi catastrófico: dez mortos e uma menina gravemente queimada".

No final do artigo vem o nome das vítimas e o lado esquerdo da página encerra com um poema de FFF, como era seu hábito. Todos os meses escrevia um poema. "A veia de poeta? Tenho-a no sangue desde pequena. Aliás tenho um livro publicado aqui em Portugal só de poesia". Mas os poemas que publicava no CONTACTO eram sobre o que temas? "Olhe, esse da página a negro com a cruz é sobre as mortes na estrada. Muitas vezes eram a propósito das notícias publicadas, mas havia alturas em que os poemas eram de inspiração momentânea", refere ao CONTACTO FFF.

"Eu fazia tudo no jornal. Escrevia o 'Conto do Mês', o Cantinho Feminino' e depois traduzia os textos que me chegavam à mão, do professor Kraus e do Sr. Huss. Escrevia tudo à mão, porque me despachava mais depressa do que se escrevesse à máquina. Calculava o espaço dos textos, numerava-os e mandava-os para a Gráfica de Gouveia, aqui em Portugal. Depois de impresso, o jornal voltava para o Luxemburgo para ser distribuído pelos nossos assinantes. Foram dez anos a fazer isto", recorda FFF. E continua. "O jornal era feito pelo senhor Lucien Huss, o fundador do CONTACTO e um dos fundadores das Amizades Portugal-Luxemburgo, por mim, pelo padre, que agora já não é padre, Manuel Simões, da Missão Católica Portuguesa, e pelo Sr. Kraus. O LCGB também escrevia. Ao todo fazíamos seis páginas".

"- Um padre que já não é padre? Conte-nos lá essa história." "É simples: o padre da Missão Católica, quando saiu do Luxemburgo foi para França, conheceu lá uma mulher, casou e tem filhos e netos. Agora está aqui a viver na Figueira da Foz, com a mulher que por acaso até é minha amiga de infância. O padre Simões, agora até me queria comprar um quadro de uma paisagem no Luxemburgo - eu gosto muito de pintar e faço parte de uma Associação de Pintura aqui na Figueira. Eu é que não lho quero vender. Mas o padre nessa altura era a nossa fonte de informação privilegiada. Ele sabia de tudo o que se passava e nós depois escrevíamos no jornal. Nós no CONTACTO sabíamos tudo o que se passava na colónia portuguesa. O padre Simões também escrevia, sobretudo os relatos dos casamentos, baptizados e festas. Nós organizávamos muitas festas. E muitos dos artigos que fazíamos eram depois enviados para jornais aqui em Portugal. Éramos correspondentes do ’Emigrante’ e da ‘Voz da Figueira’. Um ano depois da fundação do jornal já tínhamos muitos assinantes no Luxemburgo, mas também aqui em Portugal”, refere FFF.

HISTÓRIAS DE VIDA QUE O TEMPO NÃO APAGA

Fernanda Fernandes garante que na altura o jornal dedicava muito espaço às festas organizadas pelos portugueses, mas também não esquecia os assuntos que afectavam a vida dos imigrantes. "Falávamos dos problemas que afectavam os portugueses. Da discriminação, sobretudo no que diz respeito ao aluguer das casas. Ninguém alugava uma casa aos portugueses, na década de 60 e 70. Só conseguíamos pardieiros, casebres velhos, e só em Pfaffenthal, que era o bairro mais pobre, com casas mais velhas. Era aí que moravam os portugueses. Por isso aconteceu aquele incêndio enorme em 1976. Leu? Aquilo foi muito grave”, conta FFF.

E lá está no CONTACTO de Abril o relato do incêndio: "A noite do dia 30 de Maio de 1976 ficou tristemente gravada na memória dos imigrantes portugueses que residiam no velho bairro de Pfaffenthal”, assim começa o artigo. Depois de contar todos os pormenores, FFF dá conta do balanço final da tragédia: "vinte casas ficaram destruídas e os imigrantes que nelas viviam perderam os seus haveres, embora modestos. Morreram 3 pessoas e 20 ficaram feridas. Mais uma vez os pobres imigrantes portugueses sentiram na carne a sua dura condição, atingidos pela desgraça e pela miséria”.

