sábado, 12 de dezembro de 2009

Crónica Atitudes & Latitudes: "Divagações" de uma viajante (I)

Quando eu tinha cerca de 20 anos, e me interessava por psicologia, parapsicologia e muitos outros temas, tive a sorte de dar com um livro que se intitulava "Técnicas avançadas de hipnoterapia", escrito por um psiquiatra americano chamado Milton Erickson. Este médico revolucionou o mundo da psiquiatria e da hipnoteria com os seus métodos, porque já então ele dizia "a solução está no problema", e foi ele que desenvolveu a ideia de "terapia breve", cujo intuito é ajudar o sujeito a atingir o seu objectivo, e não a refazer o mundo do sujeito a partir de um "preconceito" do terapeuta e da sua visão do mundo.

Impressionada por este homem que para mim era um génio, nos anos '70 e '80 (do século passado... assim pareço tão velha, não é?), ao fim de trinta e tal anos tenho a sorte e o privilégio de estar a estudar os seus métodos de hipnose clínica nos Estados Unidos.

Mas o que foi tão importante para mim neste homem? Não foram só técnicas que ele nos legou. É toda uma forma de ver o mundo, o mundo do sujeito, a maneira infinitamente mais humana, profunda e criativa de lidar com os problemas e as pessoas. Foi o seu carisma. Este homem tinha que lidar com muitas incapacidades, que segundo ele, o ajudaram a tornar-se mais eficiente a ajudar a resolver os problemas dos clientes. As suas incapacidades começaram muito cedo. Nasceu numa família numerosa e muito pobre. Só aos quatro anos começou a falar. Descobriu-se mais tarde que sofria de dislexia severa, que tinha problemas de audição e era daltónico. Aos 17 anos teve um ataque de poliomielite e ficou paralisado durante um ano. O ataque foi tão forte que o médico estava convencido de que ele ia morrer. Apesar das suas deficiências, ou talvez como resultado delas, Milton Erickson qualificou-se como médico e psiquiatra. Nos anos que se seguiram tornou-se no maior psiquiatra e hipnoterapeuta do seu tempo.

Para vos dar uma ideia da sua versatilidade, aconselho o livro "My voice will go with you" da S. Rosen, com histórias que Milton Erickson contava aos alunos. Aqui vai uma história autêntica, contada por Jeffrey Zeig, um desses alunos e mais tarde fundador e presidente da Fundação Milton Erickson – um dos treinadores do curso em que participei.

Uma senhora fez terapia com o Milton Erickson. Enquanto Jeffrey Zeig fazia a entrevista com ela, a filha entrou e disse: "Já lhe contaste a história do telefonema do Pai Natal?". Aconteceu que, uma vez pelo Natal, ele telefonou a dizer que era o Pai Natal e queria falar com a filha dela, que na altura tinha 10 anos. Ela depois perguntou à filha: "O que é que ele disse?". E ela respondeu: "Disse que era um segredo e eu não era obrigada a dizer". Durante a entrevista, quando elas contavam a história, a mãe perguntou: "Afinal, filha, o que é que ele disse, podes contar?". A filha respondeu: "Perguntou-me o que é que eu queria pelo Natal, e eu pedi-lhe um cavalo. A resposta dele foi: "Sabes, um cavalo no vosso apartamento, não é uma coisa muito sensata. Por isso proponho que peças outra coisa mais prática. Mas lembra-te sempre dos teus sonhos. Nunca os percas". Hoje esta rapariga, agora mulher, tem um rancho onde cria e treina cavalos.

Milton Erickson era assim. Durante anos, divertiu-se a fazer de Pai Natal e a telefonar para crianças com mensagens de esperança.

Porque é que vos conto isto? Pela importância da mensagem. Lembrem-se sempre dos vossos sonhos . Eu hoje estou aqui, porque há trinta anos atrás sonhei com a possibilidade de aprender com Milton Erickson. Ele morreu em 1980. Eu vim para a sua Fundação em 2009. Nem eu própria diria nessa altura que isto era possível.

E o leitor, ainda se lembra dos seus sonhos de criança? Tudo o que vemos à nossa volta é o resultado de um sonho aparentemente impossível: a cama, a mesa, luz eléctrica, o telefone, o telemóvel, os aviões, as viagens à Lua, a Marte e sabe Deus aonde mais... E tal como na história da jovem dos cavalos, todos temos sonhos – mesmo que estejam escondidos debaixo de uma "montanha" de dúvidas e de esquecimentos porque aparentemente impossíveis de concretizar.

Teresa Pignatelli
consultora em Programação neuro-linguística
(rubrica publicada no CONTACTO)

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