A presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos acusou hoje o Governo de ter "subestimado" os indícios do descontentamento popular, que hoje degeneraram em confrontos com a polícia, e de não assumir responsabilidades pelo aumento do custo de vida.
Em declarações à agência Lusa desde Maputo, a presidente da Liga Moçambicana dos Direitos Humanos (LDH), Alice Mabota, classificou a situação na capital de "muito difícil", considerando que se está a viver um "autêntico braço de ferro entre a população e o Governo".
Pelo menos seis pessoas morreram e 42 ficaram feridas, quatro das quais em estado grave, nos confrontos entre populares, que iniciaram hoje de manhã um protesto pelos aumentos dos preços dos bens essenciais, e a polícia. Os protestos começaram nos arredores de Maputo, mas estenderam-se ao centro da capital.
Um executivo que "teme em não perceber as origens destes incidentes, que continuam a classificar de greves ou manifestações", acusou Mabota.
"O Governo subestimou a situação e não percebe ou não quer perceber que se trata de um levantamento contra o aumento do custo de vida. O aumento do preço do pão e de outros bens essências não foi a razão deste protesto, apenas a gota de água que entornou o copo, porque o mal-estar já vinha de trás", salientou.
A presidente da LDH destacou que os protestos de hoje foram "mais agressivos" do que aqueles que aconteceram em 2008 e criticou o facto de o Governo moçambicano, no contexto da grave crise internacional, "não ter tomado medidas preventivas para conter a crise".
"Aqui continuava a dizer-se que país estava a crescer, que era pacífico. Mas este tipo de levantamento significa que o descontentamento atingiu um estado que as pessoas acham que já não pode continuar", salientou.
"Em vez de assumir a sua responsabilidade e tentar tomar medidas para minimizar a situação, o Governo fala em vândalos e diz que quer identificar o mentor do protesto, o que não ajuda em nada", lamentou Mabota.
O Governo tem que perceber "as reais causas do levantamento, apelar a calma e informar que estão a tomar medidas, mesmo que não sejam imediatas, para minimizar aquilo que é o quotidiano das pessoas", defendeu.
"Os políticos gostam de dizer que estão preocupados com o combate à pobreza, qual combate qual carapuça, no meio da corrupção e promiscuidade que há em Moçambique", afirmou Mabota, que também criticou a atuação de uma "polícia péssima e arrogante" e o facto de a tutela "fazer de conta que não sabe que estão a ser utilizadas balas verdadeiras".
"É um grupo de gente insensível e arrogante. Insistimos que este ministro do Interior não é o adequado para dirigir a polícia porque não entende nada, é arrogante e violento", acusou.
Mabota lamentou ainda o facto de os moçambicanos não terem "ninguém" que os socorra devido à classificação positiva atribuída internacionalmente a Moçambique. "Quem vai ajudar assim? Pagamos a nossa fatura por causa dos nossos dirigentes e pela comunidade internacional que são apologistas dos mandos do nosso Governo", criticou.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
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