Ainda as eleições europeias. Para quem goste da Europa, como conceito e como projecto, as eleições não ofereceram grandes motivos de regozijo; as reacções e análises posteriores vieram acrescentar alguns pontos de melancolia a quem sonha com uma grande democracia europeia, participada, interessada, dinâmica e conhecedora. Nenhum destes objectivos parece ser muito bem servido pelas eleições de 2009.
Desde logo, não houve eleições europeias mas sim 27 eleições nacionais simultâneas. Nas (relativamente pobres) campanhas eleitorais, os temas nacionais, locais ou simplesmente patetas eclipsaram os assuntos que os cidadãos iriam no fundo decidir com o seu voto, como as políticas económicas coordenadas, as alterações climáticas, o nível de integração europeia, onde ficam as fronteiras do continente e quão abertas elas devem ser, o lugar da Europa – e o seu poder – num mundo em acelerada mutação... Lembrar-se-á o leitor de ver o(s) candidato(s) em que votou explanar o que pensa sobre estes assuntos? Se sim parabéns, não é fácil.
Reacção dos votantes: não aparecer à cena. Uma campanha tão negativa como a que por exemplo decorreu em Portugal não inspira muita gente a pronunciar-se, nem transmite a importância de um Parlamento Europeu que produz já dois terços da legislação de cada país e que, se o Tratado de Lisboa for aprovado e entrar em vigor para o ano, verá os seus poderes muito acrescidos - poderes esses que serão entregues aos deputados que acabam de ser eleitos. Apenas 43,24 % dos europeus que podiam votar o fizeram, o que é um recorde negativo (em Portugal foram apenas 37 %, o que não nos deixa ficar bem na fotografia e motivou um discurso duríssimo do Presidente da República contra "aqueles que baixam os braços numa atitude resignada"). E é fraco consolo pensar que nos Estados Unidos, por exemplo, ainda menos gente se arrasta para votar.
Este desinteresse dos eleitores provoca estragos a dois níveis: um de legitimidade – o Parlamento Europeu representa bem todos os europeus? – e outro de capacidade, pois a abstenção elevada favorece os partidos extremistas e populistas que infestam o novo Parlamento com a sua agenda de ódios – ódio à Europa, à globalização, à imigração, aos países vizinhos do seu, ao diferente, à mudança e ao futuro. E porque não se pode estar sistematicamente contra o futuro, é tão importante – essencial mesmo - que as eleições europeias sejam repensadas e melhoradas. Voltarei a este assunto com sugestões.
Hugo Guedes
Esta crónica pode ser lida amanhã na edição do Contacto de amanhã, 17 de Junho de 2009. As crónicas quinzenais de Hugo Guedes podem também ser lidas no blogue associado do CONTACTO: Na rua da grande cidade
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