quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Reformados portugueses continuam a ser uma minoria nas instituições luxemburguesas de apoio à terceira idade


Se os reformados portugueses não vão aos Clubes Sénior, os clubes abrem-se aos portugueses. É pelo menos isso que pretende Delfina Beirão, agente intercultural do grupo que gere as instituições luxemburguesas de apoio à terceira idade. Para atrair os portugueses para actividades de lazer e ocupação de tempos livres, Delfina lança este mês um projecto-piloto em Schifflange, aberto a todos os interessados. A iniciativa é lançada por altura do Dia Internacional dos Idosos, que se assinala hoje.

Há 6.380 portugueses com idades entre os 59 e os 78 anos a viver no Luxemburgo, mas nos Clubes Sénior, centros de ocupação de tempos livres para a terceira idade, nem vê-los.

Apesar de o número de reformados portugueses aumentar de ano para ano, os Clubes Sénior ainda são quase exclusivamente frequentados por luxemburgueses, garante Delfina Beirão, agente intercultural da Entente des gestionnaires des institutions pour personnes agées (EGIPA), uma plataforma que gere aqueles centros de lazer.

"Os próximos 'clientes' dos Clubes Sénior, os que daqui a 10 anos serão clientes, vão ser portugueses. Há já 10.500 portugueses com idades entre os 49 e os 58 anos, e vai ser preciso ocupar estas pessoas, mostrar-lhes que podem manter-se activos e saudáveis frequentando as actividades dos clubes, que incluem desporto adaptado a estas idades, actividades culturais, viagens e excursões, pintura e artes", diz Delfina Beirão.

Mas os portugueses não tiram partido destas actividades, que poderiam facilitar a transição da vida activa para a reforma.

"A passagem da vida profissional para a reforma é muito difícil. As pessoas sentem-se sós. A ocupação dos homens é andar no café, e as mulheres tomam conta dos netos. Para os Clubes Sénior não vão, mas também não sabem que existem. E esse é também o meu trabalho, mostrar-lhes que os clubes existem", explica.

"Há tempos estava na rádio Latina a divulgar os clubes, e tive logo quatro mulheres que me ligaram para saber mais informação. Agora as quatro já frequentam os clubes: uma pinta, outra dança, outra anda na natação...".

Contratada em Janeiro pelo Ministério da Família para fazer a ponte entre os estrangeiros e os Clubes Sénior, Delfina Beirão, de 40 anos – 37 dos quais passados no Luxemburgo – sabe que a tarefa não vai ser fácil. Os clubes, garante, estão abertos aos estrangeiros, mas a boa vontade não chega.

"Há problemas de comunicação. Um dos clubes anunciou uma festa italiana... numa brochura exclusivamente em alemão. E depois ficaram muito desiludidos porque não veio nenhum italiano!", conta Delfina Beirão, licenciada em comunicação social e com 14 anos de experiência na área social.

"O meu trabalho é sensibilizar os clubes, que ainda são quase exclusivamente frequentados por luxemburgueses, para que se abram mais aos estrangeiros. E estão a fazê-lo. Mas é preciso mobilizar os estrangeiros para virem. A informação ainda não chegou aos portugueses: é preciso fazer um enorme esforço de sensibilização".

PROJECTO-PILOTO ARRANCA ESTE MÊS

Para tentar que os portugueses passem a frequentar os clubes, Delfina Beirão lança agora um projecto-piloto em Schifflange.

A partir de 6 de Outubro, sempre às terças-feiras, às 14h30, Delfina vai estar no bar do Clube Sénior de Schifflange para receber os portugueses interessados "em jogar cartas, fazer renda ou outras actividades". E não é preciso viver naquela localidade para frequentar o espaço: todos os residentes no sul do país são bem vindos, garante.

"Em Schifflange, vamos tentar criar um grupo de portugueses que frequentem o clube de forma regular, que façam ginástica e outras actividades juntos e possam fazer propostas. 'Nós queremos fazer uma excursão a tal sítio', por exemplo. O objectivo é que possam ser ouvidos", explica.

Se o projecto tiver sucesso, poderá vir a ser repetido noutras localidades, e Delfina Beirão acredita que é possível atrair os reformados portugueses para os Clubes Sénior.

"Os portugueses trabalharam muito aqui no Luxemburgo, chegou a altura de tirarem proveito das actividades de lazer. A vida não é só trabalhar e tomar conta dos netos. Por uma vez, era bom que se pusessem a eles próprios em primeiro lugar: já trabalharam para os outros, depois para os filhos e os netos, e agora é altura de fazerem alguma coisa pelo seu próprio equilíbrio mental e físico", apela.

Delfina Beirão tem 40 anos, 37 dos quais passados no Luxemburgo. Licenciada em Comunicação Social pela Universidade de Louvain, na Bélgica, trabalha desde 1995 na área social. Publicou o único estudo sociológico sobre os portugueses no Luxemburgo, "Les familles racontent leur histoire", e prepara um estudo sobre os reformados portugueses para uma colectânea organizada pela ASTI para assinalar os 30 anos de existência daquela associação de apoio aos imigrantes.

Desde Janeiro deste ano, Delfina é agente intercultural na EGIPA, a plataforma que gere os 16 Clubes Sénior no país. Os clubes, sem fins lucrativos, são co-financiados pelo Ministério da Família e as autarquias.

Paula Telo Alves

Foto: Manuel Dias

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