Mas no CONTACTO da década de 70 há mais histórias, como as dos "passadores", por exemplo, que ganhavam a vida a passar portugueses para Espanha. Encobertos pela noite, passavam a fronteira "atravessando terras, montes e baldios, fugindo das estradas e dos caminhos”, por causa da PIDE. Ou ainda daqueles que vindos de comboio e que chegados ao Luxemburgo, a polícia os impedia de desembarcar no país com a justificação de que o contrato de trabalho tinha acabado. Ou também daquela mãe que para ajudar nas despesas da casa decidiu "fazer umas horas". "Arranjara trabalho num restaurante. Não era longe e o ordenado era bom. Talvez que com a sua ajuda pudesse ao fim do mês, pôr parte do ordenado do marido de lado. Tinham comprado, na terra, uma boa courela e ainda deviam algum dinheiro. O pequenito ficaria no berço, as grades eram altas. Ao meio-dia viria a casa dar-lhe as papinhas. Aqueceu leite, deu-o a beber ao bebé, que se calou. Deixar-lhe-ia o ursito de borracha pendurado por cima dele e o rádio ligado. Mas, antes teria de acender a salamandra a carvão que se apagara durante a noite. O menino ficaria ali, bem quentinho, até ela voltar. E já se fazia tarde quando saiu. O caminho, no regresso, pareceu-lhe mais longo. A escada negra rangeu sobre os seus passos apressados. No patamar do terceiro andar um cheiro forte a fumo a alertou, fazendo-a galgar dois a dois os últimos degraus para a mansarda. Quando entrou no quarto, uma espessa fumarada (… ) tacteando e tossindo (…) descobriu entre os cobertores do berço, um pequenino corpo ainda morno que deixava cair a cabecita. Correu para fora levantando nos braços o filho. Tarde de mais. O pequenito já não respirava, a boca retorcida num esgar de grande sofrimento. Na face, que a asfixia azulara, uns olhos desmesuradamente abertos pareciam acusá-la…”.

De todo o trabalho no CONTACTO, Fernanda Fernandes Figueiredo diz que nunca recebeu um tostão. Era feito por amor à camisola. A sua vida foi sempre a costura.

"Depois do primeiro atelier, onde ninguém falava comigo, despedi-me e fui trabalhar numa fábrica de confecções em Strassen. Fui muito explorada e também me despedi. Foi então que vi um anúncio num jornal para um atelier de alta-costura, no Boulevard Pescatore. Fui contratada e fiquei lá seis anos. Éramos os fornecedores da Corte. Trabalhavam comigo 13 ou 14 pessoas e ali fiquei até que o meu patrão morreu. Entretanto, tive que parar de costurar, por causa da coluna, e fui um ano dar aulas aos alunos portugueses, a convite do Consulado. Eu não gostei nada da experiência, mas lá se fez. Acabei os meus anos de emigrante no Luxemburgo a trabalhar clandestinamente em minha casa. Costurava para a dama de companhia da Grã-Duquesa Charlotte, e para a filha, para a embaixatriz da Holanda, do Brasil, e o meu filho mais velho ainda me arranjou umas senhoras que eram mulheres de coronéis da NATO. Estive 18 anos no Luxemburgo. Cheguei aí com 34 anos e voltei com 52. Faço 80 no próximo dia 13 de Fevereiro”.

Depois do divórcio, Fernanda Fernandes Figueiredo decidiu "juntar os trapinhos" e vive com um homem de quem foi colega de escola primária na Figueira da Foz. Já publicou dois livros: um de poesia e outro de memórias onde compila alguns dos textos publicados no CONTACTO, durante os dez anos que trabalhou no jornal. A próxima aventura: "publicar um livro que já está acabado". Quando? "Não sei. É muito íntimo e pode aborrecer algumas pessoas".

Domingos Martins

(Esta entrevista foi feita através do telefone. Uma pena, uma vez que estou certo de que muito se terá perdido porque impossível de captar as expressões do rosto, os gestos de FFF, que só por si, e em todos os casos, ajudam, e muito, à comunicação. DM )

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Charles Kraus, antigo director do jornal fundado pelas APL, ainda lê o CONTACTO

"Continuo a ler o jornal
e também sou leitor do blogue"

Foi professor no ensino oficial do Luxemburgo durante 46 anos, mas nunca ensinou alunos luxemburgueses. A vida adulta de Charles Kraus, luxemburguês, foi passada entre portugueses: primeiro como professor das turmas de acolhimento, a partir de 1964, depois como co-fundador da associação Amizade-Portugal Luxemburgo (APL), além de redactor, tesoureiro e director do jornal fundado pela associação, o precursor do CONTACTO. E quando o jornal que ajudou a criar passou a ser editado pelo maior grupo editorial do país, a partir de 1987, não perdeu este leitor, que fala português. "Falo um pouco de português, que aprendi nos cursos nocturnos. Em 1971, um ano depois da morte de Salazar, era Caetano que governava, fui de carro a Coimbra, o que na época era uma aventura. E trabalhei com portugueses desde 1964, como professor nas classes de acolhimento, até 2001. Nunca tive um único aluno luxemburguês", conta ao CONTACTO.

