Um “decepcionante fracasso”, foi desta forma como a secretária brasileira de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn, classificou a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em Copenhaga, que terminou hoje esvaziada após 12 dias de negociações.
“Tudo o que vinha sendo negociado desde Bali (a última conferência do clima, em 2007), como trazer os Estados Unidos para um acordo legalmente vinculante, bem como os emergentes, ficou de fora”, afirmou.
Segundo a imprensa brasileira, a reunião de Clima terminou em “completo desacordo”, mesmo depois de horas de discussão durante a madrugada. Os 193 países encerraram a negociação sem chegar a uma unanimidade.
O texto do documento pré-aprovado por, no total, 30 países ricos, emergentes ou em desenvolvimento e barrado por países como Tuvalu, Venezuela, Bolívia, Cuba e Sudão, não prevê metas de redução de emissões globais e tão pouco especifica os compromissos dos países ricos ou em desenvolvimento.
O embaixador brasileiro para mudanças climáticas, Sérgio Serra, lamentou a falta de metas ao afirmar que “ninguém está contente” e que o Brasil saiu “insatisfeito”.
Os chefes de Estado, entre eles o Presidente Lula da Silva, deixaram Copenhaga antes mesmo de uma decisão final.
Tanto a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chefe da delegação brasileira e o negociador-chefe do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, abandonaram a reunião sem dar declarações.
Apenas o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, permaneceu a negociar até mais tarde. Minc ainda acusou os EUA pelo fracasso do acordo: “Os EUA foram o principal entrave desta conferência”.
O documento final foi “bastante genérico”, avalia Paulo Barreto, investigador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon), em declarações à Lusa.
“É frustrante, foi pior do que se esperava. Não aconteceu um acordo global. De facto, já se esperava que não haveria um detalhamento, mas precisávamos de um acordo que estabelecesse o máximo de aumento da temperatura e um corte de emissões”.
Barreto, que participou da primeira semana de encontros paralelos na COP15, afirmou ter sido um “grande desperdício” de tempo, pois os negociadores discutiram muito sem que chegassem à base para um “acordo robusto”.
O representante do Imazon critica ainda o facto de os líderes mundiais se terem reunido à “última hora”, em vez de terem marcado um encontro com mais antecedência para fazer negociações “mais complexas”.
O acordo pré-aprovado, definido pelo Presidente Obama como "insuficiente", apresentou o limite de aumento de temperatura global a 2ºC e a criação de um fundo que destinaria 100 mil milhões de dólares (70 mil milhões de euros) todos os anos a partir de 2020 para o combate às mudanças climáticas, mas não define metas sobre corte de emissões de gases de efeito estufa, que era a grande expectativa da conferência.
O documento ainda cita metas apresentadas voluntariamente pela União Europeia de corte de 20 por cento e pelos EUA, de 17 por cento.
Para Paulo Barreto, a “lição” desta reunião é a necessidade de haver mais “liderança” entre os chefes de Estado.
“O que vai acontecer dependerá do tipo de pressão da opinião pública para os governantes serem mais activos”.
Agora já se pensa nos prosseguimentos das negociações climáticas em 2010 antes do fim da vigência do Protocolo de Quioto, que expira a 31 de Dezembro de 2012.
A primeira reunião climática da ONU pós-Copenhaga será em Bona, na Alemanha, que ocorrerá de 31 de Maio a 11 de Junho e trata-se de uma reunião técnica anual de negociadores climáticos.
A seguir, de 8 a 19 de Novembro, ocorrerá na Cidade do México, a reunião ministerial sobre o clima, a COP16.
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