quinta-feira, 25 de junho de 2009

Casa visitou portugueses na prisão

O grupo dos Amigos das Concertinas, o cantor Carlos Santos e os membros do Centro Social e Associativo (CASA) visitaram reclusos portugueses no Centro Penitenciário de Schrassig na quarta-feira passada.

Esta foi a terceira visita organizada pelo CASA desde que em 2008 obteve autorização do Ministério da Justiça para realizar convívios com os reclusos portugueses, uma iniciativa que leva música e gastronomia portuguesas àquele estabelecimento prisional. O CONTACTO acompanhou os dez voluntários, com idades entre os 19 e os 71 anos, num evento que, durante três horas, criou dentro das paredes do centro penitenciário um ambiente não muito diferente do de um qualquer café ou festa portuguesa no Luxemburgo.

Cumpridos os procedimentos de segurança (ver caixa), a comitiva portuguesa instalou na capela da prisão a mesa para o buffet e a aparelhagem para a animação musical, e na sala foram então acolhidos dez reclusos (o grupo que sucessivamente passou pelos crivos de obter autorização das autoridades, demonstrar bom comportamento e desejar juntar-se ao encontro). Os Amigos das Concertinas iniciaram o menu musical, que Carlos Santos completou com o seu repertório e ainda respondendo aos pedidos da audiência ("Another brick in the wall", original dos Pink Floyd, e "Feel", de Robbie Williams).

Do leitão aos camarões, passando pelos também tradicionais carapaus, pataniscas, rissóis, bolinhos de bacalhau e presunto, acompanhados de caldo verde, salada e arroz de feijão, e terminando com salada de fruta e tartes de maçã e de amêndoa para sobremesa, foi esta a ementa preparada (e muito elogiada) pelo grupo, guardas prisionais inclusive. As bebidas foram providenciadas pela própria prisão e o leitão pelo café Barros, de Elperdange; os restantes pratos foram de confecção caseira, fruto da boa vontade e talento culinário das associadas do CASA.

COMO NO BAILE
DA PARÓQUIA

Ao princípio, todos os presentes estavam tímidos e certamente um pouco constrangidos. Lentamente, por entre a música, nascem pequenas conversas de circunstância, para libertar a tensão e testar os sorrisos do outro. À medida que se partilha um comentário, um elogio à comida ou uma nota sobre a má prestação do Benfica nesta época, a confiança cresce e uma vez mais se faz notar a capacidade gregária dos homens, mesmo nos locais que se fizeram para separar as pessoas da sociedade. Construídas pontes a partir de pequenos nadas, para o final já se dançava em conjunto ao som do acordeão. E, uma vez mais como no baile da paróquia, o desconforto só haveria de regressar na hora de acabar.

José Trindade tomou a palavra para dizer que a visita não se destinava "nem a condenar, nem a libertar" os presos portugueses, mas antes a transmitir uma mensagem solidária, frisando que as possibilidades de intervenção e de repetição regular da confraternização estão também dependentes do bom comportamento dos reclusos. O presidente do CASA entregou então canetas e medalhas comemorativas do dia de Portugal: aos reclusos, uma pequena insígnia como lembrança simbólica do dia e dos pensamentos de quem os aguarda e tenta apoiar fora da prisão; ao chefe da guarda prisional, uma grande medalha, como reconhecimento pela abertura e apoio recebidos; e ainda ao cantor Carlos Santos, como agradecimento pelo envolvimento naquela, como noutras iniciativas sociais e culturais. Roland Diederich, o chefe da guarda, manifestou o prazer em receber a associação portuguesa e desejou que estas iniciativas continuem e se desenvolvam "no mesmo e bom sentido".

Enquanto o presidente do CASA distribuía cartões de visita da associação e lembrava que a associação pode responder às solicitações de apoio dos prisioneiros portugueses, dentro das limitações dos seus recursos, um dos reclusos comentava não conhecer nenhum outro evento semelhante envolvendo a população prisional, organizado por associações portuguesas ou por quaisquer outras.

Por entre as conversas informais tidas (aqui mantidas anónimas), puderam notar-se algumas constantes: problemas com consumo e tráfico de estupefacientes, entradas, saídas e reentradas frequentes no sistema prisional e, acima de tudo, problemas familiares e colapso das redes sociais. Estas dificuldades com família e amigos parecem ter acompanhado sempre os problemas com a Justiça: muitas vezes estando lá antes, de alguma forma estimulando a delinquência; sempre no durante, em especial no caso da toxicodependência, que afecta sobremaneira todos os próximos; e, quase sempre, no fim, como suporte essencial do processo de recuperação e reinserção... quando este acontece.

Os reclusos mencionaram em geral as boas condições da prisão, onde podem aceder a curas de desintoxicação, cursos de formação profissional e oportunidades para trabalhar. Em certas circunstâncias, podem ainda contar com quartos individuais com chave própria e ter saídas precárias. Um dos presos resumiu o positivo e o negativo de uma situação complexa: "Aqui a prisão tem tudo; só não tem janelas; e é sempre mais difícil para quem não fala luxemburguês".

No final, enquanto os restos eram embrulhados com cuidado para serem levados para as celas, ouviram-se muitos agradecimentos e um "bem melhor que a comida da cantina".

Sem comentários:

Enviar um comentário