A cantora cabo-verdiana Cesária Évora, de 70 anos, morreu esta manhã
no hospital Baptista de Sousa, em São Vicente, Cabo Verde, onde se
encontrava internada desde ontem.
A notícia foi confirmada à
agência Lusa pelo diretor clínico do hospital, que explicou que a morte ocorreu
por volta das 11h20 de hoje por “insuficiência cardio-respiratória
aguda e tensão cardíaca elevada”.
Alcides Gonçalves disse ainda
que desde que Cesária deu entrada no hospital esteve internada nos
serviços de cuidados intensivos “com um quadro muito complexo”.
“Durante
este período, ela alternou momentos de lucidez com momentos de
inconsciência e esteve sempre acompanhada do seu empresário José da
Silva”, disse o diretor.
A cantora regressou a S. Vicente, sua
ilha natal, a 22 de outubro após ter posto fim à sua carreira musical
devido a problemas de saúde.
Breve biografia
A “diva dos pés descalços”, como a imprensa
se referiu muitas fez a Cesária Évora, nasceu há 70 anos na cidade do
Mindelo, na ilha cabo-verdiana de S. Vicente no seio de uma família de
músicos.
Numa das muitas entrevistas que deu, certa vez, afirmou:
“tudo à minha volta era música”. O pai, Justiniano da Cruz, tocava
cavaquinho, violão e violino, instrumentos que se tornaram
característicos daquelas ilhas, o irmão, Lela, saxofone, e entre os
amigos contava-se o mais emblemático compositor cabo-verdiano, B. Leza.
“Cise”
como era carinhosamente tratada pelos amigos, tornou-se no nome mais
internacional de Cabo Verde, país de onde o mundo conhecia já grandes
músicos como Luís Moraes e Bana.
Desde cedo que Cesária Évora se
lembrava de cantar, como referiu numa das muitas entrevistas que deu:
“Cantava ao ar livre nas praças da cidade para afastar coisas tristes”.
Aos 16 anos canta nos bares das cidade e nos hotéis começando a ganhar
uma legião de fãs que a aclamavam já como “rainha da morna”.
A
independência da nação africana, em 1975, coincide com o início de um
“período negro” da cantora que deixa de cantar, tem problemas com o
alcoolismo e trabalha noutra área.
Em 1985 a convite de Bana,
proprietário de um restaurante e uma discoteca com música ao vivo em
Lisboa, Cise vem a Lisboa e grava um disco que passou despercebido à
crítica, seguindo para Paris onde é “descoberta” e daqui, como aconteceu
com outros cantores, partiu para os palcos do mundo.
Em 1988
grava “La diva aux pied nus", álbum aclamado pela crítica. Nesta fase da
sua carreira tem um papel fundamental, que se manteve até ao final, o
empresário francês José da Silva.
Em 1992 Cesária Évora gravou
“Miss Perfumado” e aos 47 anos torna-se uma “estrela” internacional no
mundo da world music, fazendo parcerias com importantes músicos e
pisando os mais prestigiados palcos.
Uma carreira internacional
que passou várias vezes por palcos portugueses cujas salas esgotavam
para ouvir, entre outros êxitos, “Sôdade”.
Em 2004 recebeu um
Grammy para o Melhor Álbum, de world music contemporânea pelo disco “Voz
d’Amor”. “Cise” não pára e continua em sucessivas digressões,
regressando de quando em vez à sua terra natal.
“Eu preciso de quando vez da minha da terra, do povo que sou e desde marulhar das ondas”, confidenciou certa vez à Lusa.
A
cantora começa a enfrentar vários problemas de saúde e alguns “sustos”
como afirmava, mas regressava sempre aos palcos e aos estúdios com
alegria.
Em 2009 o Presidente francês Nicolas Sarkozy entrega-lhe a
medalha da Legião de Honra, depois de uma intervenção cirúrgico que a
levou a temer pela vida.
Cesária voltou aos estúdios e anunciou não só uam digressão como a gravação de um novo que deveria sair no próximo ano.
No
dia 24 de setembro numa entrevista ao Le Monde a cantora afirma que tem
de terminar a carreira por conselho médico. A sua promotora, Tumbao,
emite um comunicado confirmando as declarações da “diva dos pés
descalços”, e dando conta da tristeza que sentia por ter de o fazer.
Nesse
mesmo dia ao princípio da tarde a cantora é internada no hospital
parisiense de Pitie-Salpetriere, por ter sofrido “mais um acidente
vascular cerebral (AVC)". A Tumbao emitiu nesse mesmo dia um comunicado
dando conta que o diagnóstico clínico da mais internacional artista
cabo-verdiana era “reservado”.
Hoje, aos 70 anos, completados
no passado 27 de agosto, e após uma curta visita a Lisboa onde pediu
para passear a pé pelo bairro de São Bento, morreu.
Ao
longo da carreira, além das inúmeras digressões e atuações em
televisões, gravou 24 álbuns, um DVD, “Live in Paris”, e registou
dezenas de colaborações em discos.
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