sábado, 31 de julho de 2010

Luxemburgo: Caritas e "Bridderlech Deelen" ajudam indígenas do Brasil

Bolivar Sinãri e Laudovina Pereira com um tabuleiro que representa a principal produção do povo Xerente, o artesanato em vime e seda. Ambos estão ligados a projectos pelos indígenas no Brasil, em colaboração com instituições luxemburguesas como a "Bridderlech Deelen" ou a Caritas-Luxemburgo Foto: Gualter Veríssimo

A Fundação luxemburguesa "Bridderlech Deelen" (Partilha Fraterna), em colaboração com a Caritas-Luxemburgo, organizaram sábado, na "Mutterhaus der Franziskannerinnen" (Casa dos Franciscanos), na cidade do Luxemburgo, uma conferência sobre os vários projectos humanitários em África e na América Latina que as instituições apoiam.

Vindos do Burundi, Congo, Guatemala, mas também do Brasil, os intervenientes da palestra mostraram aos amigos do Luxemburgo os diferentes projectos humanitários levados a cabo no mundo, muitos deles iniciados há mais de uma década.

Bolivar Sinãri Xerente e Laudovina Pereira, vindos do Brasil, abordaram a situação actual das populações indígenas, não esquecendo todo o enquadramento histórico passado relativo à problemática da legitimidade da ocupação das terras.

Ludovina Pereira, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), leva a cabo um trabalho "pela demarcação dos territórios indígenas no Brasil".

"Enquanto a demarcação legal das terras dos indígenas não for concluída, os povos vivem em constante conflito entre eles mas também com a sociedade envolvente que, devido a interesses económicos, também cobiça os territórios", diz Laudovina. Os apoios que são prestados neste projecto, onde colabora tanto a Caritas-Luxemburgo como a Briddelech Deelen, passam por formações e seminários sobre os direitos legais dos indígenas.

Bolivar Sinãri, indígena do povo Xerente (Estado do Tocantins, Região Norte do Brasil), estudante em Direito na Universidade Federal do Tocantins, vai mais longe e aponta o dedo a Brasília. "O governo brasileiro bloqueia o direito dos indígenas às suas terras", acusa. Vestindo alguns adereços típicos do seu clã, Bolivar falou da evolução a que se assiste no seu povo, nomeadamente ao "papel de decisão e de intervenção da mulher", outrora proibido, hoje esquecido.

Joseph Kalamba, do Congo, e Maggy Barankitse, do Burundi, apresentaram as acções que organizam para que as crianças possam instruir-se. No Congo, a construção de escolas dignas "preenche uma lacuna enorme de que não tive a oportunidade de usufruir enquanto criança", conta Kalamba. No Burundi, onde a terra "é bafejada pela guerra e pela proliferação de crianças-soldados", existe há 17 anos o projecto "Maison Shalom" (Casa da Paz), "onde as crianças que viram morrer os seus familiares na guerra e que são o sangue novo do país, vão à escola e podem até aprender uma profissão", explica Maggy.

Durante a conferência, a assistência pode ainda compreender como Christoph Gempp, um suíço a viver há mais de 15 anos na Guatemala, aí desenvolveu projectos de "educação cultural" visando as mudanças de mentalidade das populações locais, por forma a garantir a sua auto-subsistência através de técnicas agrícolas", contou.

Esta conferência propôs-se sobretudo mostrar que existe uma rede mundial humanitária, com intervenientes dispersos, no sentido de proporcionar uma harmonia social entre os povos dos cinco continentes.

texto e foto: Gualter Veríssimo

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