sexta-feira, 15 de junho de 2012

"La face cachée des mots" - Olhares críticos e lúcidos sobre democracia e migrações, em Dudelange

O actor Nilton Martins é um dos rostos da exposição.                                                                                       Foto: Paulo Lobo
A exposição de Paulo Lobo, "La face cachée des mots - regards d'artistes sur les migrations et la démocratie", foi inaugurada na quinta-feira na Gare-Usines de Dudelange. O projecto pretende agitar consciências e ser uma reflexão sobre "a democracia, as migrações, a expressão política ou a cidadania". Os 30 rostos deste projecto artístico, de natureza política e social, são figuras da vida artística e intelectual do Grão-Ducado, alguns deles portugueses.

"Uma democracia sem valores não é uma democracia, tal como uma piscina sem água não é uma piscina", resume Dario Cieol, do Centro de Documentação sobre as Migrações Humanas (CDMH) de Dudelange e um dos dois comissários da exposição. Cieol refere-se à antiga piscina municipal de Dudelange, agora abandonada, onde os 30 artistas convidados pintaram as frases de ordem que ilustram a sua visão sobre os temas centrais da exposição.

"A piscina foi construída no estilo característico dos anos 60/70, que está associado à época das 'vacas gordas' da indústria metalúrgica no Luxemburgo", explica Paulo Lobo. "O local corresponde a esse período de estabilidade e tranquilidade política e social. O modelo social luxemburguês está desvirtuado, já não é como dantes. O emprego para toda a vida já não existe, por exemplo", ilustra o fotógrafo e chefe de redacção da revista Wunnen.

Os rostos do projecto "são cantores, escritores, actores, realizadores, jornalistas". Entre eles, há caras portuguesas como a do actor Nilton Martins, da jornalista Paula Telo Alves ou de Raquel Barreira, animadora na Radio Latina. Os escritores e poetas luxemburgueses Jean Portante e Antoine Cassar, o realizador luxemburguês de origem egípcia Adolf El Assal, o grupo luxemburguês de hip hip De Läb e a escritora Miriam R. Krüger são alguns dos outros rostos da exposição.

Paulo Lobo (à esq.), Christine Muller e Dario Cieol                              Foto: I.F.
 "O papel dos convidados é serem agitadores de consciências, observadores lúcidos, idealistas e defensores dos direitos das minorias", diz Paulo Lobo. "Escolhemos pessoas para quem a palavra é a forma de expressão", explica Christine Muller. A comissária da exposição acrescenta que "as fotografias servem como uma interpretação visual" das posições dos convidados sobre "os temas da democracia e das migrações".

"La face cachée des mots" é um espelho da multiculturalidade do Luxemburgo, uma diversidade que, aliás, se reflecte na diversidade de línguas utilizadas pelos convidados: "Não queríamos fazer uma espécie de representação das diferentes comunidades do Luxemburgo. As frases são em diferentes línguas, desde o luxemburguês ao francês, passando pelo inglês, pelo italiano e pelo alemão", diz Dario Cieol.

"Este é um projecto artístico e o papel dos convidados é dizer aos políticos que há coisas que não estão bem e serem objectores de consciência", resume Paulo Lobo.

A exposição é organizada pelo CMDH e pela autarquia de Dudelange, e está patente entre 21 deste mês e 29 de Julho e entre 16 de Setembro e 30 de Outubro, de sexta a domingo, entre as 15h e as 18h.

Texto: Irina Ferreira

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