domingo, 2 de agosto de 2009

Brasil: Habitantes da Rocinha, maior favela da América Latina, duplicaram numa década

Um censo inédito realizado na favela Rocinha no Rio de Janeiro, a maior da América Latina, registou mais de 100 mil moradores, um número muito superior ao contabilizado na última sondagem, no ano 2000, quando eram 56 mil pessoas.

Realizado entre Dezembro de 2008 e Junho deste ano pelo Governo do Estado do Rio, o levantamento contabilizou 100.818 habitantes, dos quais mais de metade são mulheres. Em nove anos, o registo populacional quase duplicou.

O crescimento populacional nos centros urbanos revela o obstáculo que as grandes cidades enfrentam de falta de dados precisos para direccionar políticas públicas habitacionais.

O estudo apontou que, na Rocinha, existem cerca de 38 mil imóveis e revelou o que já há muito se suspeitava: há mais de 6.500 empresas na Rocinha, sendo que 91% são ilegais e não pagam impostos.

A grande quantidade de becos, escadarias e ruas estreitas prejudica a ventilação e a circulação de pessoas e veículos.

Os carros só transitam em 7,5% das ruas, sendo que 34% dos acessos à favela são feitos por becos, o mesmo valor por escadas e apenas 15% por ruas de peões.

Nestas condições, apenas 30% dos moradores recebem correspondências em casa.

O arquitecto e urbanista, Marat Menezes, avalia como um “grande avanço” o levantamento da Rocinha.

“Sem dúvida, saber a quantidade de pessoas que vivem lá é o primeiro passo para a gestão pública. Só se consegue investir quando se tem uma leitura coerente do real”, disse à agência Lusa o arquitecto ao destacar que a geração de dados ajuda a “derrubar as muralhas que separam a cidade formal das favelas”.

Marat Menezes trabalha nos projectos de intervenção na Rocinha, incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento, conhecido como PAC das Favelas, com financiamento do Governo Federal.

A Rocinha tem o estatuto de bairro desde 1992 e conta inclusive com uma região administrativa do município, no entanto, enfrenta os mesmos problemas de qualquer favela.

“A Rocinha está muito densa, o número de pessoas por metro quadrado é muito alto e este é um dos desafios”, considerou o arquitecto.

A sondagem, referiu Marat Menezes, é apenas o início de um processo. “Agora está a ser elaborado um plano de acções para confrontar os dados com a opinião dos moradores”, com o objectivo de obter contribuições para a elaboração de acções sociais e políticas públicas.

“Uma pesquisa quantitativa é fundamental, mas é fria. O que estamos a construir com os moradores é um material muito mais rico”, salientou.

Rocinha vai receber 25 milhões de reais para programas sociais


O estudo vai ajudar a direccionar cerca de 25 milhões de reais (9,3 milhões de euros) em programas sociais na Rocinha.

Envolvido com trabalhos e actividades na Rocinha há pelo menos quatro anos, Marat Menezes considera que todo este planeamento habitacional e urbanístico para a favela pode servir como um modelo.

“Todo o repertório teórico não é novo, mas o trabalho num território com essa densidade populacional e política como a Rocinha, numa cidade como o Rio de Janeiro, que já foi uma capital federal, é um desafio e está a ser feito de forma pioneira”, concluiu.

Fabíola Ortiz, da Agência Lusa,
no Rio de Janeiro

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