Quando a presente edição do CONTACTO começar a circular, o nome de Durão Barroso será, com toda a certeza, dos mais falados por essa Europa fora, só superado pelo de outro português: Cristiano Ronaldo. Mas esta é a única semelhança entre os dois.
O Conselho Europeu reúne, por estes dias, os chefes de Estado e de Governo da União Europeia para discutir, entre outros assuntos, o nome que irá propor ao Parlamento Europeu para presidir à Comissão. O favoritismo mantém-se do lado de Durão Barroso. Primeiro, porque já tem o apoio expresso de grande parte dos governos da Europa, depois, porque o seu partido-família, o Partido Popular Europeu, ganhou as eleições, com uma maioria muito mais relativa do que as aparências podem fazer crer.
São dois bons indicadores, mas apesar de tudo, insuficientes. Contrariamente ao que acontecia no passado, o Parlamento Europeu tem a possibilidade de chumbar, sem apelo nem agravo, o nome proposto pelo Conselho, e se isso acontecer, podemos assistir a um braço de ferro entre os dois órgãos. Numa tal circunstância, espero que seja suficientemente motivador para um debate sobre a Europa e que não se reduza a um simples jogo de teimosias.
Comecemos por esta questão prévia e indesmentível. Os apoios que Barroso tem recebido dos chefes de governo não são muito entusiásticos. São provocados pela tradição de renovar o mandato por uma vez, uma tradição só quebrada com Jacques Santer e Romano Prodi.
O presidente Nicolas Sarkozy foi o primeiro a enviar um presente envenenado a Barroso. Apoia-o, mas gostava que o assunto fosse adiado para depois do referendo irlandês sobre o Tratado de Lisboa. Quer dizer que, quando o nome de Barroso fosse escrutinado pelo Parlamento Europeu, já o Tratado de Lisboa teria revogado o de Nice, que o mesmo é dizer, o nome do presidente da Comissão teria de ser aprovado por uma maioria absoluta, quando, agora, precisa apenas de uma maioria simples.
O homem que chefiou o gabinete da presidência francesa da União, Jean Pierre Jouyet, tem dado uma ajuda, e publicou recentemente um texto onde chama "camaleão" a Durão Barroso, acusando-o de falta de firmeza e imputando-lhe até uma traição a Sarkozy.
Como é que Barroso pode antecipar a questão? Dando a Sarkozy aquilo que ele quer, isto é, o lugar de Comissário da Agricultura, para o seu actual ministro daquela pasta, Michel Barnier. Portanto, Sarkozy pode estar a criar dificuldades para obter uma facilidade. Mas não será só isso. A realidade é outra e as autoridades francesas, se tiverem uma oportunidade de descartar Barroso, não a desperdiçarão.
Angela Merkel também gostava de ver a questão adiada. Em Setembro, terá eleições legislativas e quer evitar, a todo o custo, que o assunto entre na campanha eleitoral. Mais, como não terá uma maioria absoluta, terá de negociar uma coligação, ou com os social-democratas do SPD, com quem tem governado, ou então reeditará a coligação de Kohl, com os liberais. E nem os liberais nem os social-democratas querem Durão Barroso em Bruxelas. Portanto, qualquer decisão que Merkel tome agora pode constituir um elemento de perturbação nas difíceis negociações que terá com liberais ou com social-democratas.
Estas são as dificuldades no Conselho Europeu. Mas na segunda instância deste processo, o Parlamento, as dificuldades podem ser ainda maiores. O partido a que Barroso pertence, o PPE, foi claramente vencedor destas eleições, mas ficou longe de uma maioria absoluta. Precipitou-se, propondo de imediato o nome do antigo primeiro-ministro português, como seu candidato. Mas precisa de alianças para concretizar esse desejo, e isso está a tornar-se difícil.
A segunda maior força do hemiciclo, o Partido Socialista Europeu, já disse que o seu candidato será outro. Pode ser, por exemplo, o antigo primeiro-ministro belga, Guy Verofsthad, que conta com outros apoios. Concretamente, com os Liberais, que não formam grupo parlamentar, mas que têm 50 deputados. Mas outros grupos se podem juntar nesta coligação anti-Barroso. Por exemplo, os Verdes, os eurocépticos, os eurofóbicos e os conservadores ingleses. Se assim for, os votos terão de ser contados, um a um, para se saber se Durão Barroso vai passar mais cinco anos em Bruxelas.
O outro português mais falado é, sem a menor sombra de dúvida, Cristiano Ronaldo. A sua transferência para o Real Madrid bateu todos os recordes, num momento de grave crise económica e financeira. Por esta razão, em Espanha, nem toda a gente aprova a escolha de Florentino Perez. Dão-lhe o benefício da dúvida, porque já fez coisa semelhante com a célebre equipa dos galácticos. Na altura, a aposta foi desportivamente um fracasso. Mas, financeiramente, um sucesso.
Será que desta vez as coisas se vão repetir? Os próximos meses darão resposta a esta e outras questões. Confesso que não percebo que um presidente que prefere treinadores baratos, como Carlos Queiroz ou Bernard Schuster, seja tão generoso na contratação de jogadores. Porque ao lado de Cristiano Ronaldo vai estar outro que, esse sim, para mim, é o melhor jogador do mundo. Chama-se Kaká e ainda hoje recordo a sua estreia no S. Paulo a que, por mera coincidência, assisti. Ele esteve em campo escassos 20 minutos, o suficiente para um leigo, como eu, ter concluído que estava ali qualquer coisa de genial.
Sérgio Ferreira Borges
in Contacto, 17.06.09
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