terça-feira, 15 de junho de 2010

Refugiados: Século XXI será "século das pessoas em fuga" - António Guterres

O Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, advertiu hoje que o século XXI “será o século das pessoas em fuga”, apelando a um debate internacional para se enfrentar este desafio.

Em discurso no 10.º Simpósio sobre Proteção aos Refugiados da Academia da Igreja Protentante, em Berlim, o ex-primeiro ministro português lembrou que, atualmente, há 43 milhões de refugiados em todo o mundo a precisar de proteção.

As grandes tendências globais, como o desenvolvimento demográfico, a urbanização, a escassez de víveres e de água potável, de matérias primas, e sobretudo as mudanças climáticas, “agudizam situações de conflito e obrigam as pessoas a abandonar as suas pátrias”, advertiu.

Depois de revelar que o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados aumentou as suas atividades em 50 por cento nos últimos quatro anos, Guterres sublinhou que, “ao contrário do que políticos populistas querem fazer crer”, oito em cada dez refugiados vivem em países em vias de desenvolvimento.

Os primeiros 25 lugares da lista dos países que acolhem mais refugiados são ocupados por países em desenvolvimento, e só no 26.º posto surge um país industrializado, a Alemanha.

Em África, vivem 40 por cento dos refugiados de todo o mundo. “Estamos perante uma injustiça, originada pelas mudanças climáticas, porque os que são menos responsáveis e têm menos recursos são os mais atingidos” pela drama dos refugiados, afirmou.

Neste contexto, o Alto Comissário apelou à União Europeia para unificar o seu direito de asilo político, lembrando que no total dos 27 países que a constitutuem foram acolhidos, em 2009, 286 700 refugiados, e só a África do Sul acolheu 222 mil, no mesmo período.

“As taxas de admissão de pessoas em busca de asilo político estã praticamente no zero em alguns países europeus, enquanto noutros países as taxas de admissão superam os oitenta por cento, embora em função da origem das pessoas”, lamentou.

Guterres alinhou ainda os três grandes desafios que se colocam ao ACNUR, o primeiro dos quais é o crescente número de conflitos duradouros, como no Afeganistão, na Somália ou no Congo.

O segundo grande desafio é a redução do espaço de manobra humanitário, nomeadamente devido à proliferação do banditismo, que causou três vítimas mortais entre fuincionários do ACNUR, nos últimos seis meses.

O último grande desafio é a erosão do espaço de asilo político, acompanhado por “tendências preocupantes”, como a xenofobia, o racismo e a crescente indiferença perante o drama dos refugiados, alertou o Alto Comissário.

Durante a visita à capital alemã, Guterres avistar-se-á, hoje e na quarta feira, com membros do governo, com o presidente do parlamento e com presidentes de comissões parlamentares.

Principal objetivo da visita é convencer a Alemanha a ter um papel de liderança no processo de harmonização do direito de asilo político no espaço europeu, como afirmou Guterres na sua intervenção.

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