O escritor e poeta cabo-verdiano Luís Romano, 87 anos, morreu segunda-feira no Brasil vítima de doença prolongada, noticia hoje o jornal brasileiro Tribuna do Norte.
Contemporâneo de Mário Soares e de Manuel Alegre nos tempos de Argel, o também investigador e antigo dirigente do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), era natural da ilha de Santo Antão, onde nasceu a 10 de Junho de 1922, e tinha fixado residência no Brasil desde 1962.
A 8 de Julho de 2009, a imprensa brasileira, citando um amigo do escritor, noticiou a morte de Luís Romano de Madeira Melo, informação que viria a ser desmentida uma semana mais tarde pela família.
Na ocasião, Luís Romano fora internado num hospital do Natal (nordeste do Brasil) e a gravidade do seu estado levou à suposição da sua morte, notícia que circulou depois pelos jornais brasileiros e cabo-verdianos.
Na semana passada, a família e o escritor brasileiro Sanderson Negreiros, amigo de Luís Romano, confirmaram a morte do poeta cabo-verdiano, cuja doença, um cancro, já levara à amputação de uma perna.
“Luís Romano estava muito doente. Já tinha amputado uma perna decorrente de complicações de saúde. Foi o único escritor de renome internacional que o Natal já recebeu. Mas infelizmente estava esquecido por aqui”, lamentou Sanderson Negreiros.
Residente no Brasil desde 1962, Luís Romano publicou a maior parte de sua obra no país, com os seus amigos mais próximos, no Brasil e em Cabo Verde, a lembrarem o “espírito batalhador, recheado de boa ironia” e o “poeta, investigador cultural e humanista”.
Em fins da década de 50, Luís Romano aderiu aos ideais da independência, chegando a desempenhar cargos de direcção no PAIGC. Foi perseguido pela PIDE, fugiu para Argel e Paris e exilou-se, depois, no Brasil, onde o também novelista e folclorista viveu à custa de uma modesta pensão vitalícia do Estado cabo-verdiano desde que o país acedeu à independência, em 1975.
Vladimir Cruz, filho de B.Lèza, um dos mais importantes vultos da música cabo-verdiana, disse que Luís Romano, que conheceu de perto, tinha um “espírito batalhador e recheado de boa ironia”, fruto de uma paixão pela vida que o “levou a ser poeta, investigador cultural e grande humanista”.
Antes de falecer, Luís Romano deixou um último livro sobre a escrita e a personalidade de outro conterrâneo, Januário Leite, editado no Brasil, país, aliás, onde editou a maioria das suas obras.
Embora Luís Romano tivesse uma pensão vitalícia paga pelo Estado cabo-verdiano, faltava-lhe ainda o reconhecimento da sua obra e das suas qualidades intocáveis como ser humano, acrescentou Vladimir Cruz.
Jorge Martins, fotógrafo cabo-verdiano residente em Portugal, primo de Luís Romano, recorda a homenagem que foi feita ao poeta/escritor pela organização não governamental “Etnia”, no Brasil, em 2007.
Luís Romano de Madeira Melo, que deixou muitas obras por publicar, editou vários livros de contos, poesia e novelas em Português, Crioulo e Francês.
“Famintos” (1962), novela em Português, “Clima” (1963), poemas em Português, Crioulo e Francês, “Cabo Verde – Renascença de uma Civilização no Atlântico Médio” (1967), colectânea de poemas e de contos, “Negrume/Lzimparin” (1973), colectânea de contos, “Ilha - Contos da Europáfrica e da Brasilamérica” (1991), são algumas das obras que publicou.
Presidente, governo e escritores lamentam morte do poeta
O presidente, governo e autores de Cabo Verde lamentaram hoje a morte do escritor cabo-verdiano Luís Romano, com Pedro Pires a destacar “um dos homens que melhor souberam traduzir o drama de um povo em luta permanente pela sobrevivência”
Também historiador e um dos primeiros a aderia à causa independentista, em fins da década de 50, Luís Romano de Madeira Melo, natural de Ponta do Sol, na ilha de Santo Antão, onde nascera há 87 anos, faleceu na segunda-feira no Brasil, vítima de cancro, noticiou hoje o jornal brasileiro Tribuna do Norte, publicado no Natal (nordeste).
Censurado e perseguido pela PIDE, Luís Romano, contemporâneo de Mário Soares e de Manuel Alegre nos tempos de Argel, exilou-se no Brasil em 1962, onde residia desde então.
Numa mensagem de condolências enviada à família, Pedro Pires destaca o legado literário de Luís Romano, escritor que, disse, “ficará guardado na memória dos cabo-verdianos como um dos que melhor souberam traduzir o drama de um povo em luta permanente para a sua sobrevivência”.
“Seja através das suas obras literárias, como da sua acção política militante, Luís Romano participou e certamente inspirou muitos outros integrantes da gesta libertadora que conduziu à Independência Nacional e que, teimosamente, continua a alimentar a confiança dos cabo-verdianos no seu percurso histórico de paz, estabilidade e construção do desenvolvimento e da justiça social”, disse o chefe de Estado.
Por seu lado, o ministro da Cultura cabo-verdiano, Manuel Veiga, disse ter tido conhecimento da morte “com particular comoção e tristeza”, lembrando que Luís Romano era autor de inúmeras obras “de grande repercussão no percurso literário cabo-verdiano” (desde a fase Claridosa, de contestação e reivindicação).
Destacando que ficam marcadas na historiografia artística e literária do país obras como “Famintos” e “Clima e Ilha”, Manuel Veiga lembrou Luís Romano como “o artista que partiu sem nunca deixar de escrever sobre a sua terra e a sua gente, “partindo querendo ficar”.
A escritora Vera Duarte, que teve uma relação muito “amiga” com Luís Romano, lamentou também a perda e disse sentir-se “profundamente tocada com o desaparecimento físico do amigo”.
O presidente da Associação Escritores de Cabo Verde, Corsino Fortes, seu contemporâneo, lembrou o homem que, apesar da idade, tinha uma “memória jovem”.
“Cabo Verde é feliz por ter um filho como Luís Romano. Um escritor que deixou obras importantes para a história do país. Temos na nossa posse algumas obras que nos foram remetidas pelo escritor para serem publicadas”, disse.
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