Os interrogatórios da CIA causaram provavelmente danos no cérebro e memória dos suspeitos de terrorismo, diminuindo a sua capacidade física de providenciar a informação pormenorizada que a Agência procurava, sustentou segunda-feira uma comunicação científica.
A comunicação, assinada pelo académico irlandês Shane O'Mara, escrutina as técnicas musculadas utilizadas pela CIA durante a administração Bush pelas lentes da neurobiologia.
Os investigadores concluíram que os métodos cruéis foram biologicamente contraproducentes a extrair informação de qualidade porque a tensão prolongada prejudica a capacidade do cérebro a reter e relembrar informação.
"Provas científicas sólidas sobre como o reiterado e extremo stress e dor afectam a memória e as funções executivas (como o planeamento ou a formação de intenções) sugerem que estas técnicas, provavelmente, têm o efeito contrário do que é pretendido pelo interrogatório coercivo", assinala O'Mara na comunicação publicada segunda-feira pelo jornal científico Trends in Cognitive Science: Science and Society (Tendências na Ciência Cognitiva: Ciência e Sociedade).
A lista de técnicas da CIA usadas incluía a privação prolongada do sono (seis dias pelo menos num caso) ser amarrado em posições dolorosas, exploração das fobias dos prisioneiros e o "waterboarding", uma forma de simulação de afogamento que o Presidente Barack Obama qualificou de tortura. Três prisioneiros da CIA foram sujeitos ao "waterboarding", dois deles de forma prolongada.
Estes métodos levam o cérebro a libertar as hormonas do stress que, se forem libertadas de forma repetida e prolongada, podem comprometer a função do cérebro e até levar a perdas de tecido, sustenta a comunicação.
Isto pode originar desordens nos lóbulos cerebrais, o que torna os prisioneiros vulneráveis à confabulação - produção patológica de falsas memórias baseadas nas sugestões do interrogador. Estas falsas memórias misturam a informação verdadeira no interrogatório, tornando difícil distinguir entre o que é real e o que é fabricado.
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