O número de homicídios no Rio de Janeiro, apenas no primeiro semestre deste ano, supera em mais de duas vezes o número de civis mortos na guerra do Afeganistão no mesmo período.
Os dados são alarmantes e contrastam uma situação de estado de guerra, em que vivem países como o Afeganistão, e registos de violência letal em cidadãos nas grandes cidades em situação de paz.
Segundo dados divulgados pelas Nações Unidas, 1.271 civis morreram no Afeganistão nos primeiros seis meses de 2010.
O que impressiona aos olhos de investigadores e cientistas sociais é que, numa comparação com casos de homicídios no Rio de Janeiro, o número de assassínios registados foi 2.556 de janeiro a junho, de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública do estado.
Em São Paulo, a maior metrópole do Brasil, os números também assustam. Os homicídios no estado paulista somam 2.412, quase 90 por cento maior em relação ao Afeganistão.
Na avaliação da socióloga Jaqueline Muniz, diretora do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime, os casos de situações de guerra como no Iraque ou Afeganistão são “fenómenos e dinâmicas” diferentes.
“Esse contraste do número de civis mortos ajuda a qualificar a magnitude dos números de violência letal. É uma indicação de que os números de violência letal nas grandes capitais brasileiras têm sido altos”, disse à Lusa a especialista em segurança pública da Universidade Cândido Mendes.
“Temos um problema sério para resolver nas grandes cidades latino americanas. Rio de Janeiro, São Paulo e Recife ainda seguem com índices elevados comparado às cifras de outras cidades internacionais”, analisa Muniz.
Segundo a socióloga brasileira, esses números sinalizam a complexidade da segurança pública, o problema das grandes cidades e o desafio para enfrentá-lo.
“Em termos gerais, nas grandes capitais, a criminalidade violenta e letal expõe a mais risco o cidadão comum do que num estado de guerra. A segurança pública é um desafio quotidiano. Já a guerra, em princípio, tem um prazo”, argumenta.
Muniz afirma que as “dimensões de risco e perigos acabam sendo mais incertas” num cenário urbano.
“A população acaba sendo mais exposta à situação de risco letal, por mais que isso pareça paradoxal”, destaca ao argumentar que, mesmo num contexto de guerra, há regras e atores específicos e “a população civil não deveria ser o alvo”.
Contudo, a especialista sustenta que no Rio de Janeiro, a criminalidade urbana, as incertezas e os riscos são diferenciados.
Para reduzir os índices de criminalidade, é preciso uma política específica de segurança, resultado de dinâmicas combinadas, admite Muniz.
“Os patamares no Rio permanecem elevados apesar de haver uma tendência de queda. No Brasil o desafio é imenso, temos problemas crónicos que se arrastam por décadas”, conclui.
Foto: Arquivo LW
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