"A partir de 1967 começou a haver alguma imigração portuguesa, eram sobretudo pessoas que fugiam do regime de Salazar, mas em número reduzido. Depois, com a decisão do governo luxemburguês de recrutar mão-de-obra de Portugal, começaram a vir mais, primeiro só os homens, depois famílias inteiras. A partir de 1970, chegavam 2.500, 2.800 pessoas por ano. O sistema escolar não estava preparado para receber tantas crianças estrangeiras. Para os portugueses que chegavam com 11, 12 anos, sem nenhum conhecimento de línguas estrangeiras, era um inferno", recorda.

Foi por ver as dificuldades que os alunos tinham no sistema escolar luxemburguês que quis fazer mais por esta comunidade, a quem na altura até as autoridades portuguesas desprezavam. Um cônsul que prefere não nomear disse-lhe um dia que os portugueses que viviam no Luxemburgo eram "a ralé". Isso chocou-o.

Quarenta anos depois, este luxemburguês que fala português
continua a ler o jornal, em versão impressa e digital
    (Foto: Marlene Soares)
"Não havia nada para apoiar estes imigrantes. Como eu dava aulas aos portugueses, o senhor Huss e o senhor Pina vieram perguntar-me se eu estava interessado em fundar uma associação para ajudar os portugueses". Disse que sim e o resto é história – uma história com muitas histórias para contar, dos serões passados a escrever e preparar o jornal ("fazíamo-lo à noite, depois do trabalho, duas vezes por semana"), dos "atrasos na gráfica" que faziam com que o jornal chegasse já depois de terem passado as datas anunciadas, das difíceis contas de cabeça que tinha de fazer como tesoureiro para que houvesse dinheiro para o imprimir e distribuir. Foram as dificuldades económicas e a vontade de o ver chegar a mais pessoas que levaram os seus fundadores a contactar o grupo saint-paul.

"É um prazer enorme ver que o jornal cresceu e continua a crescer. Teria sido uma pena se tivesse desaparecido por falta de 'combatentes'. Hoje o CONTACTO chega a 23 mil pessoas, está bem feito, vê-se que é feito por profissionais", diz.

E sabe do que fala, porque continua a lê-lo, em versão papel e digital. "Recebo-o todas as semanas e também leio o vosso blogue na internet. Olhe, li há pouco um artigo seu sobre a Índia", diz – e recita tentativamente as primeiras palavras do artigo em português, fazendo-nos rir com o seu sotaque castiço, a mim e à fotógrafa do CONTACTO.

Quarenta anos depois da sua criação, Charles Kraus acha que continua a haver lugar para um jornal em português no Luxemburgo.

"Continua a ter uma função de informação, e pela maneira como é feito hoje, de forma profissional, continuará a encontrar novos leitores, porque para muitos portugueses continua a ser mais fácil ler na língua materna que em francês. E reparei que têm novas rubricas para os mais jovens, por isso acredito que vão conseguir atrair também as novas gerações, que já falam as línguas do país", vaticina.

Ele, aos 70 anos, vai continuar a ler-nos em papel e no blogue do jornal, lançado no ano passado em semanariocontacto.blogspot.com e disponível no mundo inteiro pela internet.

Paula Telo Alves

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Padre Belmiro Narino, o último dos "veteranos"

"A crónica da imigração portuguesa
está toda escrita no CONTACTO"

Os leitores conhecem-no por o verem quase todas as semanas no jornal, mas nem todos sabem que é um dos veteranos, o único que escrevia no tempo em que o CONTACTO era ainda um jornal associativo e que continuou a escrever ininterruptamente quando o jornal passou a integrar o grupo saint-paul, em 1987.

