Luís Oliveira, advogado, estava de férias com a mulher e o filho em Phuket, na Tailândia, e preparava-se para encontrar uns amigos na praia. Eram 08:30 e estava atrasado.
Só quando saiu do hotel se apercebeu da confusão, com gente a correr de um lado para o outro junto à praia de Karon, que tinha acabado de ser fustigada por uma onda gigante.
Regressado ao hotel “situado numa zona alta” e por isso, naquela altura, protegida, Luís Oliveira ajudou dezenas de pessoas no hospital de campanha improvisado, ao mesmo tempo que procurava os amigos que, afinal, também se tinham atrasado.
Uma amiga ainda foi colhida pela onda, mas, "felizmente, não sofreu lesões graves”, conta hoje o português.
“Entre fugas para zonas ainda mais altas, porque diziam que o pior estava para vir, foi só ao fim da manhã que começaram a surgir as primeiras notícias na televisão e só aí nos apercebemos de que a catástrofe tinha uma escala asiática”, recorda.
“Foi, então, tempo de ajudar", diz o advogado, e, quando prestava auxílio "aos que haviam sofrido severamente o embate”no norte da ilha de Phuket, em Kao Lac, a família de Luís Oliveira acolheu Mónica Ribeiro, cujos pais não resistiram ao tsunami, até à chegada à Tailândia de um tio da rapariga, dois dias depois.
Um ano depois da catástrofe, Luís Oliveira regressou à Tailândia com a família para homenagear “quem lá ficou”, referindo-se aos mortos.
Quando o tsunami varreu o Índico, Irina Carvalho estava de férias nas ilhas Phiphi, também na Tailândia, com o marido, enquanto o irmão se encontrava em Khao Lak com a mulher e a filha, Mafalda, que morreu no desastre.
Um passeio de barco decidido à última hora colocou Irina e António no meio do mar, e à medida que se reaproximaram da terra começaram a ter a percepção da tragédia.
“Foi tudo muito rápido, desde encontrarmos uma jovem no meio do mar que tinha estado a fazer snorkling e subitamente tinha sido puxada por uma corrente forte desde a costa de uma das ilhas, até um homem que tinha simplesmente perdido a família inteira a uma criança que não sabia dos pais”, recorda Irina.
Apreensivo com a situação da família noutro ponto da Tailândia, o casal resolve ir para Khao Lak, onde encontrou um “verdadeiro cenário de Guerra”
Os meses seguintes foram passado entre o emprego em Macau e contactos com as agências criadas pelos locais para identificar vítimas do tsunami.
A sobrinha Mafalda foi identificada quase cinco meses depois.
“Nunca tinha visto nada assim. São imagens que permanecem para sempre comigo. Lembro-me de ter visto uma fragata da marinha no meio da costa que tinha sido puxado pelo mar pelo menos uns quinhentos metros. Khao Lak estará para mim sempre associada a um momento muito difícil da minha vida, não só pelo sofrimento pessoal, mas também pelo peso que teve na história da humanidade em termos de desastres naturais”, dia Irina.
A 26 de Dezembro, as famílias de portugueses em Macau que perderam pessoas próximas na Tailândia deverão manter-se recolhidas e não estão previstas quaisquer cerimónias públicas.
Além dos pais de Mónica Ribeiro e de Mafalda, morreram mais dois portugueses residentes em Macau no tsunami.
Foto: Arquivos LW
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