quinta-feira, 21 de abril de 2011

Opinião: Passos Coelho une Partido Socialista

Como se previa, o congresso do Partido Socialista foi transformado num gigantesco comício de lançamento da campanha eleitoral, para as legislativas de 5 de Junho. José Sócrates tinha sido reeleito secretário-geral com uma votação superior a 90 por cento e seria de todo improvável que qualquer outra das moções de estratégia lhe fizesse o mais leve estorvo.

Com estas questões resolvidas, a reunião de Matosinhos estava destinada à grande encenação que projectasse o PS para uma campanha eleitoral que vai ser dura e, como já afirmei noutras alturas, não resolverá nenhum problema do país, independentemente dos seus próprios resultados. Mas, Sócrates conseguiu transmitir uma imagem ao país de força e de unidade, juntando à sua volta muitos dos que o criticaram, ao longo dos últimos anos. Os casos mais notórios foram os de Manuel Alegre e Eduardo Ferro Rodrigues. No primeiro, só o facto de ele ter ido a um congresso já foi relevante, porque isso não acontecia desde 2005 e, nessa altura, foi pela estrita obrigação de ser ele próprio também candidato à liderança. O caso de Ferro Rodrigues é diferente. Ele vai regressar de Paris, onde tem sido embaixador de Portugal na OCDE, para agora encabeçar a lista socialista por Lisboa, o mais importante círculo eleitoral do país. Trata-se de um homem competentíssimo, economista de formação, que já liderou o partido em condições de extrema dificuldade e que conseguiu recuperá-lo nas sondagens, acabando por perder as eleições legislativas, pela margem mínima, para Durão Barroso. É quase certo que se a campanha tivesse durado mais uma semana, Ferro Rodrigues teria vencido.

E porquê esta unidade, quando dias antes o cepticismo interno em relação a Sócrates era enorme? Essa desconfiança mantém-se, ninguém acredita que Sócrates possa ser a solução do problema. Mas acredita-se menos ainda que Passos Coelho possa fazer alguma coisa, que tenha alguma ideia para retirar Portugal do atoleiro em que está metido. E sobretudo, as figuras que se escondem atrás de Passos Coelho causam ainda mais insegurança aos portugueses, como são os casos dos ultraliberais Nogueira Leite ou António Carrapatoso. Portanto, é fácil concluir que Passos Coelho contribuiu mais para a unidade do PS que o próprio José Sócrates. O que se viu este fim-de-semana, em Matosinhos, foi uma unidade anti-neoliberal. E bastará para isso ouvir o discurso de Eduardo Ferro Rodrigues, um homem que conhece os meandros da economia internacional como poucos.

A resposta do PSD, de certo modo esperada, foi o anúncio da candidatura à Assembleia da República de Fernando Nobre, ex-candidato à Presidência da República. E o PSD promete ainda, em caso de vitória eleitoral, levar Nobre à presidência da Assembleia da República. Isto demonstra muita irresponsabilidade política, porque os barões do PSD não vão admitir facilmente que um homem que, nem sequer é militante, ocupe o lugar que, por via de regra, estaria destinado a um deles. Além disso, a inexperiência política de Fernando Nobre não o recomenda para tais funções. Como se viu na recente campanha, tem um discurso politicamente vácuo, trouxe para a campanha apenas o chavão da "cidadania" que nunca conseguiu explicar a ninguém.

Se este homem for colocado no segundo lugar da hierarquia do Estado, Portugal fica com o grave problema de ter, no topo, duas figuras sem bagagem, o que é grave.

As reacções foram imediatas e basta ver as redes sociais para se perceber que Fernando Nobre não vai acrescentar ao PSD os votos de esquerda que conseguiu na campanha presidencial. Ele teve 14 por cento dos sufrágios, mas trata-se de uma quota eleitoral que hoje está desfeita.

Mais surpreendente foi a notícia de que o padre franciscano Victor Melícias, na sua qualidade de membro do Conselho Económico e Social, declarou ao Tribunal Constitucional uma pensão mensal de 7.450 euros, o que, na antiga moeda, ronda os 1.500 contos. Trata-se de um homem que fez voto de pobreza, que vive num convento, portanto, existe em tudo isto uma aparente e flagrante incongruência, tanto mais que Victor Melícias conhece as dificuldades financeiras do sistema.

Espera-se a todo o momento um esclarecimento do próprio que eu acho que ele vai dar, mas que não aconteceu até à hora a que escrevo. Mas eu quero continuar a pensar de Victor Melícias o que sempre pensei.

Sérgio Ferreira Borges

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