
Nos anos 1960, o Governo luxemburguês tenta fixar a mão-de-obra italiana, procura atrair a espanhola, antes de recorrer à imigração portuguesa. Porquê? Porque o modelo conjuntural imigratório não corresponde aos desafios do mercado. Para fixar os seus imigrantes é necessário um novo modelo estrutural, sem que isto implique o melting pot norte-americano, ou o patchwork canadiano, como modelos de integração e multiculturalismo. Por sua vez, a industrialização da Itália e de Espanha absorve parte da sua mão-de-obra e-/i/-migrante, o que não se verifica em Portugal continental, com os desmobilizados do Ultramar, pessoas que encontram na emigração respostas para o seu problema económico e existencial, que o regime do Estado Novo procura controlar e reverter a seu favor, captando as suas remessas e mantendo fora, ocupada, esta população activa que pode dar voz aos problemas internos e externos do regime.
Vagas migratórias? A dos anos 1960, de camponeses das regiões do Norte e Centro; mão-de-obra com pouca, ou nenhuma escolarida§1de, no caso das mulheres; a dos anos 1970, que agrupa estratos de regiões urbanas, com a escolaridade primária, cursos técnico-profissionais (metalúrgicos, torneiros, soldadores, electricistas, mecânicos) e percursos fabris; a dos anos 1980 constitui um novo tipo de migração – a dos funcionários das instituições europeias, com a adesão de Portugal à CEE, em 1986; nos anos 1990 e seguintes, a imigração de jovens com formação superior, quadros liberais, advogados, professores, que, no contexto da crise, em Portugal, procuram respostas, tirando partido do espaço Schengen, do alargamento da UE-27, da globalização, na perspectiva da internacionalização das suas carreiras, por vezes, no âmbito de programas europeus – Erasmus, Voluntariado Europeu. Excepções? Há percursos atípicos, como o de José de Lancaster e Távora, engenheiro, a estagiar no grupo ARBED, em 1928, para integrar os quadros, no Brasil; de Jaime Belmans Corrêa Baião, cujo pai emigra para Antuérpia, nos anos 1936-1937, para gerir a agência da Companhia Colonial de Navegação portuguesa; ou de Arménio Rodrigues, a quem, em 1972, a empresa "De Schriver" presta homenagem pelos 10 anos ao seu serviço e oferece-lhe um "relógio de ouro" (ver: Contacto, Ano III, Dez. 1972: 2).
Mais homens do que mulheres e crianças?
Até meados dos anos 1970, a imigração portuguesa é tipicamente masculina; a partir de 1972 é permitido o reagrupamento. Por conseguinte, desde meados dos anos 1970, a imigração feminina tende a superar a masculina, o que reforça a tese do reagrupamento familiar. Torna-se um fenómeno transversal – dos campos, às vilas e cidades; todos os estratos – ao longo de várias gerações, o que nos leva a questionar a imagem do emigrante là-bas e do imigrante ici ; e por que permanecemos uma sociedade de classes, não formamos uma comunidade no sentido que Alemães e Luxemburgueses dão ao conceito de Gemeinschaft, nem temos esse espírito.
António de Vasconelos Nogueira*
*O autor tem um doutoramento em Filosofia e um pós-doutoramento em História Económica pela Universidade de Aveiro; é especializado na vertente de Estudos Judaicos, diáspora e migração portuguesa. (Rubrica quinzenal; próxima publicação: 17 de Fevereiro).
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