terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Portugal/Face Oculta: "Se alguém invocou o meu nome, fê-lo abusivamente", disse Sócrates em entrevista à SIC

O primeiro ministro português José Sócrates afirmou segunda-feira à noite que, se alguém invocou o seu nome nas escutas referentes à tentativa compra da TVI pela PT, fê-lo de forma "abusiva" e defendeu-se neste caso invocando o despacho do Procurador Geral da República.

As afirmações de Sócrates foram proferidas em entrevista à SIC, na segunda parte do programa "Sinais de Fogo", do jornalista Miguel Sousa Tavares.

Na parte inicial da entrevista, em que se abordaram as escutas realizadas no âmbito do processo "Face Oculta", José Sócrates foi confrontado com as referências feitas ao seu nome pelo ex-administrador da PT Rui Pedro Soares e pelo advogado Paulo Penedos.

"Se alguém invocou o meu nome, fê-lo abusivamente, mas não acredito que isso tenha acontecido. Nunca discuti esse assunto com ninguém, nem nunca deu orientações", respondeu o primeiro ministro.

Perante a insistência neste ponto, José Sócrates respondeu que as referências feitas "ao chefe" nessas escutas a Rui Pedro Soares e Paulo Penedos "devem ser para outras pessoas".

"A mim ninguém me trata por chefe", declarou, antes de assumir que jantou com Rui Pedro Soares "em várias ocasiões", mas que nunca falou com nenhum administrador da PT sobre uma possível compra da TVI.

Neste ponto, o primeiro ministro fez várias alusões ao teor do despacho do Procurador Geral da República, Pinto Monteiro, sobre a sua eventual ligação à operação de compra da TVI pela PT.

"O procurador Geral da República, que ouviu todas as conversas, tem duas conclusões: nunca o primeiro ministro sugeriu, apoiou ou incentivou qualquer negócio entre a PT e a TVI; para desconforto e deceção de muitos, dizia também que nas minhas conversas [com o vice-presidente do BCP] Armando Vara nunca o negócio da PT com a Prisa foi referido", apontou.

Em relação às escutas no âmbito do processo "Face Oculta, o primeiro ministro frisou que já foram avaliadas "por quem de direito" e "foram consideradas sem qualquer tipo de relevância".

"A partir desta conclusão, o dever do Estado é proteger essas escutas e devolvê-las às pessoas. É assim que são os Estados de Direito. Não devem servir para adversários políticos fazerem ataques pessoais", acrescentou.

A PJ desencadeou a 28 de outubro de 2009 a operação Face Oculta em vários pontos do país, no âmbito de uma investigação relacionada com alegados casos de corrupção ligados a empresas privadas e do sector empresarial do Estado.

No decurso da operação, pelo menos 18 pessoas foram constituídas arguidas, incluindo Armando Vara, vice-presidente do BCP, que suspendeu funções.

Segundo o PGR, o primeiro ministro apareceu em 11 escutas feitas a Armando Vara no âmbito do processo. O PGR considerou que nessas escutas "não existiam indícios probatórios que levassem à instauração de procedimento criminal", tendo também o Supremo Tribunal de Justiça decretado a sua nulidade e ordenado a sua destruição.

Sócrates considera "infame" a ideia que Figo deu apoio ao PS a troco de um contrato

O primeiro ministro considerou ainda uma "infâmia" e uma "ignomínia" dizer-se que Luís Figo apoiou o PS nas eleições legislativas a troco de favores e afirmou desconhecer o contrato celebrado entre a Taguspark e este antigo futebolista.

Na entrevista, Sousa Tavares confrontou Sócrates com o contrato publicitário celebrado entre a Taguspark e este jogador no valor de 750 mil euros em três anos, interrogando-o se havia alguma ligação com o apoio público manifestado por Luís Figo ao PS nas últimas eleições legislativas.

"Recuso essa interpretação e considero-a uma ignomínia. O apoio que o Luís Figo deu ao PS e a mim próprio foi livre, generoso e independente de qualquer contrato, que aliás desconhecia", respondeu o primeiro ministro.

Sócrates disse depois que Luís Figo deu em junho uma entrevista ao Diário Económico elogiando o Governo, facto que levou o PS a entrar em contacto com este antigo internacional do futebol português.

"Luís Figo sugeriu que estava disponível para se encontrar comigo para sinalizar o seu apoio ao Governo e a mim próprio. Acho uma infâmia essa insinuação de que deu o apoio político a troco de qualquer favor", frisou o secretário geral do PS.

Confrontado com o facto de este contrato entre Figo e a Taguspark estar a ser investigado pela justiça, Sócrates respondeu que "a justiça investiga tudo e até os maiores insultos, porque tem o dever de o fazer".

Sobre o facto de Figo ter dado o seu apoio ao PS no mesmo dia em que celebrou o contrato com a Taguspark, Sócrates defendeu que, "se isso aconteceu, não há nenhuma razão para ligar as duas coisas".

"Não conheço o contrato, nem sabia dele", acrescentou.

Para o líder socialista, "não passa de uma ignomínia insinuar-se que Luís Figo celebrou um contrato publicitário para pagar um favor político".

"Falo do que conheço, porque conheço o PS e eu dirigi essa campanha [das legislativas}", frisou o secretário geral do PS.

O semanário Sol noticiou na semana passada, com base em escutas telefónicas no âmbito do processo Face Oculta, que a PT e a Taguspark teriam dado contrapartidas, por intermédio do ex-administrador Rui Pedro Soares, ao ex-futebolista Luís Figo para este apoiar a campanha de José Sócrates a primeiro ministro, nas legislativas de setembro.

Em reação a notícias anteriores, Luís Figo já tinha negado ter recebido qualquer quantia para apoiar publicamente o atual primeiro ministro.

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