sexta-feira, 29 de julho de 2011

Historiador português lança livro sobre portugueses do Luxemburgo


O historiador português António de Vasconcelos Nogueira acaba de lançar o livro "Os Portugueses no Luxemburgo", que retraça a história da imigração portuguesa no Grão-Ducado e analisa algumas das dificuldades de integração dos portugueses no país. O livro é fruto de cinco anos de investigação num tema inédito na historiografia contemporânea.


A ideia surgiu-lhe em 2004, quando estava a terminar os estudos de pós-doutoramento sobre outra minoria, os judeus portugueses na diáspora, que daria origem ao livro "Capitalismo e Judaísmo", editado pela Fundação Calouste Gulbenkian.

"Estava em Cambridge, e no avião que tinha apanhado os jornais faziam manchete com a visita oficial de Jorge Sampaio ao Luxemburgo. Uma das manchetes tinha em parangonas a seguinte referência: 'O país com maior número de portugueses'. E isso excitou em mim interesse. Não existia nenhum estudo, nenhuma tese de doutoramento, nem monografias que de uma forma exaustiva e actualizada tratassem mais de cinquenta anos de presença portuguesa".

Foi este o desafio em que António de Vasconcelos Nogueira se lançou quando em 2006 veio para o Luxemburgo com uma bolsa de estudos da Universidade de Aveiro e da Fundação para a Ciência e Tecnologia para estudar a imigração portuguesa.

"Para compreender a comunidade portuguesa no Luxemburgo, que era o meu objectivo, precisei de compreender a sociedade luxemburguesa", explica o filósofo e historiador.

Para o fazer, António Vasconcelos cruzou dados económicos, históricos e sociológicos, e lançou mão de metodologias menos ortodoxas. Chegou a trabalhar alguns meses por turnos no aeroporto, nas cargas e descargas, "onde trabalha um grande contigente de portugueses", para poder fazer aquilo a que chama "observação activa". Até ser descoberto pelos outros trabalhadores, que estranharam a linguagem cuidada do historiador.

O resultado deste trabalho de cinco anos é o livro "Os Portugueses no Luxemburgo - Contribuição para a história das migrações", agora editado pela editora Sítio do Livro, e que o autor descreve como "três livros num só": "uma história concisa das relações entre Portugal, os Países Baixos e o Luxemburgo, desde a Idade Média ao tempo presente", "uma história do Luxemburgo, para conhecimento dos portugueses, explorando aspectos escamoteados das historiografias oficiais", e "uma história dos 50 anos da imigração portuguesa no Luxemburgo, de 1960 a 2010".

O LUXEMBURGO É
"UMA SOCIEDADE FECHADA"

O estudo agora publicado representa "uma lança em África" na historiografia contemporânea. Além de uma monografia sobre as famílias portuguesas da investigadora Delfina Beirão, não havia até agora "um estudo que tratasse de forma sistemática e transversal a imigração portuguesa no Luxemburgo". Um terreno inteiramente a desbravar que colocou algumas dificuldades ao investigador. António de Vasconcelos ficou surpreendido com a "sociedade fechada" que encontrou, e garante que chegou a ser impedido de consultar fontes oficiais.

"Aqui tive de superar algumas dificuldades no acesso directo às fontes, foram-me criados problemas. Quando eu quis aceder aos índices de suicídio, por exemplo, foi-me dito na Biblioteca Nacional que a fonte tinha desaparecido da estante. Era um tema demasiado incómodo cujas fontes eles não queriam partilhar com um investigador independente, estrangeiro, para mais português. Consegui, passados três anos, aceder a esta mesma pista de outra maneira, sem precisar que estava a consultar dados sobre o suicídio. Mas quando quis tirar fotocópias, e verificaram que era sobre este tema, voltei a ser impedido", conta.

