O português residente na Suíça demitido após denunciar um caso de pedofilia na rádio onde trabalhava ameaçou hoje pedir esmola em frente à empresa se ficar sem dinheiro para sustentar a família.
"Quando não tiver dinheiro para dar de comer à minha família, vou pedir esmola em frente à rádio porque é inadmissível ter denunciado um caso de pedofilia, quererem dar-me dinheiro para eu me calar e não reconhecerem o meu trabalho", disse Jorge Resende à Agência Lusa.
Despedido em 2007 na sequência da denúncia, o emigrante português esteve até Novembro a receber um subsídio do Governo suíço no valor de 80 por cento do seu salário na rádio (cerca de 62 mil euros por ano).
O direito a usufruir desse subsídio terminou a 30 de Novembro, pelo que a família Resende vai agora usufruir de uma ajuda social semelhante ao Rendimento Social de Inserção português.
"Essa ajuda, de 1.123 euros, é inferior ao que pago de renda de casa (1.189 euros). Ainda por cima, vão tirar-nos o abono de família", lamentou.
Português recusou 300 mil euros para calar o assunto
Com mulher e três filhas de 21, 19 e 13 anos ao seu encargo, Jorge Resende garantiu "não estar arrependido" de ter recusado os mais de 300 mil euros que a rádio lhe ofereceu para "esquecer" o assunto.
"Aceitar esse dinheiro era como voltar aos meus sete anos (quando foi vítima de violação). Era impossível poder viver com a minha consciência", sublinhou à Lusa.
De passagem por Lisboa, o português disse pretender apenas que o seu trabalho na rádio seja reconhecido e deposita agora esperanças no novo director da estação, que vai assumir o cargo em Janeiro.
"Já não há condições para voltar à rádio, por isso, só quero o reconhecimento do meu trabalho. Espero que o novo director tenha abertura para falarmos com respeito e para resolvermos esta questão", afirmou o emigrante, que já fez uma greve de fome.
A passar por uma depressão profunda, Jorge Resende acredita que quando o problema estiver resolvido, juntamente com os processos que tem a decorrer em tribunal, terá "forças para recomeçar a viver" e iniciar uma luta por "uma melhor protecção das pessoas que denunciam casos polémicos".
Alterar uma lei do condado de Vaud que diz que as pessoas não são obrigadas a denunciar casos de pedofilia e criar estruturas dentro de empresas para proteger as pessoas que fazem denúncias são alguns dos seus objectivos.
Emigrante há 18 anos, Jorge Resende trabalhava como administrador de sistemas informáticos na Rádio Suisse Romande (RSR), uma das principais rádios helvéticas, quando em 2005 descobriu ficheiros de carácter pedófilo no sistema de um quadro da empresa, tendo sido demitido após ter denunciado o caso e ajudado a polícia nas investigações.
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