No prazo máximo de dois anos todos os países de língua oficial portuguesa já terão aplicado o Acordo Ortográfico, disse à Lusa João Malaca Casteleiro, conhecido linguista português.
“Estou convicto que no prazo máximo de dois anos o Acordo estará implementado em todos os países”, garantiu o professor universitário e membro da Academia das Ciências de Lisboa (ACL).
Malaca Casteleiro participou na última semana da conferência internacional sobre o futuro da língua portuguesa, em Brasília, e esteve na segunda feira na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, para o Encontro da Lusofonia.
Em declarações à Lusa, o presidente do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da ACL defendeu a criação de um alto comissariado junto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesas (CPLP) para se ocupar dos “problemas comuns” da língua.
“Nós precisávamos ter um organismo que zelasse por uma política comum da língua portuguesa. O IILP (Instituto Internacional da Língua Portuguesa) não tem desenvolvido seu trabalho por falta de recursos e projetos”, criticou.
Para fortalecer a lusofonia e promover o idioma em todos os países e em organismos internacionais, Malaca Casteleiro considerou que é possível elaborar um vocabulário ortográfico comum.
“O vocabulário ortográfico deveria ter sido elaborado antes, estamos atrasados. Mas agora, como já surgiram vários, creio que seria até mais fácil unificar”, argumentou o gramático português.
Um vocabulário ortográfico comum, segundo ele, registaria as divergências existentes no domínio da lusofonia, como por exemplo palavras com acento agudo na norma luso-afro-asiática mas que são grafadas com circunflexo na norma brasileira. Assim, seria aceite a dupla grafia.
Na sua palestra, Malaca Casteleiro lembrou que o Acordo Ortográfico remonta a 1911, quando Portugal fez uma “reforma profunda com imensas substituições”.
“O facto de não ter feito uma reforma comum em 1911 com o Brasil, fez arrastar a questão pelo século 20”, disse.
No Brasil, as novas regras (novo Acordo Ortográfico) entraram em vigor a 01 de janeiro de 2009, enquanto em Portugal, as normas deverão vigorar no ano letivo de 2011/2012.
“Lamento que Portugal tenha perdido este barco e não tenha sido capaz, com o Brasil, (...) de fazer entrar em vigor o novo Acordo Ortográfico. Isso tinha sido prometido pelo nosso primeiro ministro numa cimeira em setembro de 2008, no Brasil. O Brasil cumpriu e Portugal não”, destacou.
Grande defensor da implantação da nova grafia, o linguista português admite que “não há nenhum acordo perfeito, e este não é perfeito”.
Contudo, Malaca Casteleiro ressalta a importância do bom senso numa negociação.
A implementação deste acordo é “inevitável”, acrescentou.“Mesmo com críticas não temos outra alternativa. Regredir é impossível, não se pode voltar atrás”, sublinhou.
Questionado sobre o futuro da língua portuguesa, Malaca Casteleiro afirmou ter uma perspetiva positiva e “muito otimista”.
“É uma língua de comunicação internacional, é uma língua pujante, riquíssima e está em progressão”, sintetizou.
As previsões demográficas, segundo o gramático, apontam para 350 milhões de falantes de português em meados deste século, devido sobretudo ao crescimento da população no Brasil e nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
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