O dissidente cubano Guillermo Farinas, galardoado hoje com o Prémio Sakharov do Parlamento Europeu, realizou em 48 anos de vida 23 greves de fome, a última das quais de 135 dias, sem ingerir alimentos ou água.
O presidente do Parlamento Europeu, Jerzy Buzek, sublinhou ao anunciar o prémio para a Liberdade de Pensamento que Farinhas «estava pronto a sacrificar a sua saúde e a sua vida para conseguir mudanças em Cuba».
Na sua última greve de fome, para conseguir a libertação de 26 presos políticos doentes, Farinas expressou desde o início, a 24 de fevereiro, a vontade de ir “até às últimas consequências”.
Terminou-a a 08 de julho, um dia depois do governo cubano ter anunciado a libertação de 52 presos políticos, entre os quais se encontravam aqueles cuja liberdade exigia. Alguns dias antes, o médico que o acompanhava no hospital tinha informado que o dissidente político corria “risco de vida”.
Guillermo “Coco” Farinas iniciou a greve de fome após a morte de Orlando Zapata Tamayo, de 42 anos, num hospital de Havana, na sequência de um jejum de 85 dias para exigir um tratamento digno na prisão.
Farinhas pretendia que o governo de Havana libertasse os referidos presos políticos, mas admitiu também como objetivos fazer com que o regime pagasse pela morte de Zapata e avisar o mundo de que o governo de Cuba deixa morrer os opositores.
Formado em psicologia, Farinas é diretor da Cubanacan Press – agência cubana de imprensa independente, na Internet, e uma das suas mais longas greves de fome aconteceu em 2006, em defesa do acesso à Internet sem restrições para todos os cubanos.
O seu pai combateu com “Che” Guevara no Congo e Farinas estudou na União Soviética e foi membro das tropas de elite de Fidel Castro, condição em que participou na guerra civil em Angola nos anos 1980, segundo o jornalista cubano Ivan Garcia.
Em 1989, entregou o cartão da União de Jovens Comunistas em protesto pelo fuzilamento do general Arnaldo Ochoa. Depois disso, passou 11 anos e meio na prisão.
“Desde então não me calei e não me vou calar até que morra”, declarou numa entrevista ao El Pais no início de março.
Durante a última greve permitiu a alimentação intravenosa quando esteve internado no hospital de Santa Clara, mas só a perda de consciência o levou ao hospital, onde ultrapassou duas infeções.
Recusou todos os pedidos para abandonar a greve de fome, das autoridades cubanas, da Igreja, de outros dissidentes, assim como o exílio oferecido por Espanha.
Farinas admitiu acabar com a greve de fome em duas ocasiões, no início de abril, na condição de o presidente Raul Castro convocar um referendo sobre os presos políticos (uma proposta de outros dissidentes), e no final de maio, caso o governo libertasse os presos políticos mais doentes (12) e se comprometesse a libertar os restantes.
Quando cumpriu os 100 dias de greve de fome confessou à agência EFE muitas dores de cabeça e nas articulações, mas assinalou que a decisão do jejum foi “correta” e que a mulher, a filha de oito anos e a mãe, embora não concordando, respeitaram a decisão.
“Digo-lhes que na luta pela pátria a família tem de sofrer”, explicou Guillermo Farinas.
Esta é a terceira vez em menos de dez anos que este galardão é atribuído a um indivíduo ou organização contra o regime cubano, depois do opositor Oswaldo Paya Sardinas em 2002 e das Damas de Branco, movimento de familiares de dissidentes, em 2005.
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