quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Catástrofe na Madeira é a pior dos últimos cem anos

O cenário é caótico. Aos 42 mortos confirmados, um dos quais inglês, há suspeitas de que haja mais vítimas nos parques de estacionamento dos centros comerciais. Há ainda 32 desaparecidos e 370 desalojados, segundo as estimativas oficiais. Cavaco Silva está hoje em visita oficial ao arquipélago. Esta é já considerada a maior catástrofe natural na região nos últimos 100 anos

Cenário lunar naquela que até há poucos dias era considerada a "Pérola do Atlântico" Foto: Lusa

O caos, a dor e a desolação tomaram conta da "pérola do Atlântico". A ilha das estrelicias, dos antúrios vermelhos, das bananeiras, do Lido, da marina com o famoso "bar dos Beatles", não passa agora de uma imensa pedreira, suja, lamacenta. Tragédia natural para uns, mão de Deus para outros, agora é hora de arregaçar as mangas e deitar mão a tudo o que ajude à limpeza da cidade. O Funchal foi a zona mais atingida pelo aluvião que se abateu no passado sábado sobre a Madeira. Apesar da tragédia, a mensagem oficial do Governo regional é só uma: não assustar o turismo. "A hotelaria da Madeira não foi afectada pelo temporal e mantém todas as condições de funcionamento com segurança. Os estabelecimentos hoteleiros, na sua generalidade, estão operacionais e segundo os contactos efectuados pelos nossos serviços, não foram reportadas dificuldades nem problemas a destacar", garante a secretária regional dos Transportes e Turismo, Conceição Estudante, citada pelo Público. O governo regional estima em cerca de 17 mil os turistas actualmente na Madeira. Alberto João Jardim considera mesmo que para os madeirenses e para a economia regional seria uma "calamidade decretar o estado de calamidade", avançando que quer "fazer já a Festa da Flor". Em entrevista à RTP, o presidente do Governo Regional da Madeira afirmou que "numa terra como esta seria uma calamidade decretar o estado de calamidade", lembrando que a Madeira vive do turismo. "Quero fazer já a Festa da Flor no mês de Abril", acrescentou o governante. "Eu não posso destruir um mercado que é a nossa sobrevivência", explicou ainda, por entender que declarar o estado de calamidade iria "afectar as pessoas da Madeira por via da sua economia ser afectada". Três dias depois do desastre natural, as equipas de socorro continuavam ontem as operações para retirar o entulho e água dos parques de estacionamento de três centros comerciais do Funchal, onde poderão estar mais vítimas do temporal O esvaziamento das caves que servem de parque de estacionamento dos centros comerciais Anadia, Oudinot e Dolce Vita é uma operação que envolve bombeiros, equipas cinotécnicas e de mergulhadores da Marinha. Os trabalhos de remoção de entulhos e pedras de estradas continuam também na baixa do Funchal e nos concelhos da Ribeira Brava e Ponta do Sol. As máquinas realizam trabalhos de recuperação de modo a repor a normalidade, designadamente no que diz respeito às acessibilidades na baixa da cidade do Funchal e no concelho da Ribeira Brava, onde persistem dificuldades de acesso aos sítios da Serra de Água, da Furna, da Murteira e do Pomar da Rocha. Por desvendar continua a existência ou não de cadáveres entre a lama e pedras que transbordaram das três ribeiras que percorrem a cidade do Funchal e no parque de estacionamento do Centro Comercial Anadia, perto do Mercado dos Lavradores, inundado pelas águas lamacentas do ribeirinho e da ribeira de Santa Luzia. "Em princípio há essa hipótese, mas até agora ainda ninguém disse ter o seu familiar ou conhecido nos parques de estacionamento. Neste momento, admito tudo", disse o Presidente do Governo Regional à RTP. A força das águas que sábado destruiu a ilha da Madeira, deixando centenas de pessoas desalojadas, poderá ter atirado pessoas "de diferentes pontos da ilha" para o mar. "Neste momento admito tudo", repetiu o responsável, apontando a hipótese de algumas pessoas terem sido "levadas nas enxurradas". "De uma maneira geral, foram arrastadas para o mar e será muito difícil resgatá-las", frisou.

NÚMERO DE VÍTIMAS

MORTAIS PODE AUMENTAR

Além das 32 pessoas desaparecidas e dos 42 mortos, o vice-presidente do Governo Regional da Madeira, Cunha e Silva, anunciou ainda que o temporal deixou 370 pessoas desalojadas. No entanto, Alberto João Jardim contestou o número, considerando que existem apenas "26 famílias desalojadas". "Houve pessoas que, por pânico legítimo ou outra razão, fugiram de casa. Algumas já regressaram e outras, por medo que a sua casa esteja em risco, não voltaram para lá. Mas, se for possível mandar [as pessoas] para as suas casas elas vão regressar", explicou o presidente regional, defendendo que "desalojados são aqueles que perderam as suas casas Durante a entrevista à RTP, Alberto João Jardim disse recear que ao número de vítimas mortais já confirmadas se possam vir a juntar os mais de 32 desaparecidos. "Nós estamos ainda a trabalhar em escombros. O meu receio é que os 30 desaparecidos se venham a transformar em vidas perdidas", disse o presidente do Governo Regional da Madeira. Na segunda-feira viveram-se outra vez momentos de pânico na ilha: no Funchal circulavam informações sobre uma iminente evacuação da população face a um agravamento das condições meteorológicas nos próximos dias. O boato foi prontamente desmentido pelas autoridades regionais. No sítio das Murteiras, na Ribeira Brava, 50 pessoas foram obrigadas a abandonar as suas residências devido à ameaça de um deslizamento de terras. Na Ponta do Sol, o presidente da Câmara mandou evacuar a zona mais baixa da localidade. Entretanto o presidente da Câmara da Ribeira Brava lançou um apelo para que os comerciantes reabrissem os seus estabelecimentos na baixa da Ribeira Brava. Só neste concelho foram realojadas 120 pessoas e no Funchal 250. As comunicações via telefone ou telemóvel continuam difíceis na ilha e o reabastecimento de água potável e da energia eléctrica também. Problemas que ainda afectam sobretudo parte do Curral das Freiras, da Ribeira Brava e a baixa do Funchal. O aeroporto da Madeira esteve encerrado no sábado praticamente todo o dia, mas agora está operacional. O Porto do Funchal também está operacional, e os transportes públicos na cidade do Funchal estão a ser restabelecidos progressivamente.

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