O realizador Luís Filipe Rocha (à esq.) e o embaixador de Portugal no Luxemburgo, José Pessanha Viegas, durante a sessão inaugural do Festival de Cinema Português Foto: Jorge Rodrigues
Decorre até 18 de Março no Cinema Utopia em Limpertsberg o Festival de Cinema Português organizado pela Embaixada de Portugal e pelo Cinema Utopia, em colaboração com o Centro Cultural Português do Instituto Camões.
O festival foi inaugurado na quarta-feira, dia 3 de Março, com o filme "A outra margem", em presença do realizador Luís Filipe Rocha. Um filme singular, rico em ideias visuais, que aborda com delicadeza a questão da aceitação, por parte da sociedade e dos indivíduos, de seres que são diferentes, que estão na "outra margem", nomeadamente um travesti e um jovem portador de Trissomia 21. Rejeitando a altissonância e a provocação, o filme dá todo o espaço ao jogo dos actores, para que imprimam densidade e emoção às personagens. A narração concentra-se nas situações comuns da vida, nas quais todos os espectadores se podem projectar e interrogar-se sobre a sua própria atitude. Para além do propósito humanista, o filme é atravessado por um sentimento de indizível melancolia – a maior parte das personagens, com a excepção de Vasco, o adolescente com Síndrome de Down, têm de lidar com a solidão e a incomunicabilidade. Face à dureza da realidade, a arte e a representação surgem como um dos únicos escapes e confortos. Uma temática que o realizador confirmou em conversa com o CONTACTO. "O tema da solidão, independentemente de quem somos, de onde vimos, e para onde pensamos que vamos, permeia todos os meus filmes. Estamos e estaremos sempre sós perante as grandes dores, os grandes enigmas, os grandes mistérios da existência. Há afectos, há aproximações, amizades, amores, pais e filhos, amantes, mas há sempre, na história da vida humana, uma solidão inultrapassável, que tem a ver com o nosso destino enquanto seres humanos."
Sucesso do público necessário para a perenização
O impulsionador deste novo festival, o embaixador de Portugal no Luxemburgo, José Pessanha Viegas, não deixou de agradecer as mostras de filmes portugueses que tiveram lugar no passado, em 1992, 1997 e 2001.
Ao CONTACTO, o embaixador cinéfilo explicou que o objectivo do festival é duplo: interessar o público e perenizar-se, tornando-se um acontecimento que se repete de ano para ano. "Aliás, vamos já tentar marcar com o Utopia as datas para a próxima edição", antecipou.
E claro que ajudará muito à perenização do festival o facto de as salas estarem cheias.
Os critérios de selecção do programa foram a qualidade dos filmes, o facto de serem recentes e também cativantes para o grande público, quer português, quer de outras nacionalidades.
Esta é a razão pela qual este primeiro cartaz não conta com nenhuma das obras recentes de Manoel de Oliveira, que, conforme se sabe, é o realizador mais velho do mundo em actividade, com 101 anos. "Os filmes de Manoel de Oliveira são muito conhecidos internacionalmente, mas às vezes são relativamente difíceis e exigentes. Optámos por não arriscar num cinema intelectual, pelo menos este ano. Escolhemos filmes que, sem serem comerciais no mau sentido da palavra, pudessem captar a atenção e o interesse do grande público. Porque um festival destes só é um êxito se o público aderir."
Texto e fotos: Jorge Rodrigues
____________________________________________
Filmes que ainda pode ver até 18 de Março, no Ciné Utopia:
- "Call Girl" (2007), de António-Pedro Vasconcelos: 18 de Março, 21h
- "O milagre segundo Salomé" (2004), de Mário Barroso: 14 de Março, 21h30
- "Kiss Me" (2004), de António da Cunha Telles: 13 de Março, 16h30
- "A Balada da Praia dos Cães" (1986), de José Fonseca e Costa: 12 de Março, 21h30 / 17 de Março, 19h
Sem comentários:
Enviar um comentário