Histórias (Geschichten) extraordinárias de mundos imaginários, histórias de quadradinhos que fizeram parte da nossa infância (Kandheet) e da nossa juventude (Jugend) , aventuras que continuam a fazer sonhar (dreemen) grandes e pequenos (grouss a kleng) – produto e resultado da imaginação de alguns (e puer) que sonharam o mundo (d’Welt) muito antes de ele acontecer. O escritor (de Schrëftsteller) francês Jules Verne (1828-1905), com os seus romances de antecipação, tais como "As vinte mil léguas submarinas", "A volta ao mundo em 80 dias", ou "Da terra à lua", é o segundo (as den zweeten) autor mais traduzido no mundo (mais de 4.000 traduções), após (no) Agatha Christie, autora de romances policiais – prova bem clara do interesse que este género literário suscita. Mas não é o único (mee hien as net den eenzegen) – já bem antes, outros autores marcaram este género e foi assim que no século XVI o astrónomo alemão Johannes Kepler escreveu a história de uma viagem (eng Rees) a um planeta desconhecido, obra à qual deu no nome de "O sonho". E quem não se lembra (a wien erënnert sech net) do livro "As viagens de Gulliver", do autor inglês Jonathan Swift, obra que data do século XVIII ?
Este tipo de literatura, que se baseia principalmente (haapt- sächlech; besonnesch) na ciência, tanto verdadeira, como imaginada, e que descreve o seu impacto sobre a sociedade (Gesellschaft) ou sobre os indivíduos, foi formalmente reconhecido como "género consciente de si próprio" em 1926, graças ao "génio criativo" de um jovem luxemburguês – Hugo Gernsbacher.
Hugo nasceu em 1884 (ass gebuer am Joer uechzenghonnertvéieranachtzeg) na cidade do Luxemburgo (an der Stadt) , mais exactamente (ganz genau) no bairro de Bonnevoie (zu Bouneweg) , perto do convento que então ali existia. Desde muito jovem (ganz jonk) que se interessou pelas tecnologias que começavam a revolucionar aquela época – a electricidade, o telefone, e todos os materiais de comunicação. O seu fascínio por estas ciências parece ter vindo de uma experiência feita por um empregado do seu pai e à qual ele tinha assistido: um fio ligado a uma bateria fazia tocar uma campainha (eng Schell) . Após os seus estudos técnicos na Alemanha, onde aperfeiçoou um rádio transmissor portátil e vários módulos de uma bateria de alta amperagem, emigra com 20 anos para os Estados Unidos (Vereenegt Staaten) onde (wou) vai simplificar o seu nome de origem, passando então a chamar-se Hugo Gernsback.
Em 1904 cria uma sociedade de importação de material eléctrico e quatro anos depois lança a revista de vulgarização científica "Modern Electrics", bem como uma outra revista para radioamadores (Notícias de rádio). Entretanto (an der Zwëschenzäit) , em 1907 obtém uma patente para a bateria que tinha inventado, patente à qual se vão somar 80 (achtzeg) outras invenções.
Em 1909 funda a associação "América sem fios" que, no espaço de um ano, atinge dez mil membros (zengdausend Memberen) e em 1912 avalia em 400 mil (véierhonnertdausend) o número de pessoas (d’Zuel vun de Leit) que se encontram directamente implicadas na grande aventura do radioamadorismo. Em 1913 lança uma outra (eng aner) revista (Zäitschrëft) , "Experimentações eléctricas" e, de cientista e inventor (Erfanner) , passa a jornalista científico, descrevendo o funcionamento do radar, do microfilme, do controlo meteorológico por meios electrónicos, da estrutura da iluminação fluorescente, etc, etc. E fá-lo-á não só nos inúmeros artigos que publica nas suas diversas revistas, mas também (awer och) no seu mais célebre romance "Ralph 124C41+" – título que tem de ser lido em inglês (muss op Englesch gelies ginn) para poder ser decriptado e que quer dizer (wëllt soen) "um a prever para um mais".
Para (fir) o nosso (eisen) "luxemburguesinho de Bonnevoie", o interesse pela vulgarização das "novas ideias que vão modificar o mundo" ultrapassa o génio do inventor.
Assim, após ter criado em 1925 uma televisão, é em 1926 que lança a célebre revista "Amazing Stories" (na imagem), em que escreve e descreve histórias e aventuras extraordinárias, criando então o termo "science fiction" (ficção científica) – uma expressão à qual ele sobrepunha a uma outra, que preferia, por corresponder melhor aos seus propósitos de vulgarização da ciência: a "cientificção".
Hugo Gernsback faleceu (ass gestuerwen) em 1967, após ter sido condecorado em 1954 pela Grã-Duquesa Carlota do Luxemburgo com o grau de Oficial da Coroa de Carvalho pelos serviços prestados à ciência. Reconhecido como o "pai da ficção científica", é em sua honra que a Convenção Mundial da Ficção Científica atribui anualmente (all Joer) o "Prémio Hugo" para recompensar a melhor obra deste género literário. Em 1960, e como coroamento do seu percurso de vida e da sua obra inovadora, o "Hugo" foi atribuído ao próprio Hugo Gernsback, modesto filho do viticultor Gernsbacher que tinha nascido em Bonnevoie.
Maria Januário
(Rubrica de civilização, cultura e língua luxemburguesas, publicada na segunda e na quarta semana de cada mês; Próxima publicação: a 24 de Março)
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