domingo, 7 de junho de 2009

Crónica Política / Europeias: Abstenção pode trocar as voltas às sondagens

As empresas de sondagens admitem que estas eleições europeias podem, aparentemente, afectar a sua credibilidade, tal a dificuldade que se tem colocado à medição das expectativas de voto. E tudo, por causa da elevada abstenção que aumenta o grau de falibilidade dos estudos de opinião.

Todas as sondagens até agora publicadas dão a vitória ao Partido Socialista, embora por margens muito apertadas. Muitas delas colocam mesmo os socialistas em situação de empate técnico, com o PSD. Estes números diferem muito dos apurados para as eleições legislativas, onde a vitória do PS não suscita grandes dúvidas, apesar de aquém da maioria absoluta.

Mas deve dizer-se que tanto os meios de comunicação, como os próprios partidos, estão a encomendar menos sondagens, que noutras alturas. Uma das razões estará relacionada com a falibilidade, a outra, com as dificuldades económicas, apesar de estes estudos, em Portugal, serem muitos baratos. O preço médio ronda os 6.500 euros.

Para além da elevada abstenção, que pode ultrapassar os 60 por cento – Luís Figo já foi às televisões apelar ao voto – a outra causa de uma tão estreita aproximação deve-se à boa campanha do cabeça de lista do PSD, Paulo Rangel, e a uma certa desilusão provocada pela prestação do rival socialista, Vital Moreira.

Dos cinco principais candidatos, o socialista tem sido o mais "cinzento", facto agravado pela circunstância de, na primeira semana, não ter tido a seu lado duas das candidatas mais mediáticas, Elisa Ferreira e Ana Gomes, já anunciadas como candidatas também às presidências das câmaras do Porto e de Sintra, respectivamente. Além disso, tem sentido algum embaraço, quando confrontado com as questões eminentemente nacionais, ou quando é questionado sobre as políticas concretas da União Europeia. Vital Moreira é um constitucionalista que disserta facilmente sobre o funcionamento institucional da União, mas sente dificuldades nas questões mais concretas.

Pelo contrário, Paulo Rangel demonstra alguma desenvoltura de discurso, com a qual consegue disfarçar um menor domínio dos assuntos comunitários. Por outro lado, num momento de grandes dificuldades para largos extractos da sociedade, Rangel consegue introduzir temas nacionais, aqueles que mais preocupam as pessoas, o que lhe tem valido a simpatia do eleitorado.

Mas a grande revelação desta campanha tem sido o cabeça de lista do CDS/PP. Nuno Melo pode obter agora uma votação superior à quota eleitoral que o seu partido terá, nas próximas legislativas. Tem a ser favor a mediatização que conseguiu, como deputado, da comissão parlamentar que está a investigar a derrocada do Banco Português de Negócios (BPN). Aliás, tem recorrido frequentemente a esse tema, nas acções de campanha, marcando pontos com isso. Para muitos observadores, ele é a grande revelação desta campanha.

Aliás, o ponto mais quente foi trazido, justamente, pelo BPN. O candidato socialista considerou o caso "uma roubalheira", salientando a circunstância de haver muita gente do PSD envolvida. As reacções foram muitas e diversas, incluindo dentro do PS. Maria de Belém, que preside à comissão de inquérito, refutou os termos usados e José Lello criticou-a, publicamente.

Também o Bloco de Esquerda pode subir nestas eleições. As sondagens, aliás, prevêem que a candidatura de Miguel Portas seja a que vai crescer mais, podendo mesmo eleger um segundo deputado, apesar de Portugal, no seu conjunto, perder dois mandatos.

O PCP está a fazer uma campanha sem registo especial, trazendo para o debate a crise social, subsequente à crise económica. Ilda Figueiredo tem visitado as empresas onde o desemprego é uma ameaça, atacando a política económica do Governo e o neo-liberalismo da União Europeia.

O PCP foi, de resto, o único partido que, até ao momento, não se pronunciou sobre a proposta de Vital Moreira de criar um imposto europeu, ou comunitarizar um imposto nacional. Com isso, o candidato do PS pretende aumentar o orçamento da União, para 1,25 por cento dos PIBs nacionais, a partir de 2013. Todos os restantes partidos se manifestaram contra a ideia, acusando Vital Moreira de federalismo.

A mais recente polémica estalou na noite de segunda-feira, quando Vital Moreira recusou um debate, com Paulo Rangel, que seria promovido pela RTP, na quinta-feira. Vital diz que Rangel quer o frente-a-frente porque está desesperado e Rangel diz que Vital não o quer porque está... desesperado! O mesmo argumento, para dois ataques de sinal contrário.

Sérgio Ferreira Borges, em Lisboa
in Contacto, 03.06.2009

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