...a cem metros dali, no n°6, rue Tony Bourg,
fica situada a Biblioteca "Il était une fois" Fotos: Serge Waldbillig
fica situada a Biblioteca "Il était une fois" Fotos: Serge Waldbillig
A Confederação da Comunidade Portuguesa no Luxemburgo (CCPL) contesta a atribuição por parte do Comité de Ligação e de Acção dos Estrangeiros (CLAE) de instalações à associação "Il était une fois" para a criação de uma biblioteca de bairro, em Gasperich, na capital.
A CCPL diz que já havia pedido ao Fundo de Alojamento, à autarquia da capital e até ao CLAE um espaço nesse bairro para instalar a sua biblioteca. A CCPL, com sede nesse bairro (no n°6, rue René Weimerskirch), garante que não entende a decisão do CLAE (26, rue de Gasperich) uma vez que já existia a biblioteca da CCPL, apenas a 100 metros do espaço onde abriu agora a nova biblioteca (n°6, rue Tony Bourg).
"Há já um ano e meio que a confederação apresentou uma candidatura ao Fundo de Alojamento para instalar nesse espaço desocupado a sua própria biblioteca, a funcionar desde há cerca de um ano na sede da CCPL", explica Mili Tasch-Fernandes da direcção da confederação e uma das mentoras deste projecto.
"O pedido de auxílio foi aceite pela autarquia, o burgomestre ofereceu todo o mobiliário das antigas instalações da Biblioteca Municipal, que colocámos num depósito para móveis e pelo qual estamos a pagar 300 euros por mês de aluguer", indigna-se a responsável. "Mas", acrescenta, "o Fundo de Alojamento nunca nos respondeu". Recentemente a Confederação viu um espaço desocupado em Gasperich ser atribuído a uma outra associação para a criação de uma biblioteca semelhante. O espaço foi atribuído ao CLAE pelo Fundo de Alojamento e através deste à associação "Il était une fois".
"A CCPL não entende a decisão até porque", explica Mili Tasch, "também pedimos ao CLAE a cedência de um espaço e este não respondeu favoravelmente".
O presidente do CLAE, Franco Barilozzi explica em sua defesa, ao CONTACTO, que só soube da existência da biblioteca da CCPL depois de ter atribuído o espaço à associação "Il était une fois".
Por seu lado, Luciana Griz, da associação "Il était une fois", conta que há já cinco anos que o projecto de biblioteca da sua associação procurava um local. Haviam dirigido pedidos ao Fundo de Alojamento e outras entidades, sem nunca terem obtido resposta. Depois de entrarem em contacto com o CLAE, foi finalmente esta associação que lhes cedeu um espaço.
Mas a responsável da CCPL diz ter ficado sobretudo indignada não só porque o espaço para criar essa biblioteca foi entregue a uma associação que nunca desenvolveu qualquer trabalho social, associativo ou cultural nesse bairro, "como até sabemos que alguns dos serviços que vai prestar serão pagos, quando os que a nossa estrutura presta são todos gratuitos".
Luciana Griz admite que a sua associação não desenvolveu até agora trabalho cultural "especificamente" em Gasperich, "mas é activa há cinco anos em todo o país". E acrescenta: "Quando solicitámos um local ao Fundo de Alojamento não pedimos que fosse em Gasperich. Ao contactar o CLAE tivemos sorte que eles nos cedessem um espaço que, por acaso, é nesse bairro".
Quanto ao pagamento de serviços, Luciana Griz explica que para consultar livros na biblioteca o acesso é público e gratuito, mas que o empréstimo de livros se faz apenas aos membros da associação ou aos detentores de um cartão de leitor, o que custa 15 euros anuais. "Temos também oficinas de música para crianças até aos três anos e ateliês de leitura, cuja participação custa 2 euros, o que é um preço simbólico e constitui uma ajuda financeira para dinamizar a associação que não tem outras entradas de dinheiro", explica Luciana. Por seu lado, Mili Tasch anuncia que já enviou uma carta ao presidente do Fundo de Alojamento e à ministra da Família para explicar toda a situação e para apurar os motivos que levaram esta instituição a não responder às cartas da CCPL. Mili Tasch faz questão de lembrar que a CCPL é uma organização sem fins lucrativos e, como tal, não possui meios próprios para acarretar sozinha o aluguer de um espaço que reuna todas as condições para o bom funcionamento da biblioteca. Actualmente, a biblioteca da CCPL, denominada "Biblioteca Ermesinde", está a funcionar na sede da associação "num espaço exíguo que também inclui uma mediateca, levando a que muitas das obras que foram doadas estejam em caixotes numa cave, correndo o risco de se danificarem e dificultando o trabalho dos funcionários", lamenta Mili Tasch.
A Biblioteca Intercultural Ermesinde" possui cerca de cinco mil obras disponíveis em 10 línguas (português, francês, inglês, luxemburguês e alemão), desde o romance à poesia, passando pela economia, a história e a literatura infantil. Todos os livros foram oferecidos à biblioteca por particulares que desejam apoiar este projecto. Segundo a CCPL, 300 leitores frequentam assiduamente este espaço. A Biblioteca Ermesinde está aberta ao público das 10h ao 12h e das 15h às 18h. Para requisitar livros basta ser titular de um cartão de leitor, cuja aquisição é gratuita.
A cerca de 100 metros dali, no n°6, rue Tony Bourg, funciona a Biblioteca "Il était une fois", com um espólio que conta cerca de mil obras. Esta estrutura aberta às segundas, das 8 às 11h; às terças e sábados, das 15 às 17h.
Até à hora do fecho desta edição todos os contactos tentados com os serviços do Fundo de Alojamento para falar com um responsável sobre esta questão revelaram-se infrutíferos.
Quem lucra com este estado das coisas? Os moradores de Gasperich, com certeza, cujo bairro, zona de habitação mista que conta moradias unifamiliares e alojamentos sociais, passam a poder usufruir de duas bibliotecas interculturais quando tantos outros bairros e até localidades deste país nem uma têm. Pelo menos, é a ilação que tiramos disto tudo depois de ouvirmos as partes envolvidas nesta "guerra de bibliotecas".
José Luís Correia/Aneli Silva
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