quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Euro/crise: Merkel e Sarkozy “não têm visão de futuro”, acusa Mário Soares

O antigo Presidente da República Mário Soares afirmou hoje em Paris que “não há dúvida nenhuma” de que Portugal tem condições para resistir aos ataques dos mercados e que “deve continuar na zona euro”.

Para Mário Soares, “se não se salvar o euro, haverá uma desintegração da Europa”, explicou o antigo chefe de Estado à margem de uma conferência na Escola Nacional de Administração (ENA).

Mário Soares fez a abertura oficial do Ciclo de Altos Estudos Europeus da ENA, de que é patrono, com uma intervenção sobre “Portugal e a Europa”.

O antigo chefe de estado defendeu uma “Europa a duas velocidades” e considerou que Portugal, como membro da zona euro, tem capacidade para continuar no grupo de Estados que avança mais rapidamente para o aprofundamento de uma “Europa política e social”.

“Não tenho grande consideração pelos mercados e espero que os grandes países sejam responsáveis”, afirmou também Mário Soares no final da sua intervenção na ENA.

Para Mário Soares, a chanceler alemã, Angela Merkel, e o Presidente da República francês, Nicolas Sarkozy, “não têm uma visão de futuro” e “têm-se portado como se fossem os patrões da Europa”.

Os grandes países europeus, “incluindo a Alemanha, não perceberam ainda que, a seguir à Grécia e à Irlanda, ou à Espanha e Itália, podem ser eles os atingidos pelo ataque dos mercados”, explicou.

Mário Soares condenou o “capitalismo selvagem, dito de casino, que conduziu o Mundo a uma crise global, a maior desde 1929”, a que a União Europeia “e especialmente a Alemanha, reagiram mal e tardiamente”.

O Tratado de Lisboa “constituiu um simples remendo que está hoje a tornar-se inadaptado, velho e, no plano institucional, uma confusão de órgãos sobrepostos”, afirmou Mário Soares na ENA.

O antigo Presidente da República defendeu por isso uma “clarificação” entre uma Europa “que caminha no desenvolvimento lógico da construção europeia, aprofundando as suas instituições comunitárias com uma política externa e de defesa”, e outra Europa “que se mantém como um mero espaço de comércio livre”.

Mário Soares criticou, nomeadamente, o Reino Unido, “que saiu da EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio) para entrar na CEE (Comunidade Económica Europeia, de que resultou a União) mas em vez de aceitar a CEE fez tudo para que a Comunidade se transformasse numa EFTA em ponto grande”.

Mário Soares criticou, a propósito, o antigo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e da “chamada Terceira Via, ao serviço dos seus amigos americanos e do capital internacional”, ao falar do neoliberalismo e do desaparecimento da democracia cristã e da “colonização ideológica da social-democracia e do socialismo democrático”.

No discurso em Paris, Mário Soares revisitou a história da democracia portuguesa e recordou o seu combate contra o Partido Comunista Português e contra Álvaro Cunhal no pós-25 de abril.

Mário Soares citou a propósito o escritor francês André Malraux, para quem “os socialistas portugueses provaram ao Mundo que os mencheviques também são capazes de vencer os bolcheviques”.

O antigo chefe de estado recusou “comentar em França a campanha das eleições presidenciais portuguesas”.

Foto: Arquivo LW

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