O stress crónico afecta a tomada de decisões em humanos, levando-os a basear-se mais no hábito do que em objectivos, segundo um novo estudo de um investigador português que já antes o demonstrara em ratinhos.
Nuno Sousa, que em Julho passado publicou na revista Science um trabalho em que apresentava essa conclusão a partir de experiências com modelos animais, disse à Lusa, à margem do primeiro simpósio Harvard Medical School - Portugal, que a mesma se aplica a humanos.
Segundo este investigador e docente de 41 anos - director do curso de Medicina da Escola de Ciências de Saúde da Universidade do Minho - a exposição ao stress crónico activa mais no cérebro o circuito neuronal implicado em comportamentos habituais e menos o implicado em comportamentos orientados por objectivos, o que é fundamental nos processos de decisão.
"Indivíduos debaixo de stress crónico tendencialmente tomam decisões mais baseadas em hábitos do que os que não estão sob stress", afirmou a propósito deste seu último trabalho, "absolutamente novo e ainda não publicado", no qual mostra ser isso verdade tanto para modelos animais como para estudos humanos.
Na sua comunicação no simpósio de dois dias que decorreu esta semana no Centro Cultural de Belém, destinado a mostrar os mais recentes avanços em várias áreas da Medicina, Nuno Sousa falou também de outras duas das suas linhas de investigação, ambas relacionadas com a formação do hipocampo, uma área do cérebro muito implicada em processos de memória e de aprendizagem.
Numa delas, afirmou, "verificámos que contrariamente ao que era antes dado como certo, a exposição prolongada a stress crónico não induz morte neuronal, mas uma atrofia dos neurónios e uma perda de contacto sináptico entre as células neuronais", que se traduz, do ponto de vista comportamental, numa perda de capacidades cognitivas, quer em estudos animais, quer humanos.
A boa notícia, segundo Nuno Sousa, é que esses défices na formação do hipocampo são reversíveis, uma vez que não há perda de neurónios, mas em vez disso uma perda de contacto sináptico que pode ser reparada com estratégias farmacológicas, comportamentais ou eventualmente com o tempo.
A outra área de estudo que apresentou relaciona-se com os mecanismos neurobiológicos da depressão e com a hipótese, errada na sua perspectiva, de que em sujeitos expostos a stress, um indutor da depressão, existiria diminuição do número de células que proliferam na formação do hipocampo.
"Realmente, os antidepresivos têm a capacidade de aumentar o número de células que proliferam e sobrevivem, mas não é através desse mecanismo que a sua acção ocorre, mas aparentemente através de mecanismos de contacto entre os neurónios, ou seja da plasticidade sináptica", afirmou.
Sobre o programa Harvard Medical School - Portugal, Nuno Sousa considera-o "uma excelente iniciativa" por abrir "uma importante janela de oportunidade" para as escolas médicas e os institutos de investigação portugueses a elas ligados de poderem trabalhar em conjunto com uma instituição prestigiada a nível mundial.
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