A Guiné-Bissau também tem alguns dos seus filhos no Grão-Ducado. Trata-se de uma imigração, que parece seguir maioritariamente o mesmo périplo de outras provenientes das ex-colónias portuguesas africanas: partem de África até Portugal e de lá seguem rumo, já com a nacionalidade portuguesa, até outros países europeus, como o Luxemburgo.
Segundo números oficiais fornecidos pelo Sesopi-Centro Intercomunitário baseados nos números oficiais do Registo Geral de Pessoas Fisicas do Estado, existem 62 individuos de nacionalidade guineense que vivem actualmente no Luxemburgo. No entanto, e essa continua a ser a grande dificuldade para se apurar os verdadeiros números da comunidade, muitos guineenses chegam ao Grão-Ducado como portugueses, apesar de se assumirem como guineenses “de corpo e alma” e de desenvolverem no Luxemburgo uma atitude de acordo com o país africano.
Mesmo a Embaixada da Guiné-Bissau em Bruxelas, contactada pelo CONTACTO, não sabe dar números oficiais relativamente ao número de guineenses no Luxemburgo, apesar de tratar de todos os papéis administrativos dos guineenses emigrados.
Abel Sequeira, português de origem guineense e actual treinador-adjunto do Sporting de Steinfort, chegou ao Luxemburgo vindo de Portugal há 26 anos (1984) numa altura em que não havia “guineenses no Luxemburgo, apenas uma grande comunidade portuguesa e, a nível de africanos, uma já significativa de origem cabo-verdiana”, conta.
Nessa altura, “trabalho não faltava e as condições de acolhimento no Luxemburgo eram boas, sem grandes barreiras”.
Realidade que acaba por tropeçar com esta nova imigração de guineenses que se começou a instalar no Grão-Ducado há cerca ce 14 anos (meados dos anos 90), realçando-se mais uma vez, vinda maioritariamente de Portugal, segundo apurou o CONTACTO durante a presente reportagem. A língua, a habitação, mas também as dificuldades do sistema de ensino luxemburguês, são algumas das dificuldades apontadas pelos membros da comunidade com quem o CONTACTO falou, alguns preferindo guardar o anonimato.
Diariamente, muitos jovens de origem guineense apanham o comboio para passar a fronteira belga para que possam seguir os seus estudos em língua francesa, visto que no Luxemburgo torna-se complicado com o sistema de ensino actual”, diz Maria Gomes, a jovem presidente da Associação Luso-guineense Bissau-Lanta no Luxemburgo.
Junta-se igualmente a tradicional questão das condições da habitação, que “infelizmente, na maior parte das vezes, é muito cara relativamente à qualidade e as condições oferecidas minimas para se viver dignamente”, afirma a jovem.
Para muitos jovens, a vontade começa a ser de se fixarem no Luxemburgo, sem a ambição de voltar para a Guiné, país que muitos deles nem conhecem. No entanto, há ainda uma franja de jovens, como é o caso da Maria Gomes, que vêem o Luxemburgo como um local de passagem, “onde obterão todo o tipo de formação e experiência para que possam voltar, o mais depressa possível, para a Guiné onde poderão ajudar o país do coração, com esses mesmos conhecimentos, a afirmar-se cada vez mais”, afirma a jovem.
Associativismo e falta de diálogo
Chegados ao Luxemburgo, os “imigrantes de origem guineense procuram referências do seu país de origem que se revelam importantes para que a integração no país de acolhimento se possa fazer", adianta ainda Maria Gomes (na foto).
Desde há alguns anos, a Associação Luso-Guineense Bissau Lanta no Luxemburgo tenta levar a cabo uma acção associativa, sobretudo com jovens de várias comunidades além da guineense, para que a integração se possa fazer sem entraves, explica-nos a reponsável. No entanto, a falta de um local para a associação assim como a “falta de participação de membros activos”, levam a que apenas um punhado de pessoas participem activamente em acções que vão nesse sentido.
