quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cruz Vermelha lança campanha para ajudar vítimas da Sida na Guiné-Bissau

Uma das macas onde os doentes são examinados no Centro de Tratamento Ambulatório para doentes com Sida, em Bissau

Faltam estetoscópios, camas e marquesas de exames no centro de tratamento de doentes com Sida, em Bissau. Equipamentos básicos que a Cruz Vermelha luxemburguesa quer financiar com a ajuda da sociedade civil do Grão-Ducado, especialmente da comunidade lusófona.


O apelo veio do Ministério da Saúde da Guiné-Bissau: faltam equipamentos básicos para o tratamento dos doentes com Sida no principal centro epidemiológico do país, de estetoscópios a camas, e para os quais o governo daquele país não tem orçamento.

A Cruz Vermelha luxemburguesa, activa na luta contra a Sida na Guiné-Bissau, quer ajudar, mas o orçamento de que dispõe é limitado.

"O nosso orçamento não chega para cobrir estas necessidades. O programa que desenvolvemos na Guiné-Bissau incide sobretudo na prevenção da epidemia entre a população que se prostitui, e se utilizarmos o dinheiro de que dispomos para comprar estes equipamentos, há outras áreas de combate que vão ficar prejudicadas", disse ao CONTACTO Christian Huvelle, médico e representante internacional da Cruz Vermelha luxemburguesa.

Para financiar a aquisição dos equipamentos, a Cruz Vermelha decidiu por isso lançar uma campanha de recolha de fundos que tem como alvo principal a comunidade lusófona a residir no Luxemburgo.

"Pensámos que a comunidade portuguesa que vive no Luxemburgo poderia ser sensível às dificuldades das pessoas de uma das antigas colónias portuguesas, e pedir-lhes ajuda. Eu sou belga e sinto a mesma coisa em relação ao antigo Congo belga: sentimos uma certa responsabilidade", explicou Christian Huvelle a este jornal.

UM HOSPITAL NA PENÚRIA

O médico conhece bem o Centro de Tratamento Ambulatório para doentes com Sida de Bissau, que visitou em Fevereiro deste ano. Ali falta tudo, de estetoscópios a uma simples ligação à internet, essencial para que os médicos se mantenham informados sobre os progressos científicos no combate à doença.

"É o Centro de referência do país, mas não tem sequer ligação à internet, um dos equipamentos que nos foi pedido. O pessoal médico é muito bom, extremamente profissional, mas deveria estar na vanguarda da informação, o que não é possível sem internet", diz Huvelle. A funcionar no Hospital Nacional Simão Mendes (Hospital Universitário), o Centro de Tratamento Ambulatório para doentes com Sida atende cerca de mil doentes, apenas um terço das pessoas que deveriam receber tratamento, segundo estimativas da Cruz Vermelha. Os cinco médicos que ali trabalham "são excelentes profissionais" e "as condições de higiene são boas", assegura o responsável internacional da Cruz Vermelha, mas as infra-estruturas "são péssimas". "O problema é que as condições materiais são realmente muito más e precárias. Faltam camas, mesas de exame, até simples estetoscópios. O que nos pedem são coisas básicas mas essenciais", explica o médico.

O programa das Nações Unidas financia a aquisição de medicamentos, mas não de equipamento hospitalar, razão pela qual a Cruz Vermelha decidiu intervir.

Para financiar aqueles equipamentos, orçados em 15 mil euros, a Cruz Vermelha luxemburguesa abriu uma conta e apela à contribuição da população lusófona no Grão-Ducado (ver caixa).

A Cruz Vermelha luxemburguesa desenvolve campanhas de prevenção da Sida na Guiné-Bissau e tem desde Julho do ano passado um escritório de representação a funcionar na capital guineense, em parceria com a organização senegalesa "Environnement et Développement du Tiers Monde". No edifício arrendado em Bissau trabalham quatro pessoas cujo salário é pago pela Cruz Vermelha luxemburguesa, incluindo Magda Lopes, socióloga guineense licenciada em Portugal. A Cruz Vermelha tem em curso projectos de luta contra a Sida no Senegal, Guiné-Bissau, Cabo Verde e Guiné-Conackri, ao abrigo de um acordo-quadro com o Ministério da Cooperação luxemburguês. Paula Telo Alves



O Hospital Nacional Simão Mendes (Hospital Universitário) onde funciona o Centro de Tratamento Ambulatório para doentes com Sida

Fotos: Cruz Vermelha luxemburguesa

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