Três semanas após ter rebentado o escândalo, a Igreja do Luxemburgo anuncia a criação de uma linha de emergência às alegadas vítimas de abusos sexuais no país. A hierarquia da Igreja garante que nunca quis encobrir quaisquer casos, mas foram as famílias que nunca quiseram denunciar os alegados abusos. Mathias Schiltz, vigário-geral do Arcebispado do Luxemburgo, é claro: "Nunca encobrimos quaisquer casos de abusos sexuais praticados por membros da Igreja do Luxemburgo. Logo que tivemos conhecimento de alguns casos, tentámos reagir imediatamente, mas infelizmente as famílias não quiseram denunciar as pessoas que terão abusado dos seus filhos". O vigário-geral vai mais longe: "Dos quinze casos que agora recenseámos, só não tínhamos conhecimento de um, e mais de metade têm que ver com casos de violência física e não sexual". A garantia da hierarquia da Igreja foi dada na passada quinta-feira, durante a apresentação da linha de emergência criada pela diocese do do Luxemburgo para apoiar as alegadas vitimas de abusos sexuais. Já depois ter tido conhecimento de alguns dos casos, o vigário-geral garante que já se encontrou pessoalmente com algumas das alegadas vítimas: "Estou profundamente sensibilizado pelo mal que estes abusos provocaram na vida das pessoas". A maior parte dos casos remontam aos anos 50 e 60. Para tentar minorar os efeitos desta crise, a diocese decidiu criar uma linha de emergência destinada a apoiar as potenciais vítimas de abusos sexuais. As despesas com os eventuais tratamentos prestados às vítimas estarão a cargo da Igreja Católica. A linha funciona todos os dias úteis entre as 9 e as 12 e as 14 e as 17h, através do número 621 14 11 15, ou ainda por e-mail ( hotline@cathol.lu).
ROMA NÃO IMPÔS SILÊNCIO
Mathias Schiltz garante ainda que o Vaticano nunca deu qualquer instrução no sentido de esconder este tipo de comportamentos, e justificou o silêncio das vítimas por causa da pressão social. O vigário-geral da diocese qualifica os abusos sexuais a menores de "terríveis" e muito traumatizantes para as vítimas. Recorde-se que o primeiro caso de alegados abusos sexuais foi denunciado há três semanas nas páginas do matutino "Luxemburger Wort". Na altura, a Igreja Católica decidiu revelar uma carta escrita por um antigo aluno do colégio católico de Jean-Baptiste-de-la-Salle, em Bettange-sur-Mess, na localidade de Dippach. Também o "Tageblatt" revelou alguns dias depois um alegado abuso de um aluno luxemburguês no colégio católico de Sainte-Marie, em Arlon. Os escândalos de abusos sexuais a menores praticados por padres e religiosos católicos estão a assolar a Igreja por todo o lado. Só nas últimas duas semanas, na Áustria, 150 pessoas ligaram para a linha especial e reportaram 174 casos de alegados abusos sexuais na Igreja Católica. Segundo os responsáveis pela linha, 43 % dos casos reportados dizem respeito a violência física, 34 % a agressões sexuais e 23 % a violências morais. A maioria dos factos reportados remontam aos anos 1960 e 1970, mas outros são mais recentes, acrescentou. Desde o início de Março que a Áustria conhece uma vaga de acusações de abusos sexuais e de maus tratos perpetrados a crianças em instituições católicas do país. O cardeal arcebispo de Viena, Christoph Schönborn, reconheceu quarta feira da semana passada a "responsabilidade" da Igreja neste escândalo e nomeou uma representante das vítimas que deverá, segundo ele, levar a cabo um inquérito independente sobre as acusações surgidas a publico. Também na Alemanha, o número elevado de casos vindos a público já levou as autoridades eclesiásticas daquele país a pedir"perdão" às vitimas de abusos sexuais. Em Portugal, D. José Policarpo Cardeal Patriarca de Lisboa, lamentou os "pecados da Igreja": "Senhor, perdoai os pecados da Vossa Igreja", disse. "Estamos aos pés da cruz num momento em que os pecados da Igreja, mesmo os dos sacerdotes, indignam o mundo e ofuscam a imagem do reino de Deus", afirmou na homilia da Paixão do Senhor na Sé Patriarcal, em Lisboa. Apesar de não se referir directamente aos escândalos de pedofilia na Igreja, a mensagem de D. José Policarpo foi clara. O patriarca assumiu a necessidade de compensar "com amor renovado a tristeza provocada pelos pecados da Igreja".
ADVOGADOS BRITÂNICOS PONDERAM INCRIMINAR PAPA BENTO XVI
Mais de 10 mil pessoas já subscreveram uma petição dirigida à página electrónica de Downing Street - residência oficial do primeiro ministro britânico -, em que protestam contra a anunciada visita papal de quatro dias, que custará 15 milhões de libras (16,8 milhões de euros) aos contribuintes britânicos.
Embora Bento XVI não tenha sido acusado de qualquer crime, importantes advogados britânicos estão a avaliar se o Papa tem garantida imunidade como Chefe de Estado e se pode ser acusado segundo o princípio de jurisdição universal pelo suposto encobrimento sistemático dos abusos sexuais envolvendo sacerdotes.
O Papa Bento XVI visita Portugal entre os dias 11 e 14 de Maio, com um programa que inclui deslocações a Lisboa, Fátima e Porto.
Domingos Martins c/Lusa
Foto: Marc Wilwert
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