Victor-Hugo Monteiro (na foto) “discorda dos métodos de trabalho” da associação Bissau-Lanta, mas não critica. De origem guineense, criou oficialmente em 2009 com alguns guineenses e angolanos, a Associação dos Angolanos e Guineenses no Luxemburgo, para “reavivar as reivindicações da comunidade relativamente a fraquezas estruturais do Luxemburgo, sobretudo em termos de habitação, ensino e acessibilidades linguísticas, nomeadamente cursos de línguas de francês, o idioma de integração dos guineenses no Luxemburgo”, conta.
Os dois dirigentes associativos rejeitam a palavra “rivalidade”, preferindo a “complementariedade de actividades”. Acreditam igualmente que falta actualmente um serviço associativo, devido a barreiras exteriores, que possa satisfazer todos os pedidos e ambições dos guineenses que chegam ao Luxemburgo. E não descartam a hipótese de unirem esforços e de fusionarem para que possam atingir melhores resultados.
Dentro da comunidade, existe ainda um outro tipo de encontros com requintes associativos, que se reune no café da Dona Fátima, como os guineenses gostam de chamar ao local de encontro no bairro da Gare, e onde se fala da Guiné, dos problemas de cada um, onde se debatem informalmente o dia-à-dia no Luxemburgo e muitas outras coisas à volta de um café ou de uma cerveja.
Chegado muito recentemente ao Luxemburgo, Saido Baldé encontra nessas reuniões um momento para desabafar o que vai bem, mas também o que vai mal.
Não se identifica-se com nenhuma associação de origem guineense que milita no Luxemburgo, preferindo esta forma de discussão mais informal “sem compromissos”.
Dois países, um herói
Também na “Epicerie Créole", em Bonnevoie, cabo-verdianos e guineenses reúnem-se regularmente para debaterem as questões que afectam as duas comunidades”.
Quem o diz é João da Luz, uma referência associativa que participa em pelo menos duas grandes associações caboverdianas. Acrescenta também que a “referência de Amilcar Cabral, homem que liderou as forças que enfrentaram o regime politico português durante a guerra colonial pela libertação de Cabo Verde e da Guiné, aproxima as duas comunidades no Grão-Ducado e permite que a relação, também associativa, seja boa”, explica.
Com a comunidade portuguesa, existem alguns projectos comuns, admitem os dirigentes associativos guineenses, inclusive alguns ligados ao resenceamento dos guineenses que vivem no Luxemburgo, de maneira a que se possa chegar a um número fiável nesse aspecto.
O Centro de Apoio Social e Assocaitivo (CASA), consciente dessa mesma dificuldade, no seguimento de um encontro com a Embaixada da Guiné-Bissau em Bruxelas lançou há cerca de ano e meio a primeira iniciativa para uma acção de pesquisa, juntamente com a Associação Bissau-Lanta, de maneira a que se possam chegar a um número correcto de guineenses que habitam no Luxemburgo.
Mas outras colaborações se seguiram com estas e outras associções, mostrando as aberturas associativas bilaterais entre a comunidade guineense e outras comunidades. Uma atitude de convívio exterior que muitas vezes colide com o ambiente interno da própria comunidade.
Carlos Dias, português de origem guineense que vive no Luxemburgo já há alguns anos, tem a percepção que “falta diálogo, tolerância de uns em relação aos outros dentro da comunidade guineense".
"Uma das razões deve-se à existência de muitas etnias guineenses, que têm por vezes ideias diferentes umas das outras, o que tem prejudicado, e muito, todo o trabalho de integração da nossa comunidade”, explica. Opinião partilhada por muitos outros membros da comunidade com quem o CONTACTO teve a oportunidade de falar. Segundo os mesmos, o movimento associativo tem uma palavra forte a dizer neste sentido e é necessário que se torne uma referência para os guineenses de maneira a que estes se possam reunir em torno de ideias comuns e possam avançar de mãos dadas no sentido da integração.
Texto e fotos: Gualter Veríssimo
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