sexta-feira, 24 de julho de 2009

Luxemburgo: Contra planos do Governo de "suavizar" exigências linguísticas, professores de francês defendem trilinguismo

A Associação dos Professores de Francês do Luxemburgo (APFL) opõe-se aos planos do novo Governo de aligeirar as exigências linguísticas dos alunos, que considera uma "mentira". A APFL denuncia o mito segundo o qual os alunos devem dominar perfeitamente o francês, o alemão e o inglês para passar o exame de fim do secundário ("bac") e opõe-se a uma opção "francês ou alemão, segunda língua", temendo o abandono do trilinguismo.

"Jean Asselborn disse que era preciso ser brilhante nas três línguas para obter o bac . Não é verdade, é perfeitamente possível acabar o liceu sem o domínio das três línguas", afirma Jean-Claude Frisch, presidente da APFL, naquilo que considera a "mentira do trilinguismo".

Frisch explica ainda que os alunos das secções científicas e artísticas (B, C, E e F) podem desistir de uma língua logo no início do ciclo. "O que não acontece com os alunos dos liceus técnicos, sem contar com a possibilidade de compensar até duas notas insuficientes". "Atingimos um certo equilíbrio entre as três línguas e não se pode agora pôr isso em causa", defende Frisch, que acredita que renunciar ao trilinguismo, instaurando o "francês, segundo língua", criará uma cisão no seio da sociedade. A APFL teme que o "alemão, primeira língua" se transforme numa opção "mais fácil", enquanto o francês "seria opção para os alunos oriundos de meios sociais mais favorecidos, em que os pais obrigam os filhos a escolher o francês, conscientes da importância da língua para a integração do mercado de trabalho".

A tudo isto, segundo a APFL, junta-se a grande vantagem que é a possibilidade de escolher uma universidade num país vizinho. De outra forma, criar-se-á uma situação de bloqueio, em que um estudante de Medicina seria obrigado a ir para a Alemanha, em vez da França, por não ter um nível de francês suficiente". Sem esquecer a vantagem que constitui o trilinguismo no mercado de trabalho luxemburguês, salienta ainda Frisch, sobretudo face à concorrência dos fronteiriços.

Frisch vai mais longe nas críticas, afirmando que depois de conhecidos os resultados do estudo PISA "tudo foi posto em questão, mas o nosso ensino não está assim tão mal". "Quando a OCDE critica o nosso sistema escolar, estamos prontos a abandonar um acervo essencial, mas quando a mesma critica o nosso sistema bancário, somos nós que criticamos a OCDE!"

ASTI: multilinguismo não é motivo do insucesso escolar

A ASTI (Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes) considera que o multilinguismo é, mais do que um problema, uma vantagem para os estudantes e futuros profissionais luxemburgueses.

Em comunicado, aquela associação lembra que "os problemas de insucesso escolar, que temos tendência a atribuir às numerosas exigências linguísticas, existem noutros países em que as exigências linguísticas não são tão grandes". Em consequência, a ASTI afirma que "o multilinguismo luxemburguês pode acentuar os problemas, mas não é a base do problema".

O problema, para a associação, são as desigualdades sociais e, por isso, defende que "a escola deve agir contra as desigualdades sociais de que sofrem os alunos socialmente mais frágeis, muitas vezes provenientes da imigração. Trata-se, isso sim, de uma questão de coesão social".

No mesmo comunicado, a ASTI sugere o "rejuvenescimento" do ensino das línguas no Luxemburgo, colocando a ênfase na potencialidade das línguas como meio de comunicação oral.

Estadias e "banhos" linguísticos poderão ser, segundo a associação, métodos eficazes. "A experiência de mais de 20 anos da ASTI, com estadias linguísticas na Alemanha, ilustram bem esta ideia". E considera que "na Grande Região, a geminação entre liceus do Luxemburgo com outros desta região poderia ser o local de predilecção para utilizar as línguas, sabendo-se que a escola apresenta dificuldades ligadas ao carácter escolar e literário das línguas."

A ASTI espera que "este debate sobre o multilinguismo seja feito em larga escala" e que "não seja boicotado por aqueles que, na verdade, nada querem mudar".

F. Pinto

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