O número de estrangeiros inscritos para votar só é divulgado para a semana, mas o CONTACTO sabe que continuam a ser muito poucos. Na capital, o número de estrangeiros inscritos nos cadernos eleitorais não vai além dos 5.311. E em Esch, a segunda maior cidade do país, ficam-se pelos 2.391.
Em 2005, José Coimbra de Matos tinha razões para comemorar. Nesse ano, o número de inscritos para votar nas eleições comunais quase duplicou. "Até aí havia cerca de 13 mil inscritos, e em 2005 aumentou para mais de 23 mil", recorda o dirigente associativo. No caso dos portugueses, a subida foi ainda mais espectacular. "Conseguimos um aumento de 117 %".
São números que deverão ficar aquém dos resultados da campanha de recenseamento para as eleições comunais deste ano. O prazo para o recenseamento terminou no dia 14 de Julho, e o CONTACTO sabe que o governo deverá anunciar o número de estrangeiros inscritos na próxima semana. O Gabinete Luxemburguês de Acolhimento e Integração (OLAI) encomendou um estudo ao CEFIS (Centro de Estudos e de Formação Intercultural e Social) sobre os resultados da campanha de recenseamento nas 116 comunas do país, que deverá ser divulgado na próxima semana. Mas os primeiros resultados a que o CONTACTO teve acesso são desanimadores.
Na capital, o número de estrangeiros inscritos não vai além dos 5.311, de um universo de 47.222 não-luxemburgueses com mais de 18 anos. Fonte da Loja do Cidadão (Bierger-Center) da cidade do Luxemburgo disse ao CONTACTO que a autarquia não tem dados sobre o número de residentes estrangeiros que preenchem as condições necessárias para votar (cinco anos de residência), até porque os potenciais eleitores podem ter vivido antes noutras localidades do país. Mas dos 47.222 estrangeiros com mais de 18 anos – a idade para votar –, só estão recenseados 5.311 (cerca de 11 %). Eram 3.971 antes da campanha, o que corresponde a mais 1.340 inscritos (um aumento de 25 %, muito aquém dos resultados nas últimas comunais).
Um cenário que se repete em Esch-sur-Alzette, a segunda maior cidade do país. Ali, a campanha só conseguiu que se inscrevessem mais 286 estrangeiros nos cadernos eleitorais (um aumento de 11,9 %). O número total de estrangeiros recenseados não vai além dos 2.391, num universo de 12.293 pessoas com mais de 18 anos. Desses, pelo menos 5.000 vivem há mais de cinco anos na cidade, mas pode haver mais que preencham as condições de residência para votar, por terem vivido antes noutras localidades do país.
Em Wiltz, no Norte do país, há 400 estrangeiros inscritos num universo de 2.600. Em Larochette, só 267 dos 980 estrangeiros estão recenseados. Em Hesperange, são apenas 921 dos 6.900 potenciais eleitores. E em Differdange, há 1.578 estrangeiros recenseados num universo de 11.792 estrangeiros (7.623 dos quais portugueses). Para Coimbra de Matos, estes números mostram o fracasso das campanhas de incentivo à participação política dos estrangeiros. "Nós na CCPL fizemos um esforço enorme, fizemos um spot televisivo, mas quanto a nós o spot foi subaproveitado. Podia ter passado nos cinemas, mas as autoridades luxemburguesas, que subvencionaram o projecto, têm-no na gaveta em DVD", lamenta o dirigente associativo.
"Dá-me a impressão que as autoridades portugueses estão mais interessadas em que os portugueses votem no Luxemburgo do que as autoridades luxemburguesas. O canal português disponibilizou-se para passar o nosso anúncio. A RTL não".
As campanhas para promover o recenseamento foram conduzidas pelas associações de estrangeiros com financiamento do Ministério da Família. Mas com um orçamento de 80 mil euros para todas as acções de campanha no país, a penúria de meios chegou a ser caricata, e o resultado, diz Coimbra de Matos, está à vista.
"Não se vêem sequer outdoors sobre a campanha. Se da parte das autoridades luxemburguesas havia o interesse da participação política dos estrangeiros, era necessário uma campanha mais agressiva, até dada a falta de cultura política de algumas comunidades emigrantes, nomeadamente a portuguesa. Não se fazem morcelas sem sangue, como se diz em bom português". Até porque, recorda, "o desinteresse dos portugueses pela política já vem de longe", e são precisos mais esforços para o contrariar.
"Os portugueses não puderam votar durante 50 anos, e depois quando chegaram ao Luxemburgo não os deixaram votar", diz. "Isto não desculpabiliza as pessoas pelo desinteresse pela causa pública. Mas compete aos políticos sensibilizar as comunidades, e não ouvimos da parte dos políticos luxemburgueses um apelo claro à inscrição".
"Da nossa parte, o esforço foi feito com os meios que nos deram. Mas ficou muito aquém de uma campanha nacional, que devia ter passagens pela rádio, televisão e nos cinemas", lamenta o presidente da CCPL.
"Ficamos um pouco com um amargo de boca, porque de facto não são mobilizados todos os meios possíveis. É como na procissão de Echternach: dois passos para a frente e um para trás", critica Coimbra de Matos.
(P.T.A. / Foto: Marc Wilwert/groupe saint-paul Luxembourg)
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