"A sociedade luxemburguesa é extremamente fechada, e isso foi um choque para mim. Eu tinha estado a fazer pesquisa nos Estados Unidos, e tinha a ideia que, sendo a sede de uma praça financeira mundial, e uma sociedade capitalista com um PIB dos mais desenvolvidos da União Europeia, fosse encontrar uma sociedade aberta, de horizontes, uma sociedade de cultura, onde as pessoas tivessem horizontes e interesses. E constatei o contrário".

Para o autor, os luxemburgueses "vivem numa redoma artificial" proporcionada pelos empregos no sector do Estado, e são "fechados aos imigrantes", o que explica em parte as dificuldades de integração dos portugueses, sobretudo no ensino, defende. "Uma das teses do livro é que o Luxemburgo acolhe o imigrante mas não a sua pessoa. Acolhe o imigrante mas o imigrante é uma figura abstracta, é mão-de-obra descartável", diz.

"A nossa comunidade continua a ter dificuldades de afirmação e de integração. Têm salários e contratos baixos, continuam a dar a sua contribuição, mas em períodos de recessão, de crise, são facilmente descartáveis", denuncia. E as dificuldades do sistema de ensino luxemburguês são uma barreira para as segundas gerações, defende.

"Há aqui um desfasamento de valores e de referentes que faz com que [as segundas gerações] por um lado se apercebam da vida e da condição dura, alienante, dos pais, e por outro estejam num beco, numa situação sem saída, porque a escola não lhes dá alternativas", explica. "É um sistema de ensino que não está nem adaptado aos tempos, nem às necessidades da população".

"Não há de facto uma aposta no maior valor, que são os recursos humanos. Não é só um problema das línguas. É todo um sistema que assenta num modelo de memorização, de obediência, de uma certa disciplina que torna incapacitante a análise, a capacidade de síntese, de argumentação, e a própria curiosidade de busca e de procura. Estive aqui cinco anos e não encontrei praticamente opinião crítica. É aflitivo ", acusa.

António de Vasconcelos Nogueira nasceu em Águeda em 1961. Doutorado em Filosofia (2001) e pós-doutorado em História Económica (2005), foi investigador-bolseiro da Fundação Ciência e Tecnologia e colaborador externo do Centro de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro desde 1998. Durante a estadia no Luxemburgo, foi colaborador do jornal CONTACTO. Algumas das crónicas que publicou foram incluídas no livro agora editado.

O investigador deixa o Luxemburgo já em Agosto com destino ao Canadá, onde espera trabalhar na área de estudos portugueses.

O livro "Os Portugueses no Luxemburgo" pode ser adquirido no portal da editora Sítio do Livro ( www.sitiodolivro.pt ), ao preço de 21,47 euros.

Foto e texto: P.T.A / Contacto

2 comentários:

  1. Eu, por acaso constatei o mesmo quando aí fui professor de Português durante a década de 80!

    ResponderEliminar
  2. *Bom Dia Estimado Prof. Dr. António de Vasconcelos Nogueira.
    *Gostaria de o felicitar pelo apresentação do seu livro/tese sobre a Imigração Portuguesa no Luxemburgo no dia 29/07*
    *Neste momento encontro me a apoiar a iniciativa de 3 familiares qualificados que desejam emigrar para o Luxemburgo devido à precariedade de trabalho em Portugal
    *Depois de ler o seu artigo o meu ânimo perdeu se pois não contava com tão dura realidade por parte da sociedade luxemburguesa para com as Diáspora, e estou a pensar principalmente na Comunidade Portuguesa.
    *Perante estes factos encontro me num impasse: se os incentivo a ir e a tentarem a sua sorte ou a desistirem, pois tudo aponta que desejam partir no fim do mês.
    *Nesse sentido solicitava o especial favor de me poderem fornecer alguma informação útil e prática sobre o mercado de trabalho no Luxemburgo e sites referentes ao alojamento para poder analisar com rigor esta decisão e se é ou não viável o desafio.
    *Atenciosamente Elsa Santos*
    elsa.artemisa@hotmail.com o mesmo email para aceder ao Facebook.

    ResponderEliminar