O padre Belmiro Narino, editorialista do CONTACTO,
escreve ininterruptamente no jornal há 32 anos
(Foto: Marlene Soares)
O padre Belmiro Narino veio para o Grão-Ducado em 1977 para chefiar a Missão Católica Portuguesa, e no ano seguinte foi logo recrutado para escrever no jornal.

"Havia umas festas de fim-de-ano para a imigração, e foi num desses encontros que conheci o Lucien Huss, fundador do CONTACTO. O Carlos de Pina, outro dos fundadores, vivia aqui perto numa das dependências do arcebispado. O jornal nessa altura tinha uma folha dedicada a Portugal, uma folha central com informações sindicais chamada 'O Trabalhador' e uma parte dedicada ao Luxemburgo. Eu fazia uma rubrica chamada 'Ecos de Portugal'", recorda.

Não era estreante na escrita, este padre amante das letras cuja colaboração com o jornal do Fundão lhe valera o desagrado da Igreja em Portugal e a perseguição política.

"Eu escrevia no jornal do Fundão, e em princípio não me era permitido escrever num jornal não católico. Mas eu disse ao núncio: é preferível escrever num jornal católico que não é cristão, ou num que não é católico mas é de facto cristão?". Estávamos em 1964, a ditadura de Salazar impunha a censura, e a hierarquia da Igreja em Portugal dobrava-se à vontade do ditador.

"Quando o papa Paulo VI foi à Índia, só o jornal do Fundão e o Diário de Lisboa publicaram a notícia, furando o bloqueio da imprensa". Portugal tinha perdido o Estado da Índia em 1961, e Salazar não gostava de ver o sumo pontífice (o primeiro a fazer extensas viagens) nas terras perdidas pelos portugueses.

"Em 1965, soube que o meu bispo tinha cedido a pressões da Pide. Tinha estado em Macau e lá fez-se um fiel servidor do Estado. Ele mandou-me por outra pessoa a mensagem de que as encíclicas sociais da Igreja, que preconizavam a democratização da sociedade, um dos pilares da Justiça, não se aplicavam em Portugal. Fui a Lisboa falar com o núncio apostólico [representante do Papa em Portugal], e disse-lhe que se a doutrina que o Vaticano queria para Portugal era a desse bispo, então eu fazia-me protestante. Ele deu-me um abraço e apresentou-me ao Embaixador de França, que me ofereceu os seus serviços se necessários". Foram: considerado um subversivo, o padre Belmiro recebe a informação de que a Pide o queria prender, e é aconselhado a sair do país. Vai para Leeds, em Inglaterra, mas as saudades apertam, e apesar de proibido de entrar no país, acaba por regressar.

"Um casal amigo trouxe-me de Londres e entrei clandestino em Portugal, por Vilar Formoso, à meia-noite". No dia seguinte refugia-se na Embaixada de França em Lisboa, onde viveu durante 11 anos, "com autorização da Pide para sair mas proibido de escrever e de ensinar Filosofia". Faz traduções de livros que assina com pseudónimo e vive enclausurado no próprio país até estalar a revolução.

O francês que falou durante esses anos de exílio são umas das razões que leva a que o convidem para vir para o Luxemburgo. "Como era uma comunidade francófona, aceitei".

Trinta e três anos depois de ter chegado ao país, e após 32 a escrever para o CONTACTO, o padre Belmiro gosta do que vê. "O jornal foi crescendo com a comunidade. Quando começou, tinha 500 assinantes. Hoje há 80 mil portugueses no Luxemburgo e temos 23 mil assinantes. A crónica da imigração portuguesa está toda escrita no CONTACTO", diz o padre-escritor.

A olhar para o futuro, o padre Belmiro Narino garante que não é por proselitismo que o considera um óptimo jornal.

"É um jornal que procura ser perfeccionista na língua, que quando não sabe aprende, e que tem uma relação extraordinária com a população. É o que para mim foi o jornal do Fundão antigamente", diz.

Por essas e por outras, prevê que dure "pelo menos mais quarenta anos", contrariando os que se opõem à informação em português e os que confundem "integração com assimilação".

"A integração não é instantânea, como o café. A integração supõe que se fique inteiro, que não se percam as origens, e leva gerações - duas e três ou mais -, porque senão é uma mutilação de culturas", remata. Amén.

Paula Telo Alves

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A Redacção do CONTACTO

A Redacção do CONTACTO em plena azáfama (Foto: Gerry Huberty)