O advogado de uma iraniana condenada à morte por lapidação no Irão afirmou ontem que a sua cliente foi torturada antes de “confessar” à televisão pública a sua implicação no assassinato do seu marido.
O advogado Houtan Kian declarou ao diário britânico The Guardian que Sakineh Mohammadi Ashtian (na foto), mãe de duas crianças, com 43 anos, foi forçada a dar aquela entrevista, gravada na prisão de Tabriz, no Noroeste do país, onde está detida há dois anos, esperando a concretização da pena de morte por apedrejamento.
Na “confissão” – assim qualificada pela televisão iraniana –, uma mulher envolvida num véu negro e apresentada como sendo Sakineh Mohammadi Ashtiani reconhece que um homem, de quem foi íntima, matou o seu marido na sua presença.
Mas o advogado assegura que esta “confissão” foi obtida sob tortura: “Ela foi agredida violentamente e torturada até que aceitasse dar a entrevista.”
Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros britânico sublinhou a “profunda preocupação” face a estas acusações.
“Já exortámos as autoridades iranianas a reexaminarem o dossiê [de Ashtiani] e pedimos-lhes que respeitassem as obrigações internacionais quanto aos direitos humanos”, acrescentou, em comunicado.
O advogado Houtan Kian revelou receios crescentes de que as autoridades iranianas realizem rapidamente a execução da mulher iraniana, cujo anúncio suscitou uma vaga de indignação no mundo.
A justiça iraniana anunciou a 11 de julho a “suspensão por razões humanitárias” da sentença de morte por lapidação, mas esta “confissão” transforma a imagem de Ashtiani – de adúltera passaria a homicida (e há outros países no mundo que condenam homicidas à morte).
Sakineh Mohammadi Ashtiani foi condenada em 2006 por ter tido “uma relação ilegal” com dois homens depois da morte do seu marido.
Em entrevista publicada pelo The Guardian, a 07 de Agosto, a iraniana afirma ter sido ilibada da acusação de assassínio, mantendo-se a de adultério, e refere também que “o homem que matou [o marido] foi identificado e preso, mas não condenado à morte”.
Na passada semana, um alto responsável judiciário iraniano, Mossadegh Kahnemoui, assegurou que “esta mulher, além de ser uma dupla adúltera, foi também reconhecida culpada de conspiração para matar o seu marido”. E, portanto, “o seu caso continua em exame e ainda nada foi decidido”.
A Amnistia Internacional sublinha que “as ‘confissões’ transmitidas pela televisão são utilizadas frequentemente pelas autoridades [iranianas] para incriminar indivíduos detidos”.
“Vários deles retiraram depois as ‘confissões’, afirmando que tinham sido feitas sob pressão”, acrescenta a organização de defesa dos direitos humanos, baseada em Londres.
“Este último vídeo mostra apenas a ausência de provas contra Sakineh Mohammadi Ashtiani”, conclui a Amnistia, adiantando que uma resposta a um pedido da defesa para que o caso fosse reexaminado é esperada para o dia 15 de agosto.
“Parece que as autoridades iranianas orquestraram esta ‘confissão’ depois do pedido da defesa e agora inventaram novas acusações sobre a morte do marido”, destaca a Amnistia.
Foto: Arquivo LW
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