O resultado hoje obtido na Conferência de Copenhaga sobre as alterações climáticas foi "um enormíssimo fracasso" que adia por um ano um verdadeiro acordo vinculativo, disse hoje à Lusa um especialista em questões de ambiente.
"Objectivamente estamos perante um fracasso negocial, já que os resultados são paupérrimos", afirmou Viriato Soromenho-Marques, professor universitário e responsável pelo programa de Ambiente da Fundação Calouste Gulbenkian.
No seu entendimento, não se cumpriu o caderno de encargos que em 2007 foi definido pela 13/a Conferência das Partes da ONU (COP13) em Bali, que tinha indicações muito claras para um conjunto de medidas que visariam criar um novo regime climático para o pós-Quioto e para vigorar em 2013.
"O que foi aprovado foi uma declaração cuja forma de elaboração foi um pouco estranha, já que foi imposta pelos Estados Unidos e alguns países industrializados e emergentes, deixando o plenário da conferência na obrigação de o assumir", afirmou.
Uma das lições desta conferência, na sua perspectiva, é que os países estão num grau desigual de atenção a esta problemática.
"O tema das alterações climáticas não ganhou ainda maturidade em muitos países, e nomeadamente nos Estados Unidos", sublinhou.
"Viu-se em Copenhaga o abismo que separa a cultura política europeia da norte-americana em relação às alterações climáticas", em grande parte devido aos oito anos de Administração do presidente George W. Bush, cuja sombra "pairou sobre Copenhaga" na fragilidade das posições do Presidente Barack Obama.
Por outro lado, "chegámos a Copenhaga convencidos de que o mundo estava dividido em três partes, com os países desenvolvidos de um lado, os países emergentes de outro e depois uma longa lista de países pobres menos desenvolvidos".
Todavia, "assistimos em Copenhaga a um fenómeno muito curioso, em que uma parte dos países do primeiro e os do segundo grupo se uniram numa declaração sem qualquer validade, não vinculativa, deixando de fora rodos os outros países, nomeadamente os 27 da União Europeia, que são a vanguarda deste processo, e os países mais pobres do mundo, que não contribuem em nada para as alterações climáticas".
"Os mais conscientes e os mais pobres do mundo ficaram isolados neste processo", o que "é um tema para reflectir" considerou.
2010 será na sua opinião um ano dificílimo e decisivo, porque o Senado dos Estados Unidos irá aprovar uma nova lei da energia e do clima, "que vai ser uma carta para a política externa nesta matéria", e porque há um conjunto de fricções e tensões entre Washington e Pequim, designadamente quanto aos mecanismos de monitorização, que terão de ser superados.
"O acordo vinculativo de que o mundo precisa só deverá acontecer dentro de um ano, no México, na COP16 marcada para Dezembro", concluiu.
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