O ensaísta e filósofo português Eduardo Lourenço considera que a União Europeia
quis "andar muito depressa" e esse facto "pode estar na origem da crise
que [se] atravessa atualmente".
“Provavelmente quis-se andar muito depressa, provavelmente teria sido mais interessante que os Doze [Estados] se tivessem consolidado como um grande núcleo, com mais organiciade e mais regras de atuação democraticamente aceites”, servindo “de pólo de atração” a outros países, prosseguiu o ensaísta. "Mas não foi isso que se fez. Com a queda do muro de Berlim, a Europa ficou à deriva" .
O ensaísta falava à Agência Lusa na quinta-feira à margem da sessão de apresentação das suas Obras Completas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Questionado sobre uma perspetiva otimista para a União Europeia e o modelo que gostaria de ver a funcionar no espaço europeu, Eduardo Lourenço admitiu que a Europa nunca será uns "Estados Unidos" ainda que tenha sido uma “utopia de Victor Hugo no século XIX”.
A Europa não é, nunca foi, nem pode ser os Estados Unidos
"A Europa não é, nunca foi os Estados Unidos, não pode ser os Estados Unidos. É uma nação que se tornou federal pelo espaço, para harmonizar distâncias, com um centro que pudesse realmente tutelar esse sistema político. Foi democraticamente votado e tem sobretudo um cimento fantástico que é a mesma língua, as mesmas tradições culturais, a mesma cultura", acrescentou o ensaísta. "Os Estados Unidos não são uma nação do tipo europeu mas são uma nação. E que nação! E nós não somos essa nação!”, sublinhou.
Para Eduardo Lourenço, a Europa não pode vir a ser uma nação assim, como os Estados Unidos, "desta forma não”, acrescentou perentório. “Podemos ser outra coisa, mas realmente, aqui, só qualquer coisa do tipo federativo ou confederativo é que pode um dia realizar a ideia de uma Europa em que todos os países democraticamente possam encontrar uma convergência de ação e destino”.
Para Lourenço, “a Europa estava realizada”, se tal se verificasse. "Se tivéssemos uma língua comum há muito tempo que a Europa existia. Ela nunca existiu porque nunca teve [língua comum]”, disse.
O ensaísta recordou que todas as nações [europeias] se “disputaram durante séculos” além de que ainda hoje têm “clivagens intensas. Todos os países continuam a funcionar como se fossem nações totalmente senhoras do seu próprio destino, como no século XIX e depois da Revolução Francesa foram concebidas”, concluiu.
É uma catástrofe o euro colapsar
"Se o euro vier a colapsar vai ser uma catástrofe, no meu entender, vai ser uma catástrofe, com a alternativa de se regressar às moedas nacionais", disse o ensaísta.
"Há quem já esteja a jogar nisso fortemente", prosseguiu o ensaísta, esclarecendo que, "quando nos lançámos nesta aventura do euro - que era uma aventura efetivamente", havia já quem estivesse convencido de que este sonho não se realizaria, enquanto "nós pensávamos que seria concretizado".
“Se realmente o euro implode ou explode - não sei como hei-de dizer -, ficaremos numa espécie de 'caoticidade' e vai ser realmente muito difícil”, sustentou, argumentando que cada país vai voltar aos reflexos antigos, aliando-se aos países com quem tem mais afinidades ou compromissos históricos.
No caso de Portugal, Eduardo Lourenço diz que poderíamos voltar-nos outra vez para o Reino Unido ou para países que nem são europeus, aludindo aos africanos de língua oficial portuguesa ou ao Brasil, caso este “nos quisesse”, esclareceu.
“Penso que o Brasil não precisa de nós, nós é que precisamos do Brasil”, concluiu Eduardo Lourenço, sorrindo.
“Provavelmente quis-se andar muito depressa, provavelmente teria sido mais interessante que os Doze [Estados] se tivessem consolidado como um grande núcleo, com mais organiciade e mais regras de atuação democraticamente aceites”, servindo “de pólo de atração” a outros países, prosseguiu o ensaísta. "Mas não foi isso que se fez. Com a queda do muro de Berlim, a Europa ficou à deriva" .
O ensaísta falava à Agência Lusa na quinta-feira à margem da sessão de apresentação das suas Obras Completas, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Questionado sobre uma perspetiva otimista para a União Europeia e o modelo que gostaria de ver a funcionar no espaço europeu, Eduardo Lourenço admitiu que a Europa nunca será uns "Estados Unidos" ainda que tenha sido uma “utopia de Victor Hugo no século XIX”.
A Europa não é, nunca foi, nem pode ser os Estados Unidos
"A Europa não é, nunca foi os Estados Unidos, não pode ser os Estados Unidos. É uma nação que se tornou federal pelo espaço, para harmonizar distâncias, com um centro que pudesse realmente tutelar esse sistema político. Foi democraticamente votado e tem sobretudo um cimento fantástico que é a mesma língua, as mesmas tradições culturais, a mesma cultura", acrescentou o ensaísta. "Os Estados Unidos não são uma nação do tipo europeu mas são uma nação. E que nação! E nós não somos essa nação!”, sublinhou.
Para Eduardo Lourenço, a Europa não pode vir a ser uma nação assim, como os Estados Unidos, "desta forma não”, acrescentou perentório. “Podemos ser outra coisa, mas realmente, aqui, só qualquer coisa do tipo federativo ou confederativo é que pode um dia realizar a ideia de uma Europa em que todos os países democraticamente possam encontrar uma convergência de ação e destino”.
Para Lourenço, “a Europa estava realizada”, se tal se verificasse. "Se tivéssemos uma língua comum há muito tempo que a Europa existia. Ela nunca existiu porque nunca teve [língua comum]”, disse.
O ensaísta recordou que todas as nações [europeias] se “disputaram durante séculos” além de que ainda hoje têm “clivagens intensas. Todos os países continuam a funcionar como se fossem nações totalmente senhoras do seu próprio destino, como no século XIX e depois da Revolução Francesa foram concebidas”, concluiu.
É uma catástrofe o euro colapsar
"Se o euro vier a colapsar vai ser uma catástrofe, no meu entender, vai ser uma catástrofe, com a alternativa de se regressar às moedas nacionais", disse o ensaísta.
"Há quem já esteja a jogar nisso fortemente", prosseguiu o ensaísta, esclarecendo que, "quando nos lançámos nesta aventura do euro - que era uma aventura efetivamente", havia já quem estivesse convencido de que este sonho não se realizaria, enquanto "nós pensávamos que seria concretizado".
“Se realmente o euro implode ou explode - não sei como hei-de dizer -, ficaremos numa espécie de 'caoticidade' e vai ser realmente muito difícil”, sustentou, argumentando que cada país vai voltar aos reflexos antigos, aliando-se aos países com quem tem mais afinidades ou compromissos históricos.
No caso de Portugal, Eduardo Lourenço diz que poderíamos voltar-nos outra vez para o Reino Unido ou para países que nem são europeus, aludindo aos africanos de língua oficial portuguesa ou ao Brasil, caso este “nos quisesse”, esclareceu.
“Penso que o Brasil não precisa de nós, nós é que precisamos do Brasil”, concluiu Eduardo Lourenço, sorrindo.
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