Victor, um jovem de 14 anos, perdeu a vida ao jogar um "jogo" que tem múltiplas designações, embora as mais conhecidas sejam "o jogo do lenço" ou o "jogo de asfixia", ou "jeu du foulard". O estrangulamento voluntário pode provocar sequelas irreversíveis senão mesmo conduzir à morte. Pensando descobrir sensações fortes, os jovens que o praticam não estão conscientes que se trata de uma conduta de alto risco. A "Association de Parents d'Enfants Acidentés par Strangulation" (APEAS) alerta que a vigilância e a prevenção são as melhores armas para lutar contra este comportamento.
Na semana passada, em Toernich, perto de Arlon, Victor, de 14 anos, foi mais uma das vítimas mortais do jogo de asfixia, sucumbindo aos olhos do pai. Depois da escola, foi fazer os trabalhos de casa para o quarto. Como não descia para vir comer, o pai foi procurá-lo mas já era tarde demais.
O caso deste jovem não é isolado. De acordo com os números da APEAS, há pelo menos uma dezena de mortes por ano em França. Na realidade, é possível que sejam muito mais. Ficam de fora deste número as crianças e os jovens que, tendo escapado à morte, ficaram com sequelas irreversíveis para o resto da vida.
Não existem estatísticas oficiais sobre o número de vítimas fatais ou de crianças e jovens hospitalizados em unidades de emergência por causa do jogo de asfixia.
No entanto, um inquérito realizado em mais de 400 colégios franceses pelo professor Grégory Michel, psicoterapeuta do Hospital Infantil Robert-Debré, em Paris, revela que 12 % dos alunos afirmaram já ter praticado esse jogo.
Esta prática já teria início nas escolas da pré-primária, segundo a associação APEAS, com uma brincadeira chamada "jogo do tomate", em que as crianças brincam com a respiração para ver quem fica com o rosto vermelho mais tempo.
Com um pouco mais de idade, a "brincadeira" passa a ser feita por meio da compressão do pescoço, fazendo pressão nas artérias carótidas, que levam sangue ao cérebro.
Normalmente, os acidentes fatais acontecem quando o adolescente reproduz sozinho, em casa, o "jogo", praticado por colegas na escola. Ao tentar praticar sozinho o estrangulamento com lenços, cintos ou até mesmo cordas, ele perde o controlo dos movimentos após começar a sofrer convulsões e acaba por enforcar-se.
De acordo com uma psicóloga do "Centre de Psychologie et d’Orientation Scolaire" (CPOS) do Grão-Ducado, embora o jogo de asfixia seja uma prática muito pouco comum no Luxemburgo, "não estamos protegidos, podendo vir a expandir-se muito rapidamente".
SensaÇÕes alucinatÓrias
O jogo de asfixia consiste num estrangulamento voluntário, realizado individualmente ou acompanhado, cujo objectivo consiste em viver uma experiência, ter sensações novas. O princípio do jogo é simples. Consiste numa hiper ventilação forçada, seguida de um bloqueio da respiração, juntamente com uma pressão sobre as carótidas e eventualmente uma forte compressão do esterno. A falta de oxigénio no cérebro causa perda da consciência, produzindo-se um ligeiro desmaio, precedido de sensações de tipo alucinatório.
A população atingida por este fenómeno é vasta, desde os quatro aos 20 anos, atingindo rapazes e raparigas de qualquer nível social. Muito frequentemente, de acordo com Lídia Correia, psicóloga no CPOS, os jovens ou as crianças "que praticam o jogo de asfixia e outras condutas de risco são fragilizadas psicologicamente. Procuram meios para sentirem que existem".
Depois de a criança experimentar o jogo na escola com os colegas, algumas vezes procura ter as mesmas sensações sozinha. E neste caso, o risco de morte aumenta porque estando só, não pode pedir socorro em caso de estrangulamento.
Foi o que aconteceu com Victor em Toernich, na Bélgica, na passada semana. O estrangulamento pode ser seguido de uma síncope e de um ataque cardíaco a qualquer momento. Vários jovens que praticaram este jogo não chegaram a morrer, mas o facto de o seu cérebro ter sido privado de oxigénio durante três ou quatro minutos, guardam sequelas na maior parte das vezes irreversíveis, como cefaleias, tremores, convulsões, coma mais ou menos profundo, crises epilépticas, convulsões e paralisias.
Estas crianças e adolescentes não têm, na maior parte das vezes, consciência do que estes comportamentos implicam. Este jogo, de acordo com a associação APEAS não pode ser associado ou confundido com tentativa de suicídio por parte do jovem, mas apenas a uma procura de experiências novas e de sensações de prazer. Não são, na maioria das vezes acompanhadas de comportamentos estranhos. No entanto, há pormenores no comportamento da criança e do jovem que poderão deixar os pais de sobreaviso. Deixamos, por isso, algumas indicações úteis. Cristina Campos
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