O novo romance de José Saramago chama-se "Caim" e tem como personagens principais aquela figura bíblica, Deus e a Humanidade "nas suas diferentes expressões", segundo a descrição de Pilar del Río no blogue do Nobel da Literatura.
"Saramago escreveu outro livro", anuncia a mulher do escritor e presidente da Fundação José Saramago num texto colocado no blogue "O Caderno de Saramago", recordando que surge um ano depois do lançamento do anterior, "A Viagem do Elefante".
A nova obra literária "não é um tratado de teologia, nem um ensaio, nem um ajuste de contas: é uma ficção em que Saramago põe à prova a sua capacidade narrativa ao contar, no seu peculiar estilo, uma história de que todos conhecemos a música e alguns fragmentos da letra", descreve Pilar del Río.
Assinala ainda que em "Caim", tal como nos anteriores livros - e dá o exemplo de "O Evangelho segundo Jesus Cristo" - "o autor não recua diante de nada nem procura subterfúgios no momento de abordar o que, durante milénios, em todas as culturas e civilizações foi considerado intocável e não nomeável".
Esse objecto de análise no romance é "a divindade e o conjunto de normas e preceitos que os homens estabelecem em torno a essa figura para exigir a si mesmos - ou talvez seria melhor dizer para exigir a outros - uma fé inquebrantável e absoluta, em que tudo se justifica, desde negar-se a si mesmo até à extenuação, ou morrer oferecido em sacrifício, ou matar em nome de Deus", aponta.
Em 1991, "O Evangelho Segundo Jesus Cristo" causou acesa polémica em Portugal, e viria a ser vetado pelo governo à época para concorrer ao Prémio Europeu de Literatura, iniciativa que pesou na decisão do escritor para abandonar o país e passar a residir em Lanzarote, Espanha.
Pilar del Río sublinha ainda no blogue: "com a cabeça alta, que é como há que enfrentar o poder, sem medos nem respeitos excessivos, José Saramago escreveu um livro que não nos vai deixar indiferentes, que provocará nos leitores desconcerto e talvez alguma angústia, porém, amigos, a grande literatura está aí para cravar-se em nós como um punhal na barriga, não para nos adormecer como se estivéssemos num opiário e o mundo fosse pura fantasia".
"Este livro agarra-nos, digo-o porque o li, sacode-nos, faz-nos pensar: aposto que quando o terminardes, quando fizerdes o gesto de o fechar sobre os joelhos, olhareis o infinito, ou cada qual o seu próprio interior, soltareis um uff que vos sairá da alma, e então uma boa reflexão pessoal começará, a que mais tarde se seguirão conversas, discussões, posicionamentos", escreve ainda a presidente da Fundação Saramago no texto.
Quase a concluir, Pilar del Río classifica o romance de José Saramago, 86 anos, como "literatura em estado puro".
Filho primogénito de Adão e Eva segundo o Antigo Testamento da Bíblia, Caim sentiu ciúmes por Deus ter preferido as ofertas feitas pelo irmão mais novo, Abel, e matou-o, cometendo o primeiro homicídio na história da Humanidade.
"Caim" vai ser lançado em Outubro pela Editorial Caminho na Feira do Livro de Frankfurt e no final do mês estará à venda nas livrarias em Portugal, Espanha e América Latina.
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