Laura Zuccoli (à esquerda), que integra a Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI) desde 1986, sucede a Serge Kollwelter (à direita) que estava à frente dos destinos da associação desde 1979, ano da sua fundação / Foto: Michel Brumat
A Associação de Apoio aos Trabalhadores Imigrantes (ASTI) festejou na semana passada o seu 30° aniversário. A ocasião escolhida para a passagem de testemunho de Serge Kollwelter, que presidia aos destinos da ASTI desde a sua fundação, a Laura Zuccoli.
Uma oportunidade para o carismático fundador da organização abrir o baú das memórias e recordar as lutas travadas pela organização.
“A ASTI, criada em 1979, é a continuidade de uma associação mais antiga, nomeadamente a União (ainda hoje se encontra nas instalações da ASTI, na rue Auguste Laval, n°12-14, em Eich, na cidade do Luxemburgo), que se propunha olhar e agir perante os problemas dos portugueses, os quais, na prática, eram os mesmos que os dos espanhóis e italianos”, relembra a figura incontornável da organização, Serge Kollwelter, sublinhando que “o objectivo era reunir as várias associações existentes para um objectivo comum: a participação política e o direito de voto dos estrangeiros”.
Entretanto, Kollwelter reconhece “que a reivindicação fundadora da ASTI, ou seja, o direito de voto dos imigrantes (nas eleições comunais e europeias), foi essencialmente transposta pelo Tratado de Maastricht, houve claramente uma pressão europeia que fez avançar as coisas”.
É com regozijo que Serge Kollwelter relembra que a ASTI conseguiu levar o Estado luxemburguês perante o Tribunal de Justiça Europeu, obrigando-o a mudar uma lei sobre as Câmaras Profissionais.
“O Luxemburgo é um fiel da União Europeia , mas muito atrasado quando se trata da transposição de uma série de directivas”, lamenta Serge Kollwelter.
Ao longo dos 30 anos a comandar os destinos da ASTI, Kollwelter não esquece os momentos em que pôde “constatar que a situação de pessoas e as famílias melhorou significativamente".
Já quanto aos momentos “em que não nos sentimos bem podemos assinalar a forma rigorosa e desumana como se processaram e ainda se processam certos repatriamentos”, insurge-se Kollwelter.
Por isso, Serge Kollwelter deixa ao Ministério da Imigração a mensagem: “Uma sociedade significa viver juntos e não se constrói acumulando excepções e derrogações. Se não agirmos perante o défice democrático que temos, caminhamos para uma espécie de África do Sul, que entretanto já ultrapassou esse estado”.
Nova presidente e novo porta-voz
Laura Zuccoli é sucessora de Serge Kollwelter e à semelhança deste último já anda nestas lides há algum tempo, há 26 anos.
Laura Zuccoli, de origem italiana, aceitou o cargo, porque “o próprio Serge já falava desde algum tempo em transmitir o testemunho a outra pessoa (o próprio confiou ao CONTACTO que a ASTI estava injustamente demasiado associada à sua imagem), além de estar envolvida com a ASTI há já muito tempo, me identificar com ela e poder contar com toda uma equipa”.
Para a nova presidente, os desafios continuam a ser os mesmos de agora, isto é, “preservar a coesão social no sentido em que os estrangeiros tenham o seu lugar na sociedade, que não sejam apenas vistos como mão-de-obra”.
"Isto é válido tanto para estrangeiros não-comunitários como para estrangeiros comunitários", exemplificando que os portugueses continuam a chegar ao Luxemburgo, por isso, a questão da integração coloca-se sempre, sobretudo em época de crise".
A sucessora de Serge Kollwelter insiste que a "participação política é absolutamente essencial, porque não se pode viver num país em que 70 % da população activa, que não é luxemburguesa, não vota". "Apenas 46,3 % dos eleitores são residentes luxemburgueses", informa.
Laura Zuccoli propõe-se ainda no futuro, além de desenvolver uma série de projectos, "insistir na sensibilização da opinião pública, mostrando-lhes que temos boas práticas, as quais têm uma ligação directa com as nossas tomadas de posições políticas".
Sobre a escolha do porta-voz, a nova dirigente da ASTI afirma que após a sua nomeação não queria ser demasiado omnipresente e achou importante diversificar as caras no seio da ASTI.
Além disso, é a forma de "dar a outras pessoas a oportunidade de se exprimirem sobre assuntos como política e ter outra pessoa que simbolize a imagem da ASTI", defende.
Zuccoli assevera que o porta-voz (o cargo será ocupado por Jean Lichtfous) "é totalmente independente, no sentido em que não é pago pelo Estado, mas sim pela ASTI, e não integra nenhum projecto financiado pelo poder público".
"Temos projectos que são financiados pelo Governo e pela União europeia, mas tudo o que diz respeito à política somos independentes, e a pessoa que representa essa liberdade é o porta-voz.
ASTI consegue revisão da nova lei sobre a.s.b.l.
As associações sem fins lucrativos (asbl) e as fundações são actualmente regidas pela lei de 21 de Abril de 1928. Ainda que as associações estejam de acordo sobre uma revisão, o projecto-lei entregue no início do mês pelo Governo à Câmara dos Deputados não satisfaz as exigências das asbl.
A 11 de Novembro, Serge Kollwelter denunciava que "que os autores do texto não estabelecem nenhuma diferença entre um pequeno clube ou uma secção local e uma associação que gera milhões de euros de lucros, levando a que o trabalho administrativo para as pequenas associações seja demasiado pesado, o que é contraproducente".
Laura Zuccoli reconhece que "há mérito do ex-presidente da ASTI, porque conseguiu juntar um rol de associações tão diversificadas, desde associações de cariz ecológica, passando por associações de cariz social e desportivo, para fazer com que o projecto-lei inicial fosse retirado".
Zuccoli insiste que as asbl são importantes, uma vez que contribuem para a integração das pessoas.
Nuno